Nobel 2012: pesquisadores de terapia celular e sistemas quânticos são premiados

Por , em 9.10.2012
Serge Haroche e David J. Wineland

Todos os anos desde 1901, o Prêmio Nobel é concedido para grandes mentes que contribuíram com realizações em diversas áreas. Tradicionalmente, o anúncio dos laureados é feito no início de outubro.

Até agora, os prêmios de Física e Medicina já foram anunciados.

Na segunda-feira, 8, o Nobel de Medicina foi oferecido ao britânico John B. Gurdon e ao japonês Shinya Yamanaka, pela descoberta de que células humanas maduras podem ser reprogramadas para que possam se desenvolver em qualquer tecido do corpo.

Hoje, terça-feira, 9, o francês Serge Haroche e o americano David J. Wineland foram anunciados como os vencedores do Nobel de Física, por seus trabalhos com inovadores métodos experimentais que permitem medição e manipulação de sistemas quânticos.

Na quarta-feira, 10, serão anunciados os vencedores em Química, na quinta-feira, 11, o de Literatura, na sexta-feira, 12, o da Paz e na segunda-feira, 15, o em Economia.

Revolucionando a teoria, buscando a prática

John B. Gurdon e Shinya Yamanaka

Células estaminais pluripotentes estão presentes em um embrião nos primeiros dias depois da concepção, e podem ser transformadas em quaisquer células existentes no organismo adulto: células nervosas, musculares, do fígado, etc.

Gurdon descobriu nos anos 1960 que a especialização das células é reversível – e foi considerado louco. Há 50 anos, publicou um estudo revolucionário que desafiava o conhecimento estabelecido em relação ao funcionamento celular: Gurdon disse que as células do embrião não ficavam com conteúdo genético inalterável depois de se diferenciar.

Como ele fez isso? Em um experimento com sapos, transplantou o núcleo de uma célula do intestino — e o DNA dentro dela — para um óvulo do animal. O óvulo se desenvolveu de modo normal, mostrando que o DNA do intestino ainda continha as informações necessárias para produzir todos os outros tipos de célula do corpo. Você já pode imaginar como isso foi recebido naquela época.

Gurdon conviveu por muito tempo com a desconfiança em relação a sua capacidade científica, mas, quatro décadas depois, Yamanaka conseguiu consagrar sua teoria levando-a ao limite: analisou células maduras intactas de ratos e concluiu que elas podem ser reprogramadas para se tornarem “células estaminais”, capazes de formar qualquer tecido.

“Livros didáticos foram reescritos e novas áreas de pesquisa foram estabelecidas. Por reprogramação de células humanas, os cientistas criaram novas oportunidades para estudar doenças e desenvolver métodos de diagnóstico e terapia”, disse o comunicado do comitê do Prêmio Nobel.

O desdobramento da pesquisa que mais chama atenção é a terapia celular: usar uma célula-tronco saudável para substituir outra célula danificada. Por exemplo, após um infarto, poderíamos retirar uma célula da pele, reprogramá-la, transformá-la em músculo cardíaco e transplantá-la de volta no paciente, sem risco dele rejeitá-la.

O conceito tem um enorme potencial, mas pesquisas ainda não conseguiram transformar a ideia em prática. Ainda não existe um tratamento celular amplamente disponível, ou seja, a terapia celular ainda não é prática clínica padrão.

Enxergando o invisível

Serge Haroche e David J. Wineland

Tema que anda super bem cotado por aí, a física quântica já rendeu a empresa D-Wave US$ 30 milhões (cerca de R$ 60 mi) em investimentos por grandes empresas da tecnologia que estão morrendo de vontade de ter um computador quântico. Serge Haroche e David J. Wineland de alguma forma vão ajudar esses e outros sonhos quânticos a se tornarem realidade.

Eles desenvolveram formas de medir partículas quânticas – ou seja, partículas minúsculas – sem destruí-las, algo que até então era considerado impossível. “Eles abriram a porta para uma nova era de experimentação em física quântica”, argumentou o comitê do Nobel.

De forma independente, a pesquisa de cada um desenvolveu métodos para medir e manipular partículas individuais sem destruí-las, preservando a sua natureza quântica. Esses delicados estados quânticos antes eram inacessíveis para observação direta.

Embora desenvolvidos independentemente, seus métodos têm muitas coisas em comum. David Wineland prendeu átomos eletricamente carregados – ou íons – em “armadilhas”, controlando-os e medindo-os com a luz (fótons), e Serge Haroche fez o inverso, controlando e medindo fótons aprisionados através do envio de átomos por uma “armadilha”.

Esses métodos permitiram que o campo da pesquisa quântica avançasse e se aproximasse de aplicações práticas, como a construção de relógios extremamente precisos (cerca de cem vezes mais precisos que os atuais) que poderiam se tornar a base para um novo padrão de tempo.

O nobre Prêmio

O Prêmio Nobel foi criado em 1895 pelo químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite. As premiações passaram a ser entregues em 1901.

Morto em 1896, Nobel determinou em seu testamento que sua fortuna fosse revertida “aos que prestam grandes serviços à humanidade”.

Todos os anos, o prêmio é concedido para pessoas com grandes realizações nas aéreas de física, química, fisiologia ou medicina, literatura e paz. Desde 1968, também é concedido o Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas.

Além de uma medalha e um diploma, os vencedores ganham um prêmio em dinheiro. Neste ano, em consequência da crise econômica, a Fundação Nobel reduziu o valor do prêmio para oito milhões de coroas suecas (cerca de 2,4 milhões de reais) por prêmio, contra 10 milhões de coroas concedidos desde 2001.

A premiação internacional é administrada pela Fundação Nobel em Estocolmo, na Suécia. Os anúncios dos laureados são feitos no início de outubro, mas as entregas só acontecem em 10 de dezembro, no aniversário de morte de Nobel, e ocorrem em duas cerimônias paralelas: em Oslo para o da Paz, e em Estocolmo para os restantes.

Saiba curiosidades do Prêmio Nobel aqui. Acompanhe o resto das premiações aqui.[Nobel, DCI, Terra, EM, G1, IG, Veja 1 e 2]

4 comentários

  • Apocalipsi Onze:

    uma mente aberta concegue enxergar centenas de anos luz a frente e + 2 ou 3 ajudando em sintonia podemos descobrir muitissimas coisas abscuras ,que muita das vezes esta na ponta do nosso nariz..como disse o saudoso Raul Seixas (quem descobrir o calcanhar de Aquiles ,com um só palito para o computador) e vamo que vamos …

  • D. R.:

    Toda vez que vejo alguém (mesmo cientistas) dizer que algo é impossível sempre ‘fico com um pé atrás’; pois, a ciência ao longo dos séculos têm demonstrado que todos aqueles que afirmavam isso, geralmente, estavam errados.

    Embora, ainda acho (até prova em contrário) que pelo menos duas coisas são realmente impossíveis para a ciência: a viagem ao nosso passado e fazer programas de computador ou robôs sentirem algo (amor, dor, etc.) de verdade.

    E a maioria desses intelectuais pioneiros e revolucionários, infelizmente, sempre foram desprezados ou considerados loucos pelos seus pares da época. Felizmente, a história tem feito justiça a esses gênios incompreendidos; embora, geralmente, tarde demais.

    Quanto ao Prêmio Nobel de Medicina, inclusive, ele foi elogiado até pelo Vaticano; pois, esses cientistas demonstraram que não é preciso matar embriões humanos para produzir células tronco a fim de fazer medicina regenerativa.

    http://www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio/?id=1305686&tit=vaticano-elogia-premio-nobel-de-medicina

  • Luiz Morais:

    Quanto mais mentes presas em calabouço de antigas concepções fundadas num convencionalismo tolo onde o limite humano é a fé, não haverá horizonte para ser ultrapassado. Categorizam os loucos delimitando o desenvolver da humanidade, mas isso não impede que alguns “loucos” ultrapassem a velha concepção de moral divina e unicamente a esses devemos como humanidade agradecer!

  • Ro Schwartz:

    E viva a loucura!!!

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