Descoberta Cerebral: Neurônios que Controlam a Fome dos Ratos Revelam Segredos do Apetite Humano

Por , em 25.11.2023

Cientistas identificaram células cerebrais específicas que regulam a velocidade com que os ratos comem e quando eles param de comer. Este avanço, relatado em um estudo na revista Nature, promete aprimorar nosso entendimento sobre os mecanismos de fome humana, de acordo com os pesquisadores envolvidos.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que os nervos vagais, localizados no intestino dos ratos, são capazes de detectar a quantidade e o tipo de alimento ingerido. Esses nervos transmitem informações sobre a ingestão de alimentos por meio de impulsos elétricos para uma área específica no tronco cerebral, que se acredita influenciar o fim do consumo alimentar tanto em ratos quanto em humanos. Essa área, conhecida como núcleo caudal do trato solitário, contém dois tipos de neurônios: os neurônios que liberam o hormônio prolactina (PRLH) e os neurônios GCG. No entanto, estudos anteriores focaram principalmente em alimentar ratos anestesiados com comida líquida, deixando incertezas sobre o papel desses neurônios na regulação do apetite em ratos acordados.

Para explorar essa questão, Zachary Knight, fisiologista da Universidade da Califórnia, em São Francisco, e sua equipe implementaram uma abordagem inovadora. Eles inseriram um sensor sensível à luz no cérebro de ratos geneticamente modificados, de modo que os neurônios PRLH emitissem um sinal fluorescente quando ativados. Os pesquisadores administraram um alimento líquido nutritivo chamado Ensure no sistema digestivo dos ratos. Observaram um aumento na atividade neuronal que correspondia à quantidade de alimento introduzida, atingindo um pico logo após a infusão do alimento cessar. Em contraste, a infusão de uma solução salina não ativou os neurônios PRLH.

Durante sessões de alimentação livre com comida líquida, os neurônios PRLH foram rapidamente ativados quando os ratos começaram a lamber o alimento, mas cessaram quando a lambedura parou. Isso indica que os neurônios PRLH reagem de forma diferente a estímulos oriundos da boca e do intestino, sendo que os primeiros parecem ter precedência, conforme Knight apontou.

Ao estimular os neurônios PRLH com um laser em ratos que se alimentavam livremente, a equipe conseguiu reduzir o ritmo de consumo dos animais. Testes adicionais revelaram que esses neurônios não eram ativados em ratos com uma capacidade reduzida de perceber o sabor doce, sugerindo que o paladar é um fator na ativação dos neurônios.

O estudo também descobriu que os neurônios GCG, ativados por sinais provenientes do intestino, controlam o momento em que os ratos param de comer. Knight explicou que os sinais oriundos da boca governam a rapidez com que se come, enquanto os sinais do intestino determinam a quantidade consumida.

Chen Ran, neurocientista da Universidade de Harvard, elogiou o estudo por suas descobertas inovadoras sobre como o paladar regula o apetite. Ele sugere que as descobertas provavelmente se aplicam aos humanos também, devido à semelhança nas vias neurais entre as duas espécies.

Essa pesquisa abre portas para novas compreensões sobre como a fome e a saciedade são reguladas no corpo humano. A possibilidade de que esses mecanismos sejam semelhantes entre humanos e ratos sugere que futuros tratamentos para distúrbios alimentares ou obesidade podem ser desenvolvidos a partir desses insights. A combinação de técnicas genéticas e de neuroimagem utilizadas nesse estudo representa um avanço significativo na neurociência, permitindo uma compreensão mais profunda dos complexos processos cerebrais que governam nossos hábitos alimentares.

Este estudo, portanto, não apenas esclarece aspectos fundamentais da neurociência da alimentação, mas também estabelece uma base para investigações futuras que podem ter implicações diretas na saúde humana, no controle da obesidade e no tratamento de distúrbios relacionados à alimentação. [Nature]

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