Conheça o olinguito, um mamífero que levou mais de uma década para ser identificado
Cientistas descobrem novas espécies de insetos com certa frequência. Quando se trata de descobrir mamíferos (especialmente carnívoros), contudo, a situação é muito diferente: o olinguito, que você vê na foto acima, é a primeira nova espécie identificada no continente americano nos últimos 35 anos.
Sua identificação levou mais de dez anos para ser feita, e teve início quando o zoólogo Kristofer Helgen encontrou ossos e pele do animal no Museu Nacional de História Natural em Washington D.C. (EUA), onde trabalha como curador. “As peles tinham uma cor vermelha ‘viva’, e quando olhei os ossos não reconheci a anatomia”, conta. “Era diferente de qualquer animal que eu já havia visto, e logo pensei que poderia ser uma espécie nova para a ciência”.
O museu abriga a maior coleção de mamíferos do mundo, com um total que ultrapassa 600 mil animais. Muitas amostras foram coletadas há décadas, mas não foram classificadas de modo apropriado. Com avanços tecnológicos recentes, porém, cientistas como Helgen podem contar com mais instrumentos para estudar esse material.
Com vocês, o olinguito
“O olinguito é um carnívoro – [parte de] um grupo de animais que inclui gatos, cães, ursos e seus parentes. Muitos de nós acreditaram que a lista estava completa, mas aí está um novo carnívoro – o primeiro a ser encontrado no continente americano há mais de três décadas”, ressalta o pesquisador.
[box type=”shadow”]Olinguito (Bassaricyon neblina)
- É o menor membro da família de animais que inclui os guaxinins;
- Seu corpo mede 35 cm e sua cauda tem entre 33 e 43 cm de comprimento;
- Pesa em média 900 g;
- Macho e fêmea têm tamanhos similares;
- Normalmente se alimenta de frutas, mas também consome insetos e néctar;
- Vive isolado e tem hábitos noturnos;
- Passa boa parte do tempo sobre árvores;
- As fêmeas só geram e criam um filhote de cada vez;
- Só é encontrado em florestas nubladas nos Andes, no Equador e na Colômbia, em terras elevadas.[/box]
Há indícios de que exemplares de olinguito haviam sido exibidos em zoológicos dos Estados Unidos entre 1967 e 1976, mas, como não os identificaram corretamente, os responsáveis não conseguiram fazer com que se reproduzissem, e os exemplares acabaram morrendo sem deixar filhotes.
Caça no museu
“A grande maioria das novas espécies é descoberta em coleções de museus”, explica Chris Norris, presidente da Sociedade para a Preservação de Coleções de História Natural dos Estados Unidos. “Há 70 anos, as pessoas que trabalhavam [nesses locais] frequentemente tinham ideias diferentes sobre o que seria uma nova espécie – talvez eles não reconhecessem coisas que nós diríamos que são distintas, ou não tinham acesso a tecnologias, como as que permitem a extração e o sequenciamento de DNA”.
Outra dificuldade é a ausência de uma base de dados que unifique museus pelo mundo – algo trabalhoso de se montar, mas que facilitaria muito a descoberta de novas espécies. Não é por acaso que muitas amostras de animais se desgastam com o passar das décadas sem jamais serem identificadas.
“Nossa economia está no meio de um período difícil, e investir em museus às vezes parece ser algo difícil de justificar quando você observa, por exemplo, instrumentos científicos mais brilhantes ou espetaculares por aí”, lembra Norris. “Mas é importante não pensar nessas coisas como bizarras coleções de peles secas, morcegos em conserva e gavetas cheias de caracóis, e sim como ferramentas de pesquisa, da mesma forma que você pensa em um novo telescópio ou no Grande Colisor de Hádrons”. [BBC]