Pesquisadores focam mais em produzir do que em revisar trabalhos dos colegas

Por , em 24.11.2016

Nos últimos anos, pesquisadores têm se queixado de uma crise de reprodutibilidade em estudos científicos. As queixas se referem especialmente a estudos de psicologia, que quando repetidos por outros pesquisadores, mostram resultados completamente diferentes.

A revisão dos pares também tem sofrido críticas. Uma nova investigação
mostrou que apenas 20% dos pesquisadores são responsáveis por 94% de todo o trabalho realizado.

“Mostramos que apenas uma pequena parcela da comunidade científica está carregando um peso desproporcional de revisões”, dizem pesquisadores da Universidade de Paris Descartes. “Esses ‘heróis da revisão’ podem estar sobrecarregados, com o risco de baixar o nível das revisões”, apontam.

O grupo de pesquisadores usou um modelo matemático para mostrar pela primeira vez como a demanda por revisões dos pares se compara com a quantidade de cientistas disponíveis para realizar a tarefa.

Eles queriam descobrir se a comunidade científica poderia acompanhar o crescimento das revistas científicas, que aumentam 3,5% por ano. Isso significa que os cientistas vão ter mais trabalhos para revisar no futuro.

Eles analisaram os artigos listados na base de dados Medline, que compreende trabalhos de biomedicina e de ciências naturais publicados no mundo inteiro entre os anos de 1990 e 2015.

O número de trabalhos publicados que passaram por várias revisões foi estimado, além do tempo aproximado necessário para fazer isso. Esses dados foram comparados com o número de pesquisadores no mundo todo que são aptos a revisar trabalhos.

Foi levado em consideração que a taxa média de trabalhos rejeitados foi de 25% e que 90% dos trabalhos enviados passaram por uma segunda análise. Cada revisão leva entre quatro e cinco horas para ser concluída.

Além disso, eles perceberam que em 1990, 372.589 trabalhos foram publicados. Uma década depois, este número aumentou para 475.670. Mas em 2010 esse número quase dobrou, com 1.134.686 trabalhos revisados publicados em apenas 12 meses.

Se ao ver estes números você pensar “não há pesquisadores suficientes no mundo para realizar este trabalho”, você estará enganado. A realidade é exatamente o contrário. Há pesquisadores para fazer tudo isso, mas a maioria não participa.

Segundo os cálculos dos pesquisadores da universidade francesa, 70% dos cientistas dedica apenas 1% do tempo que passa pesquisando para revisar os trabalhos dos colegas. Outros 5% dedicam 13% do tempo ou mais para isso. A conta não fecha.

“O estudo concluiu que cerca de 1,8 milhão de pesquisadores mantinham o sistema funcionando, mas que outros 4,6 milhões não estavam participando”, afirmou John Ross ao The Australian.

Se todos trabalhassem tanto quanto esses 20% que fazem todo o trabalho sozinhos, seria possível revisar 249% mais trabalhos. Mas é claro que este ritmo de trabalho extenuante não seria bom para a qualidade das revisões.

Há algumas hipóteses que tentam explicar este comportamento. Os pesquisadores acreditam que um dos fatores que acaba sendo um obstáculo para a revisão é que a publicação conta mais no currículo do pesquisador. Outra ideia é que os pesquisadores estariam perdendo a confiança nesse método de comprovação de resultados. O motivo deste comportamento, porém, não foi estudado neste trabalho. [Sciece Alert]

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