Amor transformador [conto]

Por , em 12.07.2023

Em um mundo tão cinzento como as gotas da chuva batendo contra o asfalto, a ligação entre Raul e Larissa emergiu do virtual para o real. A paixão, essa coisa esquisita, bruta e indomável, fez seu caminho através de uma floresta densa de palavras e gestos, tão carregada de emoções quanto o uísque em um copo de bar no final de uma longa noite.

Raul, 46 anos, divorciado, pai dedicado, era uma espécie de animal ferido por uma antiga batalha com o amor. Antes de Larissa, tinha feito promessas a si mesmo – nunca mais casar, nunca mais ter filhos, nunca mais morar com uma mulher, nada de calcinhas em sua gaveta. Mas aí veio Larissa – inteligente, belíssima e atípica. Uma força da natureza vestida de mulher, capaz de deslocar continentes com um único sorriso. Um sorriso que iria, por fim, refazer todas as promessas e crenças de Raul.

Larissa, reclusa aos 27 anos, era um enigma envolto em um mistério, coberto por uma concha de incógnita. Havia se mantido distante, escondida nas sombras da intimidade, avessa a relacionamentos. Mas o amor, essa estranha mistura de dor e prazer, se infiltrou em sua vida como um ladrão na noite, e mudou tudo. Raul, com sua alegria contagiante e dedicação abnegada, foi a chave para essa mudança.

Eles conversaram por quatro meses, conectados por uma rede invisível que os unia a centenas de quilômetros de distância. Raul no sul agitado de Curitiba, Larissa no interior pacato de São Paulo. Ainda mal haviam se tocado, mesmo assim, enquanto ele fazia uma viagem a um festival de música eletrônica na Bahia, Larissa veio para Curitiba, abrigando-se no apartamento de Raul durante seus 10 dias na estrada. Quando ele voltou, encontrou-a lá, um presente inesperado em seu mundo.

E então, como dois astros em uma dança celestial, se chocaram em uma detonação de paixão. Larissa, fascinada pelo membro de Raul, transbordou elogios enquanto o adorava com fervor. Raul, por sua vez, se perdeu nos seios de Larissa, possuidores do sabor mais doce que já havia provado. A paixão, antes adormecida, agora estava à tona, não havia mais como negar.

Raul, embora fosse um homem que já carregava alegria em sua alma, descobriu que a vida poderia ser muito mais magnífica ao lado de Larissa. Eles passavam a maior parte do tempo juntos, em um baile ininterrupto de risadas, conversas, músicas, fantasias e, acima de tudo, amor. Cada momento longe era uma tortura, uma perda de tempo que não podiam se dar ao luxo de suportar.

Festas privadas, trajes múltiplos, música alta e um balé erótico de prazeres compartilhados tornavam-se seus rituais, aprofundando sua conexão. Raul adorava dar a Larissa orgasmos, e ela era viciada em vê-lo gozar. E depois, despojados de tudo, exceto do riso desinibido e da exaustão do prazer, eles se empilhavam um sobre o outro, sempre buscando o contato, o toque, a segurança encontrada na presença um do outro.

Era como se o mundo exterior tivesse perdido todo o seu brilho, todas as suas cores e todo o seu som para eles. Afinal, o que poderia ser melhor do que a doce companhia um do outro? E assim, cinco meses após a primeira vez, Raul fez a pergunta – com um solitário de diamante nas mãos, seu coração pulsando no peito como um tambor pagão em uma noite de lua cheia.

Larissa levou semanas para responder. E durante todo aquele tempo, Raul continuou a perguntar, dia após dia, sempre com um brilho esperançoso nos olhos. E quando finalmente veio o “sim”, nada mudou. Raul ainda faz a pergunta todos os dias, e Larissa continua a responder, dia após dia, sempre com aquele sorriso incandescente que poderia derreter o mais frio dos invernos.

Eles encontraram um no outro o que ninguém mais poderia dar – um amor tão bruto, tão real, tão intenso que tudo o mais parecia um pálido reflexo. Um amor que reformulou promessas, rompeu barreiras e transformou duas almas solitárias em um rodopio perpétuo de êxtase e alegria. E assim, no universo criado por Raul e Larissa, eles continuam a girar, a amar, a viver. Um universo onde cada dia termina com uma pergunta, e começa com um “sim”.

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