Estudo mostra que genes ficam ainda mais ativos depois da morte de um organismo

Por , em 28.06.2016

É fácil determinar quando uma pessoa para de respirar e quando o seu coração para de bater. Exames também conseguem determinar que todas as atividades cerebrais cessaram. Mas e as atividades mais discretas, aquelas minúsculas, como no DNA?

Dois trabalhos publicados nesta semana mostram evidências de que os genes continuam ativos até 4 dias depois da morte do organismo. Essa descoberta pode revolucionar a forma como vemos os transplantes de órgãos.

Genes ficam ainda mais ativos

O estudo aconteceu na Universidade de Washington (EUA), e investigou a atividade genética em ratos e peixes-zebra mortos. Tudo começou quando um estudo anterior identificou que alguns genes humanos continuavam ativos mesmo 12 horas após a morte.

Os pesquisadores encontraram mais de mil genes que continuaram funcionando até dias depois da morte desses organismos. Com isso eles não quiseram dizer que essa atividade levou mais tempo para cessar do que as outras partes do corpo, mas sim que elas funcionaram ainda mais do que quando o organismo estava vivo.

Nos ratos, 515 genes entraram em atividade total 24 horas depois da morte. Já nos peixes-zebra, 548 genes fizeram o mesmo por quatro dias inteiros antes de reduzir sua atividade.

Para fazer esta medição, os pesquisadores observaram os níveis de RNA mensageiros presentes nos animais no momento da morte e até 96 horas depois. O RNA mensageiro é aquele que “encomenda” as proteínas necessárias naquele momento. Então se há mais RNA mensageiro em uma célula, isso indica que mais genes estão ativos.

Genes da vida e da morte

O que chamou atenção dos pesquisadores é que estes não são quaisquer genes. São aqueles que ajudam na formação de um embrião. Eles estimulam o sistema imunológico e contrabalanceiam o estresse, e só são observados em atividade nos momentos iniciais da vida.

“O que nos deixou de boca aberta é que esses genes do desenvolvimento são reativados depois da morte”, afirmou o pesquisador principal, Peter Noble.

Outra característica especial sobre alguns desses genes é que eles promovem a divisão celular rápida. Isso pode ser bom para um embrião em desenvolvimento, mas se essa divisão se tornar caótica, temos aí um tumor. Alguns dos genes observados provocam o câncer.

É possível que os genes entrem em ação nessas duas ocasiões: ao criar um novo corpo e ao tentar desesperadamente reanimar um corpo morto. Claro que eles não conseguem cumprir a segunda tarefa, mas essa ideia pode mudar a forma que encaramos o transplante de órgãos.

Transplante de órgãos

A jornada de quem precisa de um transplante de órgão não é nada fácil. Esse tratamento tira o paciente de perigo imediato, mas traz alguns outros problemas a longo prazo. Primeiro, é preciso tomar medicamentos imunossupressores para que o sistema imunológico da pessoa não ataque o novo órgão. Esses remédios em si já trazem efeitos colaterais importantes.

Estudos também mostram que quem é transplantado tem muito mais chance de ter 32 tipos de câncer, incluindo o linfoma não Hodgkin, câncer de rim e de fígado.

Noble afirmou em entrevista à Science Magazine que além das questões relativas aos imunossupressores, é possível que esse aumento nos casos de câncer venha desses genes que entram em atividade quando o doador do órgão morre.

“Nós provavelmente poderemos ter muita informação sobre a vida ao estudar a morte”, diz Noble.

É importante frisar que esta pesquisa ainda está nos estágios iniciais. Ela ainda não foi criticada pela comunidade científica e ainda não foi publicada em uma revista médica. Noble publicou os trabalhos online para convidar pesquisadores a criticarem os artigos antes de fazer a publicação nas revistas. Por isso, ela ainda não é conclusiva. [Science Alert]

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