O lado ruim dos humanos foi o que fez nossa civilização se espalhar pelo globo

Por , em 27.12.2015
migração civilização humana

Cena de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, que faz alusão ao momento em que nossos ancestrais descobriram o poder de matar uns aos outros

A velocidade e o caráter da dispersão humana mudaram significativamente em torno de 100.000 anos atrás. Por quê?

A Dra. Penny Spikins, professora de Arqueologia de Origens Humanas da Universidade de York, Reino Unido, acha que nosso lado maldoso foi o responsável por isso.

Seu novo estudo sugere que traições de confiança são o elo que faltava na compreensão da rápida disseminação da nossa espécie por todo o mundo.

Os movimentos de migração

Espécies precoces de hominídeo eram bastante limitadas em distribuição. Ou seja, habitavam ambientes específicos, tais como pastagens e florestas abertas.

A expansão do Homo erectus da África para a Ásia cerca de 1,6 milhões de anos atrás parece ter sido causada pela necessidade de encontrar pastos mais largos. Em contraste, os neandertais ocuparam partes frias e áridas da Europa.

Todas as espécies arcaicas pareceram se adaptar lentamente a novas oportunidades. Muitas vezes, foram derrotadas por barreiras ambientais e climáticas.

Até 100.000 anos atrás, a dispersão humana foi largamente governada por eventos naturais devido ao aumento da população ou mudanças ecológicas. Depois disso, os humanos começaram a se espalhar com uma velocidade muito mais notável, enfrentando e superando várias barreiras ambientais.

O que mudou?

Spikins especula que nem o aumento da população, nem mudanças ecológicas fornecem uma explicação adequada para os padrões de movimento humano a novas regiões que se iniciaram nessa época.

Em vez disso, conforme os compromissos sociais para com os outros da sua espécie tornaram-se mais essenciais para a sobrevivência, e os grupos humanos se tornaram mais motivados a identificar e punir aqueles que prejudicavam o coletivo, o lado “obscuro” da natureza humana se desenvolveu.

Ela sugere que disputas morais motivadas pela confiança quebrada e um sentimento de traição se tornaram mais frequentes e motivaram os primeiros seres humanos a colocar uma distância entre eles e seus rivais.

Não guarde rancor

O espalhamento das populações humanas modernas não foi inibido por barreiras biogeográficas. Os grupos mudaram-se para regiões frias do norte da Europa, cruzaram deltas como o do Indu e do Ganges, desertos, tundras, ambientes de selva e até mesmo realizaram travessias marítimas significativas para alcançar a Austrália e as ilhas do Pacífico.

A pesquisadora argumenta, assim, que foram as emoções humanas que forneceram a força de repulsão a partir de áreas ocupadas existentes para outras novas, força essa que não foi vista em outros animais.

De acordo com Spikins, redes sociais maiores tornaram mais fácil de encontrar aliados distantes com quem iniciar novas colônias. Além disso, as tecnologias de caça mais eficientes significavam que ter um inimigo que guardasse um rancor era um grande perigo.

Logo, a dispersão para áreas distantes, mesmo arriscadas e inóspitas, tornou-se relativamente mais comum em comparação com os movimentos para regiões já ocupadas.

Conclusão

Spikins afirma que traições da confiança decorrentes de conflitos morais foram uma razão significativa para tais dispersões de risco para ambientes aparentemente pouco acolhedores.

A motivação-chave era o desejo de evitar danos físicos a partir de problemas com antigos amigos e aliados descontentes. [Science20]

2 comentários

  • Dinho01:

    Não estão esquecendo da curiosidade inata do ser humano?

  • Mozart Forasteiro:

    Faz sentido, mas outros fatores, como a ganância por mais domínios, também colaborou para essa expansão.

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