Abortos recorrentes estão ligados a espermatozoides com muitas mutações

Por , em 5.01.2019

Um grupo de 50 casais foi estudado em uma clínica de Abortos Recorrentes em no hospital St Mary em Londres (Reino Unido). Todos eles tiveram pelo menos três abortos consecutivos, e tentavam descobrir o que estava por trás dessa dificuldade em gerar uma criança.

A pesquisa foi publicada na revista Clinical Chemestry e revelou que, comparado com 60 casais que não tiveram problemas para conceber, os homens do grupo com dificuldades tinham maiores níveis de danos no DNA.

O índice de abortos espontâneos é de 15% nas 12 primeiras semanas de gestação. Isso entre as mulheres que chegam a perceber que estavam grávidas e que perderam o embrião. É fácil confundir um aborto de poucas semanas de gravidez com o sangramento comum da menstruação.

Mas os casais do estudo sofreram três perdas consecutivas em gestações de até 20 semanas.

Os espermatozóides interferem em abortos

Os pesquisadores analisaram a saúde dos espermatozoides desses casais. “Tradicionalmente os médicos focam a atenção nas mulheres quando procuram pelos motivos de abortos recorrentes. A saúde dos homens e de seus espermatozoides não era analisada”, aponta a pesquisadora principal, Channa Jayasena.

“Porém, esta pesquisa é mais uma evidência que sugere que a saúde dos espermatozoides dita a saúde da gestação. Por exemplo, pesquisas anteriores sugerem que o espermatozoide tem papel importante na formação da placenta, que é crucial para o suprimento de oxigênio e de nutrientes para o feto”, diz ela.

Células que deveriam proteger

Os espermatozoides dos dois grupos da pesquisa foram comparados, e a conclusão é que o grupo com abortos consecutivos tinham o dobro de danos no DNA quando comparado ao grupo controle.

Esses danos podem ter sido causados por um excesso de células especiais do esperma que protegem os espermatozoides de bactérias. Quando há uma concentração muito alta dessas células, os espermatozoides podem sofrer danos no DNA. Os homens com dificuldades em gerar filhos tinham quatro vezes mais células de proteção do que o grupo controle.

Agora a equipe de pesquisadores está tentando descobrir o que causa essa concentração exagerada dessas células.

Infecções ou obesidade?

“Apesar de nenhum homem do estudo ter qualquer infecção como clamídia – que sabemos que pode afetar a saúde do espermatozoide –, é possível que haja outras bactérias de infecções anteriores que ficaram na próstata, a glândula que produz o sêmen”, explica ela. Isso pode causar níveis permanentemente altos das células que deveriam ser protetoras.

Outra possível causa é obesidade. Altos níveis de gordura corporal podem causar um aumento dessas células. Para confirmar se este poderia ser o problema dos homens do estudo, eles foram pesados e tiveram o colesterol medido. Eles tinham ligeiro sobrepeso.

Os homens do grupo com abortos sucessivos também eram um pouco mais velhos que o grupo controle, com média de 37 anos contra 30 anos.

Agora os pesquisadores querem entender como o sobrepeso e idade interferem na saúde dos espermatozoides. “Apesar de ser um estudo pequeno, ele nos dá algumas pistas para seguir”, diz a pesquisadora. Caso essa hipótese seja confirmada, tratamentos que focam na saúde dos espermatozoides podem ser desenvolvidos em breve.

“A medicina levou muito tempo para perceber que a saúde do espermatozoide tem um papel no aborto – e que a causa não está só na mulher. Agora percebemos que os dois parceiros contribuem para abortos recorrentes, e podemos ter uma imagem mais clara do problema para começar a procurar por formas de garantir que mais gestações resultem em um bebê saudável”, defende ela. [Clinical Chemistry, Medical Express]

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