O ser humano adora ser assustado; confira explicação psiquiátrica

Por , em 1.11.2017

O medo é um mecanismo de sobrevivência importante para qualquer animal. A reação protege organismos de ameaças à sua existência. O medo acontece em vários níveis, entre uma pequena agonia até um grau tão forte que causa ansiedade e ataques de pânico.

Os psiquiatras da Universidade Estadual Wayne (Detroit, EUA), Arash Javanbakht e Linda Saab, explicam como o mecanismo funciona. “Algumas das substâncias químicas que contribuem para a reação de lutar ou fugir também estão envolvidas em outros estados emocionais positivos, como a felicidade e empolgação”, dizem eles ao Science Alert.

Logo, faz sentido que a sensação de empolgação que temos depois de um susto se transforme em uma experiência mais positiva. Mas qual a diferença entre levar um “sustinho gostoso” e ficar completamente aterrorizado?

Os pesquisadores afirmam que tudo depende do contexto em que o susto acontece. “Quando nosso cérebro racional dá um feedback para o nosso cérebro emocional e percebemos que estamos em um local seguro, podemos rapidamente mudar a forma como sentimos a experiência, indo do medo à empolgação”.

Quando você entra em uma casa mal-assombrada no Halloween, por exemplo, e um fantasma cai do teto, você sabe que aquilo não é realmente uma ameaça e consegue rapidamente classificar a experiência como divertida. Por outro lado, se você estiver andando em uma rua escura e um desconhecido começar a correr atrás de você, as áreas emocional e racional do seu cérebro vão concordar que aquela situação é realmente perigosa e que é melhor correr.

Como funciona a sensação de medo


A sensação de medo começa no cérebro e se espalha para o corpo para fazer ajustes que o animal consiga correr ou lutar.

A resposta ao medo começa na região do cérebro chamada amígdala. Essa região com formato de amêndoa que fica no lóbulo temporal do cérebro detecta a saliência emocional de um estímulo, ou seja, como as coisas ao nosso redor se destacam para nós.

Por exemplo, a amígdala é ativada quando vemos um rosto humano demonstrando uma emoção. Essa reação é maior com medo ou raiva.

Um estímulo de perigo, como ver um predador, desencadeia uma reação de medo na amígdala, que ativa áreas envolvidas na preparação de funções motoras que vão entrar em ação na fuga ou na luta. Ela também desencadeia a liberação de hormônios de estresse.

Isso tudo torna o nosso cérebro mais alerta, nossas pupilas e os brônquios dilatam, os músculos ficam tensos. Órgãos que não são necessários neste momento são colocados em modo de espera, como os do sistema gastrointestinal.

O hipocampo e córtex pré-frontal ajudam a avaliar o contexto do perigo. Ver um leão em um campo aberto causa uma reação de terror, mas ver um leão em uma jaula de zoológico não causa esta reação.

Por que algumas pessoas adoram ser assustadas?


Segundo Javanbakht e Saab, o medo é uma distração que pode ser uma experiência positiva. Quando algo assustador acontece, por alguns instantes nosso corpo fica completamente alerta e focado naquilo, e todas as outras preocupações são colocadas em segundo plano. Ou seja, aquele problema no trabalho ou na escola são esquecidos por um momento.

Além disso, quando temos essa experiência com amigos e pessoas que gostamos, podemos ser contagiados de forma positiva. Quando vemos um amigo na casa mal-assombrada passar de um estado de medo para um estado de diversão, acabamos sendo influenciados por esta mudança emocional. “Somos criaturas sociais”, dizem os pesquisadores.

Outro motivo é a sensação de estar no controle da situação. Quando conseguimos reconhecer que aquele não é um perigo real, reclassificar a experiência e aproveitá-la, sentimos que a situação está sob controle.

Por que algumas pessoas não gostam de ser assustadas?


Não é todo mundo que curte um filme de terror. A experiência pode causar muita tensão e nenhuma diversão. “Qualquer falta de equilíbrio entre o medo e a sensação de estar no controle pode causar muita ou pouca empolgação”, dizem os psiquiatras.

Se a pessoa percebe a experiência como “muito real”, uma resposta de medo exagerada pode superar a sensação de controle da situação.

Mesmo quem gosta de filmes de terror pode ter um limite quanto ao tamanho do susto que gosta de levar. Algumas pessoas podem gostar de filmes de terror mais light, mas não chegam nem perto de O Exorcista, por exemplo.

Por outro lado, se a experiência não parece real o suficiente e o filme parece muito forçado, a pessoa pode acabar sentindo-se entediada.

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Quais são os transtornos de medo?


Colocando a diversão de lado, os psiquiatras explicam que níveis anormais de medo podem causar estresse em excesso e impedir a pessoa de curtir a vida e cumprir com compromissos normais. “Uma em quatro pessoas têm algum tipo de problema de ansiedade durante a vida, e cerca de 8% têm estresse pós-traumático”, dizem eles.

Alguns dos transtornos de medo e ansiedade incluem fobias, fobias sociais, transtorno da ansiedade generalizada, ansiedade de separação, estresse pós-traumático e transtorno obsessivo-compulsivo.

“Esses problemas normalmente começam cedo na vida da pessoa, e sem tratamento adequado podem tornar-se crônicos e debilitantes”, alertam os médicos. [Science Alert]

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