O Toque Silencioso: A Arte de Acalmar Crianças ao Redor do Mundo

Por , em 13.11.2023

No contexto da educação infantil, muitas vezes o foco das orientações aos pais se concentra em como comunicar-se verbalmente.

Por exemplo, se uma criança faz birra, recomenda-se uma frase específica. Se ela tem dificuldade para dormir, há outra recomendação de palavras. E se os pais acabam gritando, existe até um roteiro sobre como pedir desculpas.

Entretanto, em várias partes do mundo, muitos pais adotam uma abordagem diferente e silenciosa para acalmar uma criança chorosa e ajudá-la a adormecer.

Em vez de falar, muitos pais optam por um tipo específico de contato físico. Esse toque não é qualquer um, mas executado com um ritmo e pressão particulares.

Após anos de pesquisa, cientistas começaram a compreender como nossa pele percebe este tipo específico de toque e como isso ativa áreas do cérebro, influenciando nossas emoções.

Nossa pele possui terminações nervosas sensíveis a um toque suave e deslizante. Esses nervos fazem parte de um sistema em nossa pele, criado para evocar sensações de calor e conforto, comumente sentidas na presença de pessoas amadas.

Globalmente, este tipo de toque é conhecido por vários nomes. Na Coreia, é chamado de yakson, enquanto em Taiwan, é conhecido como 秀秀(xiù xiù). Na Índia, especialmente em Delhi, é chamado de malish, conforme explica a Dra. Sarika Chaturvedi da Dr. D. Y. Patil Vidyapeeth College em Pune. Ela destaca a importância cultural desse toque na promoção do bem-estar infantil e no fortalecimento dos laços emocionais.

Na América Latina, este toque é carinhosamente denominado Piojitos, que significa “piolhinhos”.

Joe Grajeda, um mexicano de 40 anos, proprietário de uma cafeteria em Alpine, Texas, lembra-se com carinho de procurar piojito com sua mãe para adormecer quando criança. Hoje, ele mantém essa tradição com seus próprios filhos, observando o efeito calmante que tem.

A arte do piojito e toques semelhantes reside em sua execução suave, sem excesso de velocidade ou pressão. Grajeda descreve como um arranhar leve e macio das costas ou cabeça com a ponta dos dedos, apenas o suficiente para causar uma sensação de formigamento. Isso foi semelhantemente definido pela falecida linguista peruana Martha Hidlebrandt.

Para Grajeda, piojito é mais do que uma técnica de relaxamento; é um símbolo de amor e conforto, frequentemente referido como “pele de galinha” no México.

Cientificamente, ao realizar piojito, são ativados nervos específicos em nossa pele, conhecidos como fibras C-táteis. Estes são particularmente sensíveis a uma determinada velocidade de carícia, e encontram-se nas áreas da pele cobertas por pelos, incluindo a cabeça, as costas e os braços. Segundo o neurobiólogo Ishmail Abdus-Saboor, da Universidade de Columbia, esses nervos são altamente sensíveis à velocidade do toque, com movimentos muito rápidos podendo ser percebidos de maneira negativa.

Estes neurônios especiais existem em todos os mamíferos, e pais mamíferos frequentemente usam um toque ou lambedura com sua prole. Abdus-Saboor explica que esses neurônios também respondem ao calor e desempenham um papel crucial nas interações sociais, no vínculo e no conforto dentro das espécies de mamíferos.

Abdus-Saboor destaca que os humanos naturalmente se engajam neste tipo de toque há eras, o que ativa uma rede no cérebro que proporciona alívio e conforto.

No entanto, para algumas crianças com transtorno do espectro autista, este toque pode não ser reconfortante e até mesmo desagradável. Abdus-Saboor aponta que uma sensibilidade aumentada a estímulos sensoriais é uma característica comum do autismo, alterando a conexão entre toque e recompensa.

Um estudo inovador de Abdus-Saboor e sua equipe, publicado na revista Cell, demonstrou como a ativação desses neurônios em camundongos acende a via dopaminérgica em seus cérebros, motivando-os a buscar mais toque e conexão social.

Esses nervos se conectam diretamente aos centros de recompensa do cérebro, desempenhando um papel vital em encontros sociais, vínculos e alívio do estresse. Em humanos, a ativação das fibras C-táteis não só é agradável, mas também reduz a percepção da dor e diminui a frequência cardíaca, como evidenciado por vários estudos. Há também uma indicação de que essa ativação estimula a liberação de opioides naturais, como endorfinas, no cérebro.

O psicólogo Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, explica que essas endorfinas induzem relaxamento e confiança, fortalecendo o vínculo com a pessoa que proporciona o toque. No entanto, a neurocientista Helena Wasling, agora fisioterapeuta no Sahlgrenska University Hospital em Gotemburgo, Suécia, é cética em relação à ligação direta entre carícias e liberação de endorfinas. Ela acredita que o toque é essencial para que as crianças se sintam seguras e tenham suas necessidades físicas atendidas, equiparando-o a uma necessidade básica como a comida.

O conceito de minimizar o contato físico com as crianças atingiu o auge no final do século XIX e início do século XX na Europa. Pediatras aconselhavam contra tocar crianças, temendo que isso as tornasse dependentes e fracas. O psicólogo John B. Watson, apesar de seu conhecimento limitado sobre paternidade, propagou essa ideia em seu livro de 1928, sugerindo interação física mínima com crianças.

Wasling contesta essa visão, afirmando que crianças que recebem muito toque e proximidade dos pais tendem a ser mais aventureiras e seguras, tendo um forte suporte fundamental.

Dunbar também observa que carícias suaves como piojito beneficiam adultos tanto quanto crianças, oferecendo relaxamento e sensação de bem-estar, frequentemente experimentada durante massagens no couro cabeludo em salões de beleza. Esse relaxamento, ele brinca, deve-se mais à liberação de endorfinas do que ao tratamento capilar em si. [NPR]

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