Estes ursos feridos se recuperando com curativos de tilápia vão derreter seu coração
Você se lembra do inovador tratamento para queimaduras desenvolvido pela Universidade Federal do Ceará e anunciado em 2017? Nele, pele de tilápia esterilizada é colocada sobre a pele do paciente queimado e funciona como um curativo que dura até dez dias, acelerando o tratamento e diminuindo custos. Pois este tratamento acaba de ajudar duas ursas e um leão da montanha a se recuperarem mais rápido depois de um dos incêndios que atingiu a Califórnia recentemente. Os veterinários aprovaram os resultados e pretendem usar a técnica em vítimas de incêndios futuros.
No dia 4 de dezembro de 2017, o incêndio Thomas atingiu o sul do estado da Califórnia. Ele só foi controlado cinco semanas depois, e afetou milhares de pessoas e de animais selvagens. Duas ursas e um leão da montanha de cinco meses foram encontrados com queimaduras de terceiro grau nas patas, e uma das fêmeas estava com tanta dor que nem conseguia se levantar. Os animais foram resgatados e levados ao Departamento de Peixes e Vida Selvagem da Califórnia.
Uma das médicas veterinárias da Universidade da Califórnia que examinou o urso em pior estado estimou que levaria entre quatro e seis meses para ela se recuperar o suficiente para ser libertada. Este período é muito longo para manter ursos em cativeiro, especialmente considerando que uma delas estava esperando filhotes e poderia rejeitá-los se continuasse em um ambiente estressante.
Na corrida contra o tempo, a veterinária Jamie Peyton leu sobre a técnica brasileira que usa pele de tilápia, e resolveu testar o tratamento nos animais. Essas peles isolam a pele do paciente do exterior, evitando a contaminação e que a pele perca líquido e proteínas. Esta perda causa desidratação e prejudica a cicatrização.
Os ótimos resultados do tratamento foram quase imediatos. Logo após a aplicação da pele nas patas da ursa mais ferida, ela conseguiu se levantar pela primeira vez. Neste caso, as peles foram costuradas na pele da ursa e envoltas em papel de arroz para que ela não arrancasse a atadura tão rapidamente.
Em poucas semanas, a pele dos três animais se recuperou e eles estavam prontos para voltar para a natureza. No dia 18 de janeiro, as duas ursas foram liberadas na região vizinha a do incêndio, para que elas continuassem no mesmo habitat em que viviam antes. Os dois animais foram soltos a 8km de distância um do outro, colocados anestesiados em tocas construídas pela equipe do Departamento de Vida Selvagem da Califórnia. Já o filhote de leão da montanha foi levado para um santuário de vida selvagem.
Para Peyton, o mais importante nesta história foi a experiência da equipe com a técnica brasileira. “Esses animais contribuíram com a forma que vamos tratar queimaduras no futuro”. Com a mudança climática que tem causado incêndios cada vez mas frequentes no oeste estadunidense, é esperado que haja mais animais domésticos e selvagens queimados, e este provavelmente será o tratamento escolhido daqui para frente.
O incêndio Thomas afetou mais de mil quilômetros quadrados, destruiu mais de mil construções e forçou mais de 100 mil pessoas de Santa Bárbara e Ventura a deixar suas casas.
No tratamento desenvolvido no Brasil, as peles de tilápias são retiradas e lavadas em água corrente, esterilizadas inicialmente e enviadas ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) da Universidade de São Paulo (USP), onde são radioesterilizadas para eliminar qualquer vírus que poderia causar problemas. Essas peles esterilizadas podem ser refrigeradas e usadas em até dois anos.
Veja no vídeo abaixo como o tratamento com os animais foi feito:
2 comentários
Eu não li sobre estes tais curativos de tilápia. Gostaria de saber mais.
Entre em contato com o principal autor do estudo.
http://sbqueimaduras.org.br/associado-destaque-5/