Visitantes assistem, estarrecidos, a burro vivo ser oferecido a tigres em zoológico

Por , em 8.06.2017

Um incidente ocorrido na China vem despertando preocupações sobre o bem-estar dos animais e seus direitos nos zoológicos do país. Um vídeo gravado na segunda-feira, 05 de junho, mostra um burro vivo entregue a tigres como alimento em frente ao público que estava presente no local.

No vídeo, supostamente filmado por um visitante do Yancheng Safari Park, um grupo de homens vestindo casacos impermeáveis empurra um burro por uma rampa de madeira em direção ao fosso onde estão os tigres, que logo avançam. O vídeo mostra, inclusive, o burro brincando dentro d’água antes de ser cruelmente atacado.

As filmagens mostram apenas o início do sofrimento do animal, mas uma notícia do South China Morning Post informou que o burro levou cerca de trinta minutos para morrer.

De acordo com um comunicado em chinês emitido pelo zoológico, acionistas descontentes estiveram por trás do incidente. Irritados pela falta de retornos financeiros por parte da instituição, eles providenciaram que o grupo de homens capturasse alguns dos animais, incluindo o burro, e os vendessem a pessoas de fora da instalação. Como foram interrompidos pela segurança, os homens então decidiram empurrar o burro para os tigres para, ao menos, “economizar na alimentação dos bichos”, disse um acionista ao The Guardian.

“É um vídeo terrivelmente triste: todos os que fazem parte dele sofrem, seja o burro, os tigres ou o público que assistia àquele tormento”, disse Doug Cress, o diretor executivo da World Association of Zoos and Aquariums, uma entidade que aprova zoológicos mas que não tem ligação com o Yancheng Safari Park.

Cress afirma que o incidente não deveria jamais ter ocorrido. “Se existissem, no zoológico, as barreiras adequadas entre os visitantes e as cercas que protegem os animais, em primeiro lugar não seria possível movê-los de seus locais de vivência. Além disso, não haveria possibilidade de atirá-los aos tigres. Claramente, as barreiras e proteções não são efetivas nesse zoológico”.

Até o fechamento da edição da National Geographic, o safari ainda não havia respondido à solicitação de entrevista.

Esta é a mais recente ocorrência em uma série de eventos perturbadores envolvendo zoológicos chineses, que já têm a reputação de não se adequar aos padrões de bem-estar animal. Cress afirma que a prosperidade econômica chinesa conduziu o país a um boom nos negócios no setor de zoológicos e aquários nos últimos 20 anos. Porém, o respeito pelos animais e a compreensão dos princípios de bem-estar foram deixados de lado.

Episódios recorrentes

Os visitantes de zoológicos, na China, são conhecidos por atirar pedras e lixo aos animais. Às vezes, inclusive, estes são forçados a realizar performances para o público, uma prática amplamente criticada por inúmeras agências renomadas de credenciamento pelo fato de trazer sofrimento e maus tratos aos animais.

Dave Neale, diretor de bem-estar animal junto à base em Hong Kong da entidade sem fins lucrativos Animals Asia, disse que está hororizado com o que aconteceu no Yancheng Safari Park, embora não esteja surpreso. Quando ele visitou o zoológico, no passado, os ivisitantes tinham autorização a pagar para que patos e galinhas vivas fossem lançadas às jaulas de leões e tigres para seu entretenimento.

Em outras situações, mais raras, Neale já viu instituições oferecerem ovelhas vivas, cabras, porcos e vacas para o “banquete” de predadores. “Se alguém paga o suficiente, alguns parques estão dispostos a fazer qualquer coisa”, diz. “Isso prejudica o valor educacional de um zoológico – eu não vejo qualquer valor em práticas dessa natureza”.

Neale diz que esse tipo de crueldade ocorre, na maioria das vezes, em parques de safári fora dos centros urbanos, geridos pela Administração Florestal da China, em vez de instituições administradas por departamentos da cidade e que se concentram mais na preservação do que no entretenimento. O zoológico de Pequim e o de Shangai são exemplos de companhias com esse enfoque.

O Yangcheng Safari Park é credenciado pela Associação Chinesa de Jardins Zoolóicos, de acordo com Neale. Esta é uma organização que, segundo ele, tem boas intenções, mas que falha em uma série recursos essenciais para impor padrões rigorosos de bem-estar animal a seus membros. A associação também não respondeu ao pedido da National Geographic para comentar se pretende agir em resposta ao incidente de segunda-feira.

Interferência humana na rotina animal

Além das barreiras inadequadas do zoológico, diz Cress, a ocorrência deixa outro problema à mostra: os tigres no zoológico simplesmente não estão acostumados a se alimentar de animais vivos. Enquanto, na selva, os tigres matam uma ampla variedade de bichos para se alimentarem – desde veados e búfalos até, ocasionalmente, gado domesticado – os zoológicos alimentam seus tigres com carnes de cavalo e de boi, não de animais que estão vivos e respirando.

“Não foi a fome o que os conduziu: foi a curiosidade”, assegura Cress. “Eles não parecem ter a compreensão de como derrubar um animal como esse nem o que fazer com ele”.

Na verdade, enquanto os tigres gravados no vídeo atacam o burro, dificilmente é esse o comportamento padrão dos predadores. Em meio à natureza, um tigre persegue sua presa e pode matá-la em poucos segundos ao apertar o seu pescoço.

Além desse fato, Cress aponta que a falta de instinto predador em tigres cativos poderia causar danos se um animal com chifres, por exemplo, invadir seu habitat.

“A segurança dos animais e das pessoas deve ser a prioridade número um”, assinala Neale. “Por isso, o zoológico tem muita culpa, embora, esperamos, este se trate de um incidente único, que não mais se repetirá”. [NationalGeographic]

1 comentário

  • claudemir bento:

    Seres humanos sem noção, avidas para verem sofrimento e sangue lembram de certa forma pessoas lançadas as feras no Antigo Imp. Romano.

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