Como usar o Facebook de forma mais saudável
Como a rede social mais bem sucedida do mundo, o Facebook se tornou um hábito para uma imensa parcela da população em todo o planeta. É inegável que ele tem seu valor – é uma ferramenta muito útil para nos mantermos em contato com amigos e familiares, ver fotos de entes queridos, ou usá-lo como fonte de notícias e pesquisas, ou simplesmente passar o tempo. Mas o uso contínuo dessa ferramenta, entretanto, pode prejudicar nossa produtividade e nossos relacionamentos “reais” se não tomarmos certos cuidados
A rede social de Mark Zuckerberg superou recentemente dois bilhões de usuários. Muitas dessas pessoas atravessam a linha do bom senso e fazem uso em excesso da rede social. Não é difícil lembrar de vezes em que gostamos do que ela nos oferece – contato com as pessoas, notícias, novidades, etc -, mas também odiamos como fomos sugados em um vortex de desperdício de tempo que nos afasta de atividades mais importantes e mais divertidas, e até mesmo nos envolvemos em atividades no Facebook que não gostamos, como discussões em comentários, muitas vezes com pessoas que nem conhecemos, cujas opiniões não deveriam nos afetar.
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Mas será que somos realmente viciados em redes sociais, como algumas pessoas dizem? Em alguns casos extremos, a resposta é sim. Mas, para a maioria de nós, a resposta é menos terrível do que isso.
“O que a maioria das pessoas pensa que é um vício é apenas um comportamento pouco regulamentado”, explica Andrew Przybylski, psicólogo experimental do Instituto Oxford da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Um especialista em vício tecnológico, Przybylski explica que muitas vezes as pessoas não entendem por que elas estão perdendo tanto tempo nas redes sociais, como o Facebook, e desejam poder parar.
Mas redes sociais podem sim ultrapassar a barreira do “mau uso” e chegarem a um vício de fato. Isso acontece quando todas as outras coisas se tornam irrelevantes.
Dependência comportamental x dependência química
Atividades como uso da tecnologia, trabalho, jogos de azar e sexo não podem se tornar vícios químicos, como a nicotina, o álcool e os opiáceos. Os primeiros são vícios comportamentais, e eles podem ser poderosos. Além disso, eles podem ser tão desafiantes para lidar quanto os vícios químicos.
“Não vejo as coisas em termos de abstinência”, diz Mark Griffiths, psicólogo e professor de dependência comportamental da Universidade Nottingham Trent, na Inglaterra. “Você não pode dizer a viciados em trabalho que não trabalhem ou a viciados em sexo para nunca mais terem relações sexuais. Da mesma forma, você geralmente não pode dizer aos viciados on-line para ficarem offline”, compara.
Em um post, ele revelou como o vício comportamental, especificamente no caso dos jogos de azar, pode ser “tão grave quanto as drogas”.
Mas como saber se você é realmente viciado em Facebook ou em outras redes sociais? Griffiths fornece algumas dicas valiosas:
– Essa se torna a atividade mais importante em sua vida.
– O uso entra em conflito com outras atividades.
– Você usa o Facebook para mudar seu humor. Você faz isso para se sentir bem ou para ficar entorpecido.
– Você desenvolve uma tolerância, precisando mais e mais para obter o mesmo efeito de modificação do humor.
Os dois primeiros itens são os mais importantes para se determinar o vício. As redes sociais são realmente a coisa mais importante em sua vida? De modo que todo o resto pode ir para o inferno?
Se você perde algumas horas por dia, mas ainda consegue trabalhar e fazer outras atividades com prazer, como comer ou estar com a família, e prefere outras coisas, como fazer exercícios e sexo, ao Facebook, então você não está viciado.
A ciência confirma: o Facebook faz mal para as pessoas
Mas ainda há a questão da perda de tempo e até mesmo a ansiedade que pode ser criada com o uso contínuo das redes sociais. A solução para isso está relacionada com um comportamento de necessidade de saber tudo o que está acontecendo que está bastante relacionado com redes sociais como o Facebook.
FOMO
Andrew Przybylski fala de certas necessidades psicológicas que os seres humanos têm: um sentimento de pertencimento, um senso de competência e uma sensação de autonomia. Ele foi o principal autor de um estudo de 2013 publicado na revista especializada Computers in Human Behavior que determinou que, quando as pessoas têm níveis baixos nessas três áreas, elas têm altos níveis de FOMO (sigla para “fear of missing out”, algo como “medo de ficar por fora”). E altos níveis de FOMO estão correlacionados com o alto uso de mídias sociais.
Por que o FOMO nos leva para uma plataforma como o Facebook? “O envolvimento das redes sociais apresenta um caminho de baixa fricção e de alta eficiência para aqueles que estão orientados para uma conexão contínua com o que está acontecendo”, diz o estudo de Przybylski.
Perguntas como “quanto você usa o Facebook” não fornecem respostas precisas. Para determinar “níveis mais elevados de engajamento em mídias sociais”, os autores do estudo perguntaram se as pessoas o usavam dentro de 15 minutos depois de acordadas, durante as refeições e dentro de 15 minutos antes de ir para a cama na semana anterior.
Risco vs. Recompensa
“O número de pessoas genuinamente viciadas no Facebook é baixo”, diz Mark Griffiths. Ele foi co-autor em um estudo com 5.961 adolescentes publicado no início deste ano sobre o uso problemático de mídias sociais e descobriu que apenas 4,5% se qualificaram como estando “em risco”. Mas muitos de nós usamos a plataforma de maneira negativa, como quando nos envolvemos em longas discussões, usamos as redes sociais para procrastinar trabalho ou evitar ficar com nossos entes queridos, ou para ficarmos chateados com as notícias que lemos, com os comentários que as pessoas deixam em nossas postagens, ou até mesmo com o número de likes que recebemos. Pode ser difícil para a produtividade, para os nossos relacionamentos, nosso bem-estar emocional e até mesmo nossa saúde física, se pulamos exercícios e fazemos escolhas alimentares não saudáveis por causa do tempo gasto nas mídias sociais.
Quem nunca teve problemas para dormir porque estava discutindo com um estranho nas redes sociais antes de deitar na cama?
Mas não é o caso de deletar sua conta e nunca mais ver o que ninguém posta. Em um estudo publicado no início deste ano, Andrew Przybylski e seu co-autor escreveram: “as evidências indicam que o uso moderado da tecnologia digital não é intrinsecamente prejudicial (para o bem-estar) e pode ser vantajoso em um mundo conectado”. O estudo examinou 235 adolescentes ingleses para testar a veracidade da “hipótese de Goldilocks”. Existe uma quantidade de uso de redes sociais que é “correto”?
Esta é a pior rede social para a saúde mental
O estudo descobriu que uma ou duas horas por dia de uso é ok, mas mais do que isso começa a ter “uma influência mensurável, embora pequena e negativa” no bem-estar mental, com mais tempo na frente de uma tela aumentando o efeito negativo.
Acredite ou não, é possível fazer um uso benéfico das redes sociais, abandonando a rolagem desnecessária e as discussões inúteis com pessoas cujas opiniões não devemos nos importar.
Como reduzir sua atividade nas redes sociais:
4. Exclua todos os aplicativos de redes sociais do seu telefone, recomenda Andrew Przybylski. “Faça isso para que você tenha que usar um navegador e não o deixe salvar sua senha. Faça com que, cada vez que você queira entrar, haja um esforço consciente de ter que fazer login”.
3. Crie suas próprias regras para o uso de redes sociais, como, por exemplo, trabalhar durante uma ou duas horas antes de abrir qualquer rede social, ou evitar fazer uso do Facebook uma hora antes de dormir
2. Evite discussões. “Você tem que saber que, não importa o que você escreva, alguém não vai gostar”, diz Griffiths. Com cada publicação ou comentário que você fizer no Facebook, você se abre para a crítica. Mas não há nenhuma lei dizendo que você deve se envolver ou rebater os comentários negativos.
É sempre melhor ignorar os “inimigos”, mas sei que pode ser especialmente difícil com o Facebook se alguém invade seu espaço. Você pode excluir a postagem e proibi-las – eles não têm o direito de transmitir suas opiniões em seu espaço eletrônico. Mas se você deseja dizer pelo menos algo, o método de Sir Winston Churchill pode servir.
Churchill foi o mestre da ironia sarcástica, seguido de nenhum outro envolvimento. Mas mesmo podendo ser útil, o sarcasmo pode fazer com que você seja sugado para a discussão. Se alguém está vomitando insultos, nada pode ser uma resposta melhor do que fingir que a pessoa não existe.
20 razões para não acreditar em fotos que você vê nas redes sociais
1. Limite suas fontes de notícias. Andrew Przybylski diz que o problema com as mídias sociais é que não é como assistir a uma série ou um filme no Netflix, que chegam a um fim fim. Não há fim da rolagem nas páginas. É importante limitar-se às fontes mais importantes para você se você está buscando informações e ignorar o resto
Para obter dicas mais detalhadas sobre como fazer uma “desintoxicação digital”, Mark Griffiths escreveu um artigo para a revista para a Psychology Today (você pode ler aqui, em inglês) que fornece várias coisas que você pode fazer para limitar de maneira mais fácil as redes sociais. Elas incluem não usar o seu telefone como um despertador, comprar um relógio de pulso para que você não precise usar seu telefone para verificar a hora, configurar horários específicos para uso de e-mail e redes sociais e encontrar uma atividade não relacionada à tela de um celular ou de um computador para “preencher o vazio”. [Life Hacker]