Como tornar-se mais resiliente
Aprendendo a ser
Como vimos no artigo da semana passada, a resiliência psicológica caracteriza a nossa capacidade de enfrentar problemas, superar obstáculos e resistir à pressão de situações adversas sem que haja abatimento significativo de nosso ânimo ou mesmo dano permanente à nossa psicologia, de forma que possamos restituir integralmente nosso estado de equilíbrio emocional original.
Vimos também que a resiliência é apontada pelos especialistas como uma competência – tanto de indivíduos quanto de organizações – e como tal, pode ser ensinada e aprimorada.
Assim cabem duas perguntas determinantes:
Como faço para tornar-me mais resiliente? Como aprimorar minha resiliência para uma resposta mais rápida?
Vamos à primeira pergunta:
É consenso entre especialistas que existem características comuns entre os indivíduos com ampla capacidade de enfrentamento das adversidades, denominados, por esta razão, fatores de resiliência tais como: vontade de viver, autoestima, amor próprio, respeito próprio, esperança, crença, autonomia, iniciativa pessoal, autodeterminação, busca de significado para a vida, autoafirmação, preservação da identidade, curiosidade e capacidade de estabelecer bons relacionamentos.
Se eu quiser me tornar mais resiliente, devo procurar incrementar cada um desses fatores.
Evidentemente é um processo que se inicia na infância e avança muitas vezes de forma natural, reunindo consciência, atitudes e habilidades ativadas nos processos de enfrentamento de situações em todos os campos da vida.
Na vida adulta a resiliência se comporta como uma tomada de decisão quando alguém se depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer.
Essas decisões propiciam desenvolvimento de forças no indivíduo, forças essas arregimentadas com o objetivo claro de se efetuar o enfrentamento das adversidades.
Numa analogia grosseira, poderia se dizer que o indivíduo arregimenta valores morais durante a vida, como alguém que organiza um kit de sobrevivência na selva. No momento de emergência pode fazer uso desses componentes para resolver as contingências.
Cabe também salientar, que apenas o fato de possuir tal kit, já atua como um elemento tranquilizador no momento em que ocorrem as tensões. Daí o sangue frio de um indivíduo resiliente no momento de enfrentamento das adversidades.
Num outro exemplo, o motorista que, ao efetuar uma viagem de carro, prepara-se com antecedência efetuando a revisão no veículo, conferindo o kit de segurança, etc., viaja com maior tranquilidade.
Assim entendido, pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.
Daí, no instante do enfrentamento não faltarem “soluções” em seu “kit de sobrevivência”.
É fácil entender também o porquê de muitos indivíduos resilientes não ficarem “destroçados psicologicamente” antes, durante ou depois do enfrentamento de um grande problema:
- Primeiro: confiam em si mesmos e em sua capacidade de resolver problemas.
- Segundo: sempre dão o melhor de si nesse enfrentamento da adversidade (não cabendo, a posteriori, nenhuma forma de arrependimento ou remorso).
- Terceiro: possuem a consciência de seu verdadeiro tamanho.
Nessa constatação fica evidente que existem problemas cuja solução é coletiva e/ou depende de habilidades muito além de sua capacidade, daí a necessidade de capacitação e do trabalho em equipe.
Fórmulas mágicas x aprendizado
Também é evidente que não existem fórmulas mágicas ou receitas milagrosas para que um indivíduo se torne resiliente da noite para o dia.
Aliás, a maioria das pessoas peca exatamente nesse quesito:
– Procura por uma chave mestra capaz de resolver todos os problemas da vida.
Muitos descobrem às duras penas que isso não existe, e assim perdem as esperanças, tornando-se amargos, pessimistas e derrotados.
Outros, atemorizados perante a vida, se entregam a toda sorte de crendices e superstições, tentando delegar a outros aquilo que é unicamente de sua responsabilidade.
O determinante, a meu ver, é buscar o esclarecimento, como diz Immanuel Kant em seu idealismo transcendente.
Algo como aprender a fabricar chaves.
O esclarecimento, nesse viés, é aprender a fazer uso de seu próprio entendimento. De sua própria capacidade de resolver problemas.
Afinal, essa é uma das razões de nossa razão. Resolver problemas. Afinal, para que serve nossa inteligência?
Para Kant, os maiores problemas nesse enfrentamento, no desenvolvimento dessa capacidade do ser humano de “caminhar com as próprias pernas” é a preguiça e a covardia.
Para a maioria dos seres humanos é bastante cômodo permanecer na área de conforto e delegar a outros que pensem, que decidam e que façam por ele aquilo que nega a si mesmo.
(Eis aí o método de fabricar chaves: pensar, decidir e fazer – enquanto muitos usam o: delegar, postergar e fugir).
Preparar-se para a vida e enfrentar as adversidades exige esforço – por isso muitos se perguntam: para quê se esforçar? Porquanto ainda existam outros a quem se possa delegar a solução de nossos problemas? Ou, senão, pelo menos inferir a culpa de nossas desgraças.
Segundo Kant, os seres humanos quando permanecem nessa “menoridade”, são incapazes de tomar suas próprias decisões e de fazer suas próprias escolhas.
Daí serem derrotados e destroçados perante a menor dificuldade.
É importante frisar que o direito de tomar suas próprias decisões denomina-se liberdade – essa capacidade de ser causa e não apenas efeito.
Assim, se alguém me pede uma dica de como nos tornarmos mais resilientes eu respondo que o primeiro passo é refletir sobre esse questionamento Kantiano e colocar, a cada dia, mais coragem e mais vontade em nossa caminhada pela vida.
E como reza a sabedoria popular toda grande caminhada se inicia com um primeiro e decisivo passo.
E os demais passos que se sucedem e que sustenta a caminhada?
Bem, esse já é um assunto para um próximo artigo. Não perca!
-o-
[Imagem: Balance Scale]
[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]
LEIA SOBRE O LIVRO A COR DA TEMPESTADE
do autor deste artigo
À VENDA NAS LIVRARIAS CURITIBA E ARTE & LETRA
Navegando entre a literatura fantástica e a ficção especulativa Mustafá Ali Kanso, nesse seu novo livro “A Cor da Tempestade” premia o leitor com contos vigorosos onde o elemento de suspense e os finais surpreendentes concorrem com a linguagem poética repleta de lirismo que, ao mesmo tempo que encanta, comove.
Seus contos “Herdeiros dos Ventos” e “Uma carta para Guinevere” foram, em 2010, tópicos de abordagem literária do tema “Love and its Disorders” no “4th International Congress of Fundamental Psychopathology.”
Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.
6 comentários
Discordo do conceito que a vida é constituida de problemas que temos de resolver, mas sim de situações que devemos viver, e maneiras de lidar com ela, porque temos de chamar isso de “Problemas”, entendo problema com algo que criamos para superar a incapacidade de viver com estas situações e ai sim ! delegar aos outros que pensam, as respostas para estas situações, dando a grande maioria, a falta da resiliencia necessaria para viver, criando deste modo, um mundo de pessoas fracas e de soluções que podem ser vendidas na livraria, chamadas ” Auto Ajuda”.
De fato pregar um prego na parede é fácil para um enquanto para outro se torna um problema a ser resolvido por um especialista em “martelar”, sem que o ser exija de si um mínimo esforço em realizar essa “árdua tarefa”, para muitas vezes perceber que SIM, era capaz de a realizar, talvez não com a mesma precisão do dito especialista, mas com uma funcionalidade aceitável.
Muitas vezes já vivencie pessoas que só o simples ato de pensar se tornar um problema, e não o tipo de pensamento necessário para compor uma tese, mas um tipo de escolha com duas alternativas: sim ou não! Essas pessoas infelizmente vão ser reféns do mundo, dificilmente poderão caminhar sozinhas com as próprias pernas, vivendo sempre apoiadas nas ações e filosofias de outros. Para elas pode-se dizer que até respirar é um problema.
Abraços.
Ótimo artigo!
Comecei a ler com um pé atrás, esperando uma receita fácil, e no fim tem mesmo uma receita, mas é a única viável e não tem nada de fácil.
Trago sempre na bagagem um ensinamento que tive de um amigo eletricista certa vez, sempre buscando o equilíbrio em minha vida:
“A vida é totalmente constituída de problemas! Feliz daquele que tem menos!”
E é assim que encaro os desafios, eles surgem e eu busco soluções. Acredito piamente também que para cada dificuldade, exista sempre uma solução equilibrada. Até hoje, felizmente, essa minha tônica deu resultado.
Parabéns pelo excelente artigo.
Abraços renovados!
Muito Bom,ansioso para o próximo artigo.
Muito interessante a sequência dessa linda matéria por aqui. Fiz um concurso que havia uma redação sobre O TEMA resiliência e fui muito bem por sinal. Eu desde criança sempre tive essa resiliência me tornei hoje um adulto forte, determinado, personalidade fortíssima, tenho atitude para lidar com diferentes situações, não sou ríspido mas tudo tem limites então apelo por atitudes mais enérgicas, procuro ter o equilíbrio em tudo que faço; nem DEMAIS nem de MENOS procuro ser MEDIANO. Quando algo não dá certo nunca desisto pois sempre tenho um plano A, B OU C EMERGENCIAL. Não sofro por antecipação vivo o HOJE o FUTURO é o agora. Desde criança sempre fui mais observador do que o falante isso me preparou para as diversas QUEDAS ao longo da minha existência, aprendi muito vendo e analisando a queda dos outros e suas diversas capacidades emocionais para lidar com situações adversas. Até hoje tenho essa resiliência e essa capacidade emocional e psicológica de não se deixar se abater ou desequilibra-se. Meu lema: CAIU, ERROU levante a cabeça sacuda a poeira e siga em frente, há sempre uma solução, basta aprender com seus próprios erros ou erros alheios.