Mergulhadores descobrem bolhas marinhas gigantes

Por , em 4.04.2021

Vários anos atrás, mergulhadores que exploravam a costa oeste da Noruega encontraram um objeto que não podiam explicar: uma enorme esfera molenga gelatinosa, com mais de um metro de diâmetro que pairava no mesmo lugar entre o fundo e a superfície do mar. Havia algo mais escuro no centro, mas fora isso o objeto era translúcido e totalmente sem características.

Era uma bolha misteriosa.

Cerca de cem avistamentos semelhantes destas bolhas foram relatados ao redor da Noruega e do Mar Mediterrâneo desde 1985, mas as misteriosas massas gelatinosas sempre escaparam qualquer classificação. Agora, graças a uma campanha de ciência cidadã de um ano e a uma nova análise de DNA, os pesquisadores finalmente identificaram as bolhas como os sacos de ovos raramente vistos de uma lula comum chamada Illex coindetii.

De acordo com um novo estudo, publicado 30 de março na revista Nature Scientific Reports, cada bolha pode conter centenas de milhares de minúsculos ovos de lula, envoltos em uma bolha de muco se desintegra lentamente. Esta é a primeira vez que foram identificados os sacos de ovos da lula na natureza, apensar da espécie ser conhecida há 180 anos, escreveram os pesquisadores.

“Também temos que ver o que está dentro da esfera real, mostrando embriões de lula em quatro estágios diferentes”, disse ao Live Science o principal autor do estudo, Halldis Ringvold, gerente da organização de zoologia marinha Sea Snack Norway. “Além disso, poderíamos acompanhar como a esfera realmente muda de consistência — de firme e transparente para opaca em ruptura — à medida que os embriões se desenvolvem.”

Fotos adicionais das bolhas, avistadas perto da Noruega, Suécia e Inglaterra. (Crédito da imagem: Ringvold, H., Taite, M., Allcock, A.L. et al.)

I. coindetii pertence a um grupo comum de lulas chamado Ommastrephidae. Durante a reprodução, as fêmeas deste grupo produzem grandes esferas de ovos — ou massas de ovos — feitas com seu próprio muco para manter seus embriões flutuantes em segurança contra predadores, disse Ringvold. No entanto, avistamentos dessas massas são raros, e as massas de algumas espécies nunca foram vistas.

Quando os avistamentos de bolhas norueguesas se tornaram notícia internacional há vários anos, alguns pesquisadores suspeitaram que as esferas eram massas de ovos Ommastrephid. Mas sem uma análise de DNA do tecido da bolha, não havia como mostrar que espécies de lulas, se fosse o caso, as haviam criado.

Então, Ringvold e seus colegas lançaram uma campanha de ciência cidadã que encorajou mergulhadores a coletar pequenas amostras de tecidos de quaisquer bolhas que encontrassem nas águas próximas à Noruega. Em 2019, mergulhadores apareceram com amostras de tecidos de quatro bolhas distintas, que eles coletaram em pequenas garrafas plásticas e armazenadas em geladeiras domésticas (a coleta de tecidos parecia não danificar as massas de ovos de nenhuma maneira, de acordo com o estudo).

As amostras incluíram tanto a região pegajosa das bolhas, quanto os embriões em diferentes estágios de desenvolvimento. Uma análise de DNA dos tecidos confirmou que todas as quatro bolhas continham lulas I. coindetii, escreveram os pesquisadores.

Então, mistério resolvido? parcialmente. Sem amostras de tecidos de todas as esferas, os pesquisadores não podem ter certeza de que todas as quase cem bolhas observadas pertencem à mesma espécie, escreveu a equipe. No entanto, dado que todas essas bolhas eram muito semelhantes tanto na forma quanto no tamanho, é provável que “muitas delas” foram formadas por I. coindetii, concluiu a equipe.

Quanto à estranha e escura região que aparece em muitas das esferas? Segundo os pesquisadores, isso poderia ser liberado durante a fertilização dos óvulos.

“Esferas com ou sem tinta podem ser resultado de esferas que estão em diferentes estágios de maturidade, onde esferas com tinta são recém-geradas”, escreveram os pesquisadores em seu estudo. “Depois de um tempo, quando os embriões começarem a se desenvolver, toda a esfera, incluindo a região escura, começará a se desintegrar.”

A parte escura também pode ser uma espécie de mecanismo de camuflagem, escreveu a equipe, destinada a imitar peixes grandes e assustar predadores em potencial. A solução para esse mistério melequento ainda não foi totalmente descoberta. [Live Sicience]

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