Evite terríveis infecções ao lavar as mãos como uma microbióloga
Cansamos de ver propagandas de sabonetes ultra eficazes contra os germes na televisão. Mas será que saber qual é o sabonete mais eficaz deveria ser nossa maior preocupação?
Para a microbiologista Michelle Sconce Massaquoi, candidata a uma vaga de doutorado na Universidade do Oregon, nos EUA, para manter nossas mãos limpas, devemos nos preocupar em como prevenir o crescimento e propagação de bactérias causadoras de doenças específicas ou agentes patogênicos.
Após lavar as mãos, não as esfregue!
Em um texto publicado no site The Conversation, Massaquoi explica como isso é possível. “Esta questão é difícil de responder. Você não pode dizer com o olho quais bactérias que crescem dentro de uma placa de Petri são “boas” versus aquelas que causam doenças, e alguns micróbios patogênicos, como os vírus, não podem ser detectados em placas de petri”.
Será então que é possível manter nossas mãos limpas dos germes? Massaquoi explica que existem duas estratégias principais. “A primeira é diminuir a biomassa global dos micróbios – isto é, diminuir a quantidade de bactérias, vírus e outros tipos de microorganismos. Fazemos isso por meio de espuma com sabão e enxaguamento com água. A química do sabão ajuda a remover os microorganismos de nossas mãos, acentuando as propriedades escorregadias de nossa própria pele. Estudos demonstraram que efetivamente lavar as mãos com água e sabão reduz significativamente a carga bacteriana de bactérias que causam diarreia”, explica.
A segunda estratégia é realmente matar as bactérias. Podemos fazer isso usando produtos com um agente antibacteriano, como álcoois, cloro, peróxidos, clorhexidina ou triclosan.
Alguns trabalhos acadêmicos mostraram que sabões antibacterianos são realmente mais eficazes em reduzir certas bactérias nas mãos sujas do que sabões comuns. Mas é claro que não é tão fácil assim. Massaquoi explica que algumas células bacterianas em nossas mãos podem ter genes que lhes permitem ser resistentes a um determinado agente antibacteriano. Isto significa que após o agente antibacteriano matar algumas bactérias, as cepas resistentes que permanecem nas mãos podem florescer.
“Além disso, os genes que permitiram que as bactérias fossem resistentes podem passar para outras bactérias, causando cepas mais resistentes. Juntas, as cepas resistentes tornariam o uso do agente antibacteriano essencialmente ineficaz”, aponta. “Além disso, o uso prolongado de alguns produtos antibacterianos pode prejudicar sua saúde”.
Ela cita estudos com o agente antibacteriano triclosan, que costumava estar em sabões, pastas dentárias e desodorantes, que demonstraram que ele altera a forma como os hormônios funcionam no corpo. A Food and Drug Administration, agência de controle dos EUA, proibiu o uso de produtos de lavagem anti-séptica sem receita médica contendo triclosan e muitos outros ingredientes ativos antibacterianos.
Por isso tudo, Massaquoi recomenda que fiquemos mesmo com os velhos água e sabão, mas de forma correta.
Melhores práticas
Para limpar as mãos, Massaquoi diz que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomendam que:
– as mãos sejam molhadas com água limpa.
– aplique-se sabão e espuma / esfregue todos os cantos das mãos por 20 a 30 segundos
– enxague-se bem com água corrente limpa
– seque-se as mãos com uma toalha de papel limpa ou deixe-se secar naturalmente no ar
Parece simples, mas muitas vezes não é o que fazemos. “Fiquei chocada ao ler um estudo que indicava que 93,2% dos 2.800 entrevistados não lavavam as mãos depois de tossir ou espirrar. Além disso, um estudo recente mostrou que, em um ambiente universitário com observações de 3.749 pessoas, o tempo médio de lavagem das mãos era de aproximadamente seis segundos!”, se espanta a microbiologista.
6 coisas extremamente sujas que você toca todos os dias
Se o sabão e a água não estiverem disponíveis, o CDC recomenda o uso de um desinfetante para uso com base em álcool que contenha pelo menos 60% de etanol. Os álcoois têm um amplo espectro de atividade antimicrobiana e são menos seletivos quanto à resistência em comparação com outros produtos químicos antibacterianos, diz ela. No entanto, os desinfetantes de mão à base de álcool podem não funcionar em todas as classes de germes.
Boas bactérias
A presença de algumas bactérias em nossas mãos não é necessariamente uma coisa ruim. “No laboratório em que estou cursando minha dissertação, nosso foco é compreender as interações complexas entre hospedeiros e bactérias. Eu seria negligente em não mencionar que as bactérias que vivem dentro ou em cima de nós são essenciais para nós, especialmente considerando seu papel em nos proteger contra patógenos”, lembra a especialista.
Como não as vemos, é fácil esquecer, mas trilhões de bactérias diferentes colonizam nossa pele, intestino e orifícios. Juntamente com leveduras e vírus, elas formam nosso microbiota. Massaquoi afirma que diversas pesquisas sugerem que as associações entre hospedeiros animais com seu microbiota não são ocorrências raras, mas na verdade são fundamentalmente importantes para a biologia do hospedeiro.
“Nosso microbiota pode nos proteger de germes, treinando nosso sistema imunológico e por resistência de colonização, a capacidade do microbiota intestinal de bloquear a colonização de agentes patogênicos. Embora seja necessário fazer mais pesquisas para entender as intrincadas interações entre comunidades microbianas com células hospedeiras, o trabalho consistente ilustra que uma população diversificada de micróbios e um equilíbrio desta comunidade é importante para a nossa saúde”, aponta ela.
A má alimentação, a falta de sono, o estresse e o uso de antibióticos podem perturbar negativamente nossas comunidades microbiotas, aumentando o risco de doenças. Nosso microbiota é ativo na prevenção e às vezes de condução de doenças, dependendo do estado das comunidades microbianas.
Massaquoi diz que sua mensagem é que lavar as mão com água e sabão de forma correta e manter nosso microbiota saudável são essenciais para nossa saúde.
“Não há dúvida de que lavar as mãos com sabão líquido e água é eficaz na redução da propagação de microorganismos infecciosos, incluindo aqueles que são resistentes a agentes antimicrobianos. Quando você não tem a oportunidade de lavar as mãos depois de tocar superfícies questionáveis, use um desinfetante de mão à base de álcool. Limite o toque de suas mãos na boca, no nariz e nos olhos. Além disso, mantenha um microbiota saudável, limitando o estresse, durmindo o suficiente e “fertilizando” seus micróbios intestinais com uma diversidade de alimentos à base de plantas”, conclui. [Science Alert]