Maconha e religião: erva era usada para chegar a “êxtase religioso” em Israel

Por , em 31.05.2020
O santuário, incluindo a matéria vegetal não identificada nos altares, ficou assim “esquecido” no Museu de Israel por quase 50 anos.

Cientistas acreditam ter encontrado evidências de uso de maconha em cerimônias de alguma religião da época em um santuário do século 8 aC em Israel.

O santuário

Na década de 1960, cientistas escavaram um local conhecido como “Fortaleza de Tel Arad”, localizado a noroeste da cidade moderna de Arad, ao sul de Israel.

Local onde fica o santuário onde maconha e religião tinham um papel juntas
Fortaleza do reino de Judá

Acredita-se que a fortaleza pertencia ao Reino de Judá, formado após a morte do rei Salomão. Nela, foram descobertas evidências de um santuário. Dentro desse santuário, havia uma sala recheada de objetos religiosos e dois altares de pedra. Aglomerados de matéria orgânica preta foram encontrados em cima de cada altar, mas na época os pesquisadores não conseguiram examiná-la.

O santuário, incluindo a matéria vegetal não identificada nos altares, ficou assim “esquecido” no Museu de Israel por quase 50 anos.

Décadas mais tarde, os cientistas finalmente realizaram análises químicas desse material e descobriram que, no maior dos altares, os adoradores estavam queimando incenso. Já no menor, estavam queimando algo muito mais “doido”: foram identificados traços de tetra-hidrocanabinol (THC), canabidiol (CBD) e canabinol (CBN), todos produtos químicos presentes na maconha.

“Êxtase religioso” e maconha

De acordo com Eran Arie, curador arqueológico da Idade do Ferro e do Período Persa no Museu de Israel e principal autor do estudo, a descoberta foi surpreendente e sugere que a maconha era provavelmente utilizada em rituais na Judá bíblica.

Por qual motivo?

Provavelmente, evocar um tipo de “êxtase religioso”.

“O fato de que eles provavelmente estavam trazendo maconha de longe, levando-a para o templo e colocando-a em um altar diferente, é a razão pela qual assumimos que o propósito era êxtase religioso e não outra coisa”, disse ao portal Inverse.

Avanços

Arie diz que uma das coisas mais interessantes sobre esse estudo é que ele evidencia o avanço do campo arqueológico.

As amostras de plantas permaneceram não identificadas por décadas até os pesquisadores terem a oportunidade de usar novos tipos de análise científica, particularmente cromatografia gasosa e espectrometria de massa, para separar e examinar seus compostos e determinar do que se tratavam.

Especificamente, o altar maior continha incenso misturado com gordura animal, provavelmente para facilitar a evaporação.

Já o altar religioso menor continha sinais de terpenos, o produto químico que dá à maconha sua fragrância, e esterco animal, o que sugere que a maconha foi misturada às fezes para promover sua queima.

Surpresa

Enquanto encontrar incenso era absolutamente esperado para o período, uma vez que seu uso é constantemente mencionado em textos assírios e na Bíblia, a cannabis conta literalmente outra história sobre a vida religiosa desse mundo antigo.

Seu contexto no santuário de Arad é bem claro: os dois altares situam-se em uma área acessada por uma escada semelhante à encontrada no antigo Templo de Jerusalém, um espaço tão sagrado que só pode ser acessado pelo sumo sacerdote israelita.

Segundo Aire, isso não só confirma a natureza religiosa da maconha, como comprova que o êxtase ou algum tipo de estado religioso da consciência fazia parte do culto em Judá.

Tirando proveito do beck há milhares de anos

Essa sequer é a evidência mais antiga do uso de maconha como um psicoativo. Em 2019, pesquisadores encontraram TCH em queimadores de incenso funerário na Ásia Central, provavelmente utilizados em um contexto religioso pelo povo cita, guerreiros nômades que viveram cerca de 2.500 anos atrás.

Enquanto hoje em dia a maconha é utilizada por vários motivos, de entretenimento a remédio, essas descobertas demonstram que seres humanos já eram partidários de seus efeitos há muito mais tempo.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Tel Aviv. [Inverse]

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