É por isto que você passa tanto frio no seu trabalho

Por , em 5.08.2015

Acontece praticamente todos os dias em todos os escritórios do país (talvez de grande parte do mundo): o ar-condicionado é ligado, as mulheres congelam como picolés e os homens reclamam que elas estão com frescura, porque a temperatura está ótima.

Finalmente, os apelos femininos foram ouvidos. Dois cientistas (homens) estão pedindo um fim à Grande Conspiração do Escritório Ártico.

Um novo estudo publicado na revista Nature Climate Change diz que a maioria dos edifícios de escritório define temperaturas para o ambiente com base em uma fórmula antiga que utiliza as taxas metabólicas dos homens. A taxa das mulheres é diferente, o que resulta em um desconforto gigante.

Bom para as mulheres e para o meio-ambiente

O estudo tem um bom argumento para que os edifícios reduzam o que eles chamam de “viés discriminatório de gênero” quanto ao conforto térmico: a definição de temperaturas em níveis ligeiramente mais quentes pode ajudar a combater o aquecimento global.

“Em muitos edifícios, o consumo de energia é muito maior porque o padrão é calibrado para a produção de calor do corpo dos homens”, diz Boris Kingma, coautor do estudo e biofísico da Universidade de Maastricht Medical Center, na Holanda. “Se você tem uma visão mais precisa da demanda térmica das pessoas, então pode projetar o edifício para que perca muito menos energia, e isso significa que a emissão de dióxido de carbono é menor”.

Fórmula antiga

Segundo os pesquisadores, a maioria dos termostatos segue um modelo de conforto térmico desenvolvido na década de 1960, que considera fatores como temperatura do ar, velocidade do ar, pressão de vapor e isolamento do vestuário, utilizando uma versão da equação do conforto térmico de Fanger.

PMV = [0.303e-0.036M + 0.028] {(M – W) – 3.96E-8ƒcl [(TCL + 273) 4 – (tr + 273) 4] – ƒclhc (TCL – ta) – 3,05 [5,73-,007 (M – W) – pa] – 0,42 [(M – W) – 58.15] – 0.0173M (5,87 – pa) – 0.0014M (34 – ta)}

Ele é convertido em uma escala de sete pontos e comparado com o percentual de insatisfação, ou seja, quantas pessoas estão propensas a se sentir desconfortavelmente frias ou quentes.

Parece bastante simples. Só que uma variável na fórmula, a taxa metabólica de repouso (o quão rápido uma pessoa gera calor), é baseada em um homem de 40 anos de idade pesando cerca de 70 kg.

Talvez esse homem médio de fato representasse a maioria das pessoas em escritórios no passado. Mas hoje as mulheres constituem metade da força de trabalho e geralmente têm taxas metabólicas mais lentas do que os homens, principalmente porque são menores e têm mais gordura corporal. O modelo atual pode superestimar a produção de calor de mulheres em até 35%.

A diferença na roupa

Além da fisiologia, os cientistas observam também que o modelo não é sempre calibrado com precisão para o guarda-roupa de verão das mulheres. Muitos homens ainda usam terno e gravata no verão, mas as mulheres podem usar saias, sandálias e outras peças mais leves.

Então, por amor ao planeta, os homens devem “parar de reclamar”, de acordo com Kingma. “Se estiver muito quente, eles podem tirar uma peça de roupa”.

Mudem a fórmula!

O estudo também oferece como uma solução alterar a fórmula antiga. Os pesquisadores testaram 16 mulheres em seus 20 anos que trabalharam sentadas vestindo roupas leves. A respiração, a temperatura da pele e a temperatura corporal interna das participantes foram medidas.

Eles descobriram que a taxa metabólica média das mulheres é de 20 a 32% mais baixa do que o padrão utilizado para definir a temperatura de edifícios. Então, propõem ajustar o modelo para incluir taxas metabólicas reais de homens e mulheres, além de outros fatores como peso e idade que podem alterar as taxas metabólicas das pessoas.

Assim, quão quente um escritório ficaria seria algo variável, mas o estudo cita uma diferença de cinco graus entre as preferências de mulheres e homens.

Cada um no seu cubículo

Alguns especialistas duvidam que a fórmula usada seja facilmente mudada. Khee Poh Lam, professor de arquitetura na Universidade Carnegie Mellon, disse que mesmo que a indústria aceite uma alteração no modelo de longa data, os edifícios frequentemente abrigam diferentes empresas ou mais pessoas do que foram projetados para comportar, o que dificulta um consenso.

Ainda assim, Lam crê que “precisamos continuar pressionando” para melhorias, porque “o fenômeno das mulheres congeladas é muito óbvio”, e funcionários desconfortáveis são menos produtivos.

Controles de temperatura individualizados são uma eventual resposta. Lam ajudou a projetar um “módulo ambiental pessoal” na década de 1990 que foi considerado muito caro para desenvolvimento comercial. Quem sabe a tecnologia não tenha piedade das esforçadas trabalhadoras desse mundão e ajude a tornar essa solução mais acessível. [NYTimes]

Deixe seu comentário!