Inteligência artificial pode estar atrofiando nosso cérebros

Por , em 18.02.2024

De maneira similar à forma como a tecnologia GPS nos smartphones prejudicou nossa habilidade de navegação e memória espacial, há uma preocupação crescente de que a inteligência artificial possa em breve reduzir nossa capacidade de tomar decisões independentes. Esse desenvolvimento potencial tem sido considerado “catastrófico” por um especialista na área.

Falando ao PsyPost, Umberto León Domínguez, uma autoridade em neuropsicologia da Universidade de Monterrey no México, compartilhou descobertas recentes que sugerem que a IA, especialmente os chatbots de IA, podem ir além de simplesmente imitar nossos estilos de conversação; eles poderiam afetar de forma abrangente nossos processos mentais.

Dominguez, que também é educador, expressou preocupações com o uso de plataformas de IA como o ChatGPT por estudantes. Motivado por essas inquietações, ele revelou ao PsyPost sua pesquisa sobre a possibilidade de chatbots de IA perturbarem nossas habilidades cognitivas avançadas e a necessidade de fortalecer essas capacidades.

“O impacto que comecei a investigar”, disse ele, “vai além dos estudantes para a humanidade como um todo, focando nos efeitos potencialmente desastrosos que essas tecnologias podem ter em um grande segmento da população ao impedir o desenvolvimento de funções cognitivas.”

Em seu artigo, recentemente apresentado na revista Neuropsychology da American Psychology Association, Dominguez sugere que a IA poderia funcionar como uma “prótese cognitiva”. Inicialmente proposta em 2019 por Falk Lieder, especialista em IA do Instituto Max Planck para Sistemas Inteligentes, essas ajudas cognitivas artificiais, projetadas para lidar com tarefas mentais e auxiliar na tomada de decisões, foram originalmente vistas como benéficas. No entanto, Dominguez acredita que estão longe disso.

Pense Nisso

Em sua publicação, o acadêmico mexicano argumenta contra a ideia de que a IA poderia ser uma adição benéfica ao intelecto humano. Ele levanta preocupações sobre o “desvio cognitivo”, a prática de substituir a IA por atividades mentais como a resolução de problemas, que tradicionalmente são feitas por meio do pensamento ativo. De forma análoga à maneira como a inatividade física pode enfraquecer os músculos, a dependência excessiva da IA para o pensamento pode levar ao declínio mental.

Dominguez reconhece que o desvio cognitivo pode ser vantajoso, pois permite realocar recursos mentais para pensamentos mais complexos. No entanto, ele está alarmado com a possibilidade de ferramentas como o ChatGPT evoluírem para lidar com tarefas como planejamento e tomada de decisões para os indivíduos, um conceito que ele acha perturbador.

Ele explica: “Da mesma forma que a habilidade em basquete requer a prática do jogo, o desenvolvimento de habilidades intelectuais sofisticadas exige envolvimento ativo e não pode depender totalmente do suporte tecnológico.”

Embora a ideia de usar o ChatGPT para tomar decisões possa parecer absurda para aqueles familiarizados com seu progresso, já existem evidências de pessoas testando-o dessa maneira. Considerando o impacto dos smartphones em nossas habilidades cognitivas, é plausível que a IA possa ter implicações igualmente significativas.

Além disso, a integração da IA no cotidiano tem potencial para alterar fundamentalmente a maneira como interagimos com o mundo ao nosso redor. À medida que nos acostumamos a depender de assistentes virtuais e algoritmos para orientação em tarefas diárias, há o risco de nos tornarmos menos autônomos em nosso pensamento e ação. Essa dependência pode limitar nossa capacidade de resolver problemas de forma criativa e independente, habilidades essenciais no mundo moderno.

A preocupação de Dominguez reflete um dilema central da era digital: como equilibrar os benefícios da tecnologia avançada com a preservação das capacidades humanas fundamentais. Seu trabalho sugere que é crucial considerar os efeitos a longo prazo da interação constante com a IA em nossas habilidades cognitivas. À medida que avançamos na era da informação, devemos estar atentos às implicações dessas tecnologias em nosso desenvolvimento intelectual e emocional.

O papel da educação, neste contexto, é vital. Professores e educadores, como Dominguez, têm a responsabilidade de guiar os jovens no uso responsável e consciente da tecnologia. Isso envolve ensinar não apenas como usar essas ferramentas de forma eficaz, mas também como manter uma mente crítica e independente em um mundo cada vez mais automatizado.

Em última análise, o alerta de Dominguez ressalta a importância de uma abordagem equilibrada para a tecnologia. É essencial reconhecer os benefícios da IA e, ao mesmo tempo, entender os riscos potenciais que ela apresenta para nossas habilidades cognitivas e de tomada de decisão. À medida que continuamos a explorar os limites da inteligência artificial, devemos também investir na preservação e no desenvolvimento de nossas habilidades e capacidades humanas. [Futurism]

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