Cone da Vergonha: O Impacto na Vida dos Pets e Seus Donos

Por , em 29.01.2024

Olhares tristes, gemidos baixos e dificuldades com a vasilha de água. Frequentemente, a coleira protetora usada em animais após cirurgias parece mais incômoda do que a própria ferida.

Este dispositivo é conhecido como “coleira elizabetana” ou E-collar por especialistas, devido à sua semelhança com as golas ornamentadas da época elizabetana. No entanto, muitos donos de animais a chamam de “cone da vergonha”, refletindo o desconforto e o abatimento que parece causar em seus pets.

Estudos recentes na área de comportamento animal têm se concentrado nos efeitos dessas coleiras no bem-estar dos bichos. Apesar de haver um debate entre cientistas sobre se os animais realmente sentem humilhação, está claro que o “cone da vergonha” afeta negativamente tanto os animais quanto seus donos.

Será que os Animais se Sentem Envergonhados com o Cone?

Ainda não está claro se os animais se sentem envergonhados ao usar o cone, visto que a pesquisa sobre emoções animais é relativamente nova. Por muitos anos, cientistas evitaram estudar emoções em animais para não serem acusados de antropomorfismo. Ainda existe um debate na comunidade científica sobre quais emoções os animais possuem e se podemos realmente compreendê-las.

No entanto, estudos recentes sugerem que emoções complexas nos animais, como culpa ou vergonha, podem ter uma função, mesmo que diferente da nossa percepção humana. Por exemplo, um cachorro que parece culpado após uma travessura pode estar adotando um comportamento adaptativo para receber uma repreensão mais leve.

Assim, embora os animais possam não sentir vergonha por usar o cone, sua aparência triste pode ser uma estratégia para convencer seus donos a removê-lo.

Uso do Cone da Vergonha

Uma pesquisa de 2020, publicada no periódico Animals, envolveu 434 donos de animais que usaram uma E-collar no último ano. A maioria era da Austrália, com outros participantes da Irlanda, Nova Zelândia, África do Sul, Suécia, Reino Unido e EUA.

Mais da metade dos entrevistados (57,4%) usou a E-collar para proteger uma área pós-cirúrgica, e 19,1% para tratar problemas de pele. A maioria dos pets usou o cone entre 72 horas e uma semana.

Alguns donos também utilizaram E-collars para facilitar tratamentos como colírios ou injeções de insulina.

Experiências com o Cone da Vergonha

A adequação das E-collars varia muito de acordo com o tamanho e a raça do animal. Donos de raças grandes, como os Dogues Alemães, acharam o cone demasiadamente grande e incômodo. Por outro lado, donos de raças de pernas curtas, como os dachshunds, relataram que o cone limitava o movimento de seus pets. E para raças de focinho longo, como os galgos, o cone era muitas vezes curto demais.

O estudo destacou a insatisfação geral com as E-collars. A principal queixa (67,5%) era que os animais não podiam brincar enquanto usavam o cone. Uma grande maioria (60%) apontou que seus pets tinham dificuldade para beber água, e cerca de um terço notou um aumento no comportamento retraído de seus animais.

Os donos também expressaram preocupação com o ajuste do cone, com 88% temendo que ele estivesse muito apertado ou frouxo, levando-os a verificar frequentemente.

Muitos não gostaram das mudanças de comportamento em seus animais causadas pelo E-collar, desejando que eles agissem normalmente. Um participante contou como seu gato permaneceu imóvel usando o cone, enquanto outro descreveu o sofrimento do seu cão como pior do que seu costume de lamber constantemente.

Alguns proprietários observaram que a E-collar afetava a audição e a visão periférica de seus animais, causando desajeitamento e ansiedade.

Riscos de Lesões com o Cone

Cerca de um quarto dos participantes da pesquisa relatou que seus animais sofreram coceira ou irritação no pescoço. Uma proporção semelhante mencionou lesões causadas pelo cone, devido à visão prejudicada ou à ansiedade.

Um proprietário mencionou que a salivação excessiva no cone levou a uma infecção por fungos ao redor da boca do seu cão.

Gatos e o Cone da Vergonha

Para gatos, a incapacidade de se limpar usando o cone é particularmente problemática. No estudo de 2020 da Applied Animal Behaviour Science, 11 gatos foram observados. Gatos passam normalmente 50% do tempo acordados se limpando, o que é essencial para remover parasitas, sujeira e manter a densidade do pelo para regulação da temperatura.

Com as E-collars, os gatos não conseguiam se limpar. Após a remoção dos cones, houve um aumento de 67% na limpeza e um aumento de 200% no comportamento de se coçar, voltando ao normal assim que arrumaram o pelo adequadamente.

Alternativas ao Cone

O estudo da revista Animals revelou que 50% dos entrevistados procuraram alternativas ao E-collar. Opções incluíam cones tipo travesseiro, roupas que cobriam a área afetada, ou soluções caseiras como um macarrão de piscina adaptado em uma coleira. Alguns optaram por supervisão constante ao invés de usar qualquer dispositivo. [Discover Magazine]

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