Padrão encontrado nas florestas tropicais do mundo, onde 2% das espécies representam 50% das árvores

Por , em 12.01.2024
O Rio Sanaga e a floresta tropical dos Camarões. As florestas tropicais africanas têm menos espécies, mas sua diversidade é semelhante à das florestas da Amazônia e da Ásia. Fotografia: Westend61 GmbH/Alamy

Uma pesquisa recente indicou que apenas 2% das espécies de árvores são responsáveis por metade da população arbórea nas florestas tropicais da África, Amazônia e Sudeste Asiático.

Este estudo, que observou tendências semelhantes presentes em outros ecossistemas naturais, descobriu que poucos tipos de árvores predominam nessas florestas vitais, sendo o restante composto por uma grande variedade de espécies menos comuns.

Conduzida por uma equipe da University College London e publicada na revista Nature, a pesquisa contou com a colaboração de 356 cientistas internacionais. Eles notaram padrões de diversidade de árvores quase idênticos nestas regiões ecologicamente ricas. Estima-se que cerca de 1.000 espécies de árvores compõem metade das 800 bilhões de árvores das florestas tropicais, enquanto as outras 46.000 espécies formam a outra metade.

Declan Cooper, investigador principal do estudo, da UCL’s centre for biodiversity and environment research, comentou sobre a importância dessas descobertas para a compreensão das florestas tropicais. Ele mencionou que, estudando as espécies de árvores mais prevalentes, é possível fazer previsões sobre a resposta geral da floresta às rápidas mudanças ambientais atuais. Isso é crucial, explicou ele, devido às significativas funções de armazenamento de carbono e de sumidouro de carbono das florestas tropicais.

A equipe de pesquisa também observou que, embora as florestas tropicais africanas tenham uma contagem de espécies menor em comparação com as da Amazônia e do Sudeste Asiático, o padrão de diversidade de espécies permanece consistente. Sua análise baseou-se em mais de um milhão de amostras de árvores de 2.048 hectares (5.050 acres) de floresta tropical em 1.568 locais, revelando que aproximadamente 2,2% das espécies constituem metade das árvores nessas regiões.

Um relatório adicional enfatiza a necessidade de um aumento no financiamento para a proteção das florestas tropicais.

Prof Bonaventure Sonké, da Universidade de Yaoundé I em Camarões, destacou a disparidade conhecida na contagem de espécies entre as florestas africanas e as da Amazônia e Sudeste Asiático. No entanto, ele apontou a similaridade na proporção de espécies comuns entre essas florestas, sugerindo princípios universais que regem todas as florestas tropicais.

Os pesquisadores acreditam que pode haver um mecanismo universal que dita a composição das florestas tropicais em todo o mundo. Eles pretendem identificar essa possível regra em estudos futuros, levando em conta as diferenças geográficas e climáticas das florestas examinadas. As florestas tropicais africanas, por exemplo, são mais frias e secas do que as das outras regiões, enquanto as florestas do Sudeste Asiático estão espalhadas por ilhas. Já a Amazônia é uma vasta região de florestas interconectadas.

Prof Simon Lewis, da escola de geografia da UCL e da Universidade de Leeds, autor sênior do estudo, enfatizou a importância de mudar o foco para algumas centenas de espécies de árvores comuns. Ele sugeriu que essa abordagem poderia revolucionar nossa compreensão dessas florestas. Enquanto ele ressaltou a importância das espécies raras e a necessidade de sua proteção, acredita que avanços significativos e rápidos no conhecimento poderiam ser alcançados concentrando-se nas espécies de árvores mais comuns.

A pesquisa destaca um aspecto fundamental das florestas tropicais: a existência de um pequeno grupo de espécies que domina grande parte da biodiversidade arbórea. Este fenômeno, embora surpreendente, reflete uma característica comum em muitos ecossistemas naturais, onde poucas espécies tendem a prevalecer em termos de número, enquanto uma grande variedade de outras espécies coexistem em menor quantidade. A descoberta desafia a percepção tradicional da diversidade em florestas tropicais, que geralmente é associada a uma vasta gama de espécies diferentes. Ao invés disso, mostra que a biodiversidade pode ser concentrada em um número relativamente pequeno de espécies-chave.

Essa compreensão abre novas perspectivas para a conservação e pesquisa em ecologia. Ao concentrar esforços nas espécies dominantes, os cientistas podem obter insights mais profundos sobre o funcionamento das florestas tropicais como um todo. Isso não apenas facilita a previsão de como as florestas responderão às mudanças climáticas e ambientais, mas também ajuda na formulação de estratégias mais eficazes para a conservação desses ecossistemas vitais.

Ao mesmo tempo, a importância das espécies raras não deve ser subestimada. Elas desempenham um papel crucial na manutenção da integridade ecológica e da resiliência das florestas. A proteção dessas espécies menos comuns é essencial para preservar a riqueza e a complexidade total das florestas tropicais. Assim, enquanto os esforços de pesquisa podem ser direcionados para as espécies mais comuns, as estratégias de conservação devem continuar a abordar a necessidade de proteger a biodiversidade em sua totalidade.

A pesquisa também reforça a necessidade de uma abordagem global e colaborativa para entender e proteger as florestas tropicais. A participação de cientistas de diversas regiões e disciplinas é fundamental para desenvolver uma compreensão abrangente desses ecossistemas complexos. Além disso, o estudo sublinha a importância da floresta tropical como um sumidouro de carbono vital, reiterando o papel crucial que essas florestas desempenham na mitigação das mudanças climáticas.

O estudo oferece uma nova perspectiva sobre a estrutura e a dinâmica das florestas tropicais, destacando a predominância de algumas espécies de árvores e a importância de entender essas espécies para a conservação e pesquisa ecológica. Ao mesmo tempo, reafirma a necessidade de proteger a diversidade total desses ecossistemas, garantindo que tanto as espécies comuns quanto as raras sejam preservadas para o benefício das futuras gerações e para a saúde do nosso planeta. [The Guardian]

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