Cientistas criaram uma máquina que pode literalmente manipular o conteúdo dos seus sonhos

Por , em 26.04.2018

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, nos EUA) criaram uma máquina que funciona como uma interface para a fase do sono em que ocorrem alucinações, permitindo que as pessoas controlem o conteúdo de seus sonhos.

O dispositivo, chamado “Dormio”, induz o período transitório entre a vigília e o sono, um estágio conhecido como hipnagogia.

Essa fase é uma “fragmentação natural da consciência”, na qual você não está totalmente consciente nem totalmente inconsciente.

O período é difícil de definir – enquanto algumas pessoas podem manter conversas completas nesse estado, outras experimentam alucinações visuais e auditivas. Muitos cientistas acreditam que é durante a hipnagogia que somos mais criativos.

Resultados

Para desencadear a hipnagogia, a equipe de cientistas liderada por Adam Horowitz criou uma máquina que manipula o conteúdo dos sonhos.

Os usuários usam um dispositivo manual – uma luva – para rastrear esse estado transicional por meio de biossinais, como frequência cardíaca e tônus muscular. Quando o usuário está prestes a deixar a hipnagogia e fazer a transição para o sono profundo, um robô ao lado da cama é acionado para emitir um ruído e empurrá-lo de volta ao estado de sonho.

Se o ruído usado para acordar levemente a pessoa é uma palavra, os pesquisadores descobriram que essa palavra poderia entrar nos sonhos do usuário. Por exemplo, se o robô disser “garfo” ou “coelho”, o sonho incorporará esses objetos.

“A hipnagogia é caracterizada pela imprevisibilidade fenomenológica, percepção distorcida do espaço e do tempo, perda do sentido do eu e associação espontânea de ideias fluidas”, disseram os pesquisadores no site do laboratório MIT Media Lab, onde realizaram a pesquisa. “Usando o Dormio, fomos capazes de influenciar, extrair informações e estender os micro sonhos hipnagógicos pela primeira vez”.

Sonho hipnagógico x lúcido

É importante notar que esses sonhos hipnagógicos são diferentes dos sonhos lúcidos que ocorrem no estágio REM do sono.

Ao contrário dos sonhos lúcidos, em que o participante está ativo, o participante de um sonho hipnagógico é passivo – embora isso não signifique que não possa controlar a direção do sonho, mesmo que precise de uma pequena ajuda.

Por exemplo, uma vez que os usuários do Dormio estão suspensos nesse estado hipnagógico, o áudio pergunta o que eles estão pensando.

“Descobrimos que todos os nossos sujeitos de fato sonhavam sobre temas escolhidos por experimentadores antes do sono, e que o uso ativo da hipnagogia com o sistema Dormio pode aumentar a criatividade humana medida pela flexibilidade, fluência, elaboração e originalidade do pensamento”, concluíram os pesquisadores.

Para todos experimentarem

A ideia de estimular o pensamento criativo através do estado mental que separa a vigília e a inconsciência é um conceito que já foi explorado por muitos ícones, como o artista Salvador Dali e o inventor Thomas Edison.

Dali e Edison acessavam a hipnagogia adormecendo com uma bola de aço na mão, que caía no chão enquanto estavam nesse estado, acordando-os. Assim, seriam capazes de capturar as ideias e pensamentos gerados através de seus sonhos.

Parece assustador, mas os pesquisadores esperam tornar essa tecnologia barata e acessível, permitindo que todos aumentem sua criatividade explorando esse estado hipnagógico.

“A boa neurociência, para mim, é um autoexame eficaz. Uma boa tecnologia para tornar a neurociência relevante fora do laboratório, então, deve facilitar o autoexame”, concluiu Horowitz. “Os fins deste projeto são tanto práticos quanto filosóficos. Não tenho dúvidas de que a hipnagogia possui aplicações para aumentar a memória, o aprendizado e a criatividade. No entanto, também, depois de explorar o estado, eu acho que é um tipo de autovisão profundamente valiosa e inspiradora, que antes era inacessível para mim”. [IFLS]

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