A nossa história evolutiva, como qualquer realidade, é ainda mais interessante que a ficção e recheada de pontos de virada surpreendentes.
Conforme cientistas descobrem novos fatos para explicar como o passado nos trouxe até aqui, nos embasbacamos com o papel que o acaso desempenhou na criação dos cérebros e corpos que temos hoje. Confira:
10. Os rostos dos homens evoluíram para levar socos
Até recentemente, acreditava-se que os rostos humanos robustos evoluíram cerca de quatro ou cinco milhões de anos atrás para ajudar nossos ancestrais australopitecos a mastigarem alimentos duros, como nozes. Mas essa crença foi socada na cara.
De acordo com um estudo da Universidade de Utah (EUA), nosso passado distante não era muito pacífico. A violência pode ter desempenhado um papel muito maior na evolução da fisiologia humana do que suspeitávamos. Por exemplo, os homens desenvolveram rostos robustos para minimizar o prejuízo de golpes durante lutas por mulheres, comida e território. Os ossos que se tornaram mais fortes são os mesmos que são mais comumente fraturados em combates corpo-a-corpo. Eles também são os ossos que mostram a maior diferença entre crânios masculinos e femininos: os ossos que mais se quebram em brigas são maiores nos homens.
9. Nossas mãos evoluíram para dar socos
Ao mesmo tempo que os nossos rostos evoluíram para levar um soco, nossas mãos evoluíram para dar um. Um estudo anterior dos mesmos pesquisadores da Universidade de Utah descobriu que as mãos humanas se desenvolveram de forma paradoxal. Quando comparado com os macacos, as mesmas características que nos permitem cerrar os punhos – palmas e dedos mais curtos e polegares maiores, mais fortes e mais flexíveis – também nos dão a habilidade de fazer e usar ferramentas delicadas. Isso não é verdade para macacos. Enquanto os chimpanzés podem fazer ferramentas, não podem cerrar os punhos.
Os pesquisadores acreditam que a natureza agressiva humana fez com que nossos corpos evoluíssem para máquinas de combate. Um ser humano que dá um soco com o punho fechado pode bater com mais força sem ferir a si mesmo. Punhos também podem ser usados para intimidação.
8. Tínhamos herpes antes de sermos humanos modernos
Não são apenas as nossas características físicas que evoluíram ao longo do tempo. Algumas doenças, como herpes, também evoluíram conosco, aparecendo em antigos símios e passando a infectar diferentes espécies de hominídeo até os humanos modernos.
Cerca de 67% dos humanos modernos têm pelo menos um vírus herpes simplex (HSV). De fato, os seres humanos são os únicos primatas que têm dois desses vírus, que geralmente se manifestam como feridas na boca ou bolhas nos genitais. A HSV-1 já infectava chimpanzés seis milhões de anos atrás. A HSV-2 passou de chimpanzés antigos para nossos ancestrais cerca de 1,6 milhões de anos atrás.
Cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) acreditam que compreender as origens desses vírus nos ajudará a evitar que outros façam o salto de animais para humanos. Ainda, pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade de Plymouth (ambas do Reino Unido) descobriram vírus antigos de neandertais no DNA humano moderno. Estes vírus vêm da família HML2 e podem estar ligados ao câncer e ao HIV em seres humanos modernos, tornando-os úteis como um potencial alvo de terapias no futuro.
7. Maior cérebro, menores dentes
Durante os últimos 2,5 milhões de anos, duas tendências na evolução humana foram ligadas: o tamanho do cérebro aumentou, enquanto o tamanho dos dentes diminuiu. Nós somos os únicos primatas aos quais isso aconteceu.
Normalmente, quando o cérebro cresce, os dentes também crescem, porque o corpo precisa de mais energia a partir do consumo de alimentos. Então, os cientistas chamam o que aconteceu com os seres humanos de “paradoxo evolutivo”. Eles acreditam que isso ocorreu porque os seres humanos começaram a comer mais carne, o que alimentou nossos cérebros.
Os seres humanos também são os únicos primatas a desenvolver esmalte grosso no dente. Primatas herbívoros têm o esmalte mais fino. Macacos que comem tanto plantas quanto animais têm esmalte de espessura média. Os seres humanos têm o esmalte mais grosso, presumivelmente para processar alimentos duros. Para os cientistas, o esmalte espesso tem outro benefício: ajuda a determinar a idade e a dieta de fósseis humanos.
6. Nossos “Adão” e “Eva” viveram ao mesmo tempo
Os pesquisadores costumam usar o nome de “Adão cromossômico Y” para se referir ao nosso mais recente ancestral masculino comum. Os homens normalmente têm um cromossomo X e um cromossomo Y. As mulheres têm dois cromossomos X.
De acordo com um estudo publicado no European Journal of Human Genetics, “Adão” provavelmente viveu cerca de 209 mil anos atrás. Este modelo contradiz um estudo anterior da Universidade do Arizona (EUA) que sugere que o cromossomo Y é anterior a humanidade. Os pesquisadores do Arizona acreditavam que o cromossomo Y dos humanos modernos do sexo masculino foi criado através do cruzamento entre espécies mais de 500.000 anos atrás. Mas os autores da pesquisa mais recente alegam que a metodologia de Arizona, se interpretada corretamente, criaria um “paradoxo do espaço-tempo em que o indivíduo mais antigo pertencente à espécie Homo sapiens ainda não nasceu”.
O estudo mais recente também crê que o Adão cromossômico Y viveu na mesma época de “Eva”, a mais recente ancestral genética dos humanos modernos. No entanto, os pesquisadores afirmam que não houve uma única Eva e um único Adão. Em vez disso, havia grupos de Adão e Eva caminhando pelo mundo juntos.
5. Sua avó te ajudou a viver mais
Pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) testaram a teoria evolucionária “hipótese da avó” de que os seres humanos desenvolveram uma expectativa de vida maior que a dos macacos porque avós humanas ajudaram a alimentar seus netos. Outros primatas precisam encontrar seu próprio alimento depois de serem desmamados por suas mães.
Quando avós começaram a ajudar a alimentar seus netos desmamados, suas filhas puderam ter mais filhos mais rápido. As simulações mostraram que levou menos de 60 mil anos para as mulheres pararem de morrer depois de seus anos férteis e passarem a viver décadas após a menopausa. Quando os cientistas introduziram o menor efeito de ajuda da avó possível em suas simulações, a expectativa de vida humana ainda assim aumentou dramaticamente. Eles concluíram que as avós contribuíram ou mesmo causaram mudanças importantes na evolução humana, como cérebros maiores, dependência social e nossa tendência de trabalhar em conjunto.
4. Uma proteína pode ter ajudado a aumentar o tamanho do nosso cérebro
Pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA) tem outra teoria segundo a qual o cérebro humano evoluiu tão rapidamente em tamanho e complexidade. Eles verificaram que um domínio de proteína, que é uma unidade específica dentro de uma proteína, ocorre em maior número em seres humanos do que em outros animais. O domínio é DUF1220, e quanto mais cópias você tem, maior é seu cérebro. Os seres humanos têm 270 cópias em seu genoma. Em segundo lugar aparecem os chimpanzés e gorilas, com 125 e 99. Ratos têm apenas uma cópia. Isso significa que o tamanho do cérebro pode depender muito desse domínio de proteína.
No entanto, o tamanho do cérebro em si não é o único fator que nos diferencia de chimpanzés e outros animais. Temos também atividades mais complexas dos genes no cérebro, o que ajuda com a aprendizagem.
3. Devemos muito de quem somos hoje à capacidade única de arremesso dos nossos antepassados
As habilidades de arremesso dos jogadores de beisebol modernos evoluíram a partir de nossos ancestrais humanos extintos. Os primeiros seres humanos aprenderam a atirar pedras e afiadas lanças de madeira para ajudar na caça, quase dois milhões de anos atrás.
De acordo com pesquisadores da Universidade George Washington e da Universidade de Harvard (ambas nos EUA), os chimpanzés não têm a mesma habilidade. Na melhor das hipóteses, os chimpanzés podem lançar uma bola com cerca de um terço da velocidade que um menino jogador de beisebol de 12 anos de idade.
Para descobrir como os seres humanos lançam tão bem, os cientistas gravaram e analisaram jogadores de beisebol, e perceberam que o ombro humano age como um estilingue armazenando e liberando energia durante o arremesso. Certas características do torso humano, ombro e braço evoluíram especificamente para nos ajudar a armazenar essa energia. Tais habilidades permitiram que nossos antepassados caçassem e comessem bem. Esse consumo de carne impulsionou a evolução dos nossos grandes cérebros e corpos, e nos permitiu viajar para novas partes do mundo. Assim, a capacidade única dos nossos antepassados de arremessa também ajudou a fazer de nós quem somos hoje.
2. Nosso metabolismo lento pode ser responsável por nossas vidas longas
Os seres humanos e outros primatas queimam 50% menos calorias do que outros mamíferos. Isso significa que um ser humano teria que correr uma maratona por dia para sequer chegar perto de queimar o mesmo número de calorias que um mamífero não primata do mesmo tamanho. De acordo com um estudo recente, nosso metabolismo lento pode explicar por que crescemos tão lentamente, temos tão poucos filhos e vivemos por tanto tempo. Também pode explicar por que temos tantos programas de perda de peso.
Mas se você está malhando e tendo problemas para emagrecer, o estudo pode dar-lhe uma desculpa. Ele também descobriu que os primatas enjaulados nos zoológicos gastam tanta energia quanto os seus homólogos na natureza, o que implica que a atividade física pode afetar o número de calorias queimadas por dia menos do que pensávamos. Por comparação, a maioria dos mamíferos, como os nossos cães e hamsters, vivem rápido e morrem jovens, muitas vezes na adolescência ou mais cedo. Os pesquisadores acreditam que as condições ambientais influenciaram a evolução do nosso metabolismo lento que nos dá vidas longas.
1. Somos quem somos por um acaso do destino
Cientistas da Universidade de Chicago (EUA) fizeram uma “viagem no tempo molecular” para ver se a evolução humana poderia ter sido diferente. Eles começaram com uma importante proteína humana, que existe há centenas de milhões de anos. A proteína acabou por se tornar o receptor celular para o hormônio do estresse cortisol. Os biólogos queriam descobrir como a proteína antiga evoluiu para se tornar sensível ao cortisol.
Após estudar milhares de alternativas, eles encontraram apenas uma resposta: o ato foi completamente aleatório. Duas mutações extremamente improváveis tiveram que ocorrer para permitir que a proteína desenvolvesse sua sensibilidade ao hormônio. Em outras palavras, a forma moderna da proteína ocorreu por causa de uma reviravolta do destino em nosso passado antigo.
Os pesquisadores acreditam que uma série de eventos de baixa probabilidade aleatórios afetaram as proteínas que nos tornaram o que somos. Se elas evoluíssem novas funções desta forma, poderia explicar a diversidade e variedade genética da vida. Isso também significa que, com algumas reviravoltas genéticas diferentes do destino, os seres humanos poderiam ter evoluído para uma criatura completamente diferente. [Listverse]