Plantar árvores tem um potencial de “explodir a cabeça” de lidar com a crise climática global

Por , em 6.07.2019

Um novo estudo liderado pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (Suíça) descobriu que plantar bilhões de árvores é a solução mais rápida, barata e eficiente que temos no momento para lidar com a crise climática.

A pesquisa descobriu que há 1,7 bilhão de hectares de terra atualmente sem árvores que poderiam suportá-las – uma área que representa cerca de 11% de toda a terra, e o equivalente ao tamanho dos EUA e da China combinados.

“O plantio de árvores é uma solução que não exige que o presidente Trump comece imediatamente a acreditar na mudança climática, ou que os cientistas desenvolvam soluções tecnológicas para retirar o dióxido de carbono da atmosfera”, disse Tom Crowther, o principal autor do estudo.

Mapa

A pesquisa é baseada em 80.000 imagens de satélite de alta resolução feitas com o Google Earth. Com ajuda de inteligência artificial, os cientistas combinaram esses dados com informações de solo, topografia e fatores climáticos para criar um mapa de onde poderíamos plantar árvores no mundo:

Dois terços de toda a terra do planeta, ou 8,7 bilhões de hectares, poderiam sustentar florestas. 5,5 bilhões de hectares já sustentam. Dos 3,2 bilhões restantes, 1,5 bilhão de hectares é usado para o cultivo de alimentos, deixando 1,7 bilhão de terras florestais em potencial.

As áreas tropicais poderiam ter 100% de cobertura de árvore, enquanto outras regiões seriam mais escassamente cobertas.

Os seis maiores países do mundo – Rússia, Canadá, China, EUA, Brasil e Austrália – representam metade do potencial de plantio de florestas. “Pessoalmente, meu sonho seria começar com o Brasil, ponto de diversidade mundial. Seria espetacular”, afirmou Crowther.

Temos um plano?

A avaliação quantitativa do novo estudo mostra que a restauração florestal é a mais importante das soluções que temos para reverter as tendências atuais de aumento das emissões de gases do efeito estufa. Outros cientistas concordam que as soluções tecnológicas não funcionariam na escala necessária.

A restauração florestal prevista levaria de 50 a 100 anos para ter o efeito completo de remover 200 bilhões de toneladas de carbono da atmosfera.

“Finalmente, temos uma avaliação oficial de quanta terra podemos e devemos cobrir com árvores sem afetar a produção de alimentos ou áreas urbanas de vida. Este é um projeto extremamente importante para os governos e o setor privado”, argumentou Christiana Figueres, ex-chefe climática da ONU e fundadora do grupo Global Optimism.

Infelizmente, o estudo não indicou como deveria ser feito esse plantio ou com que dinheiro, mas os pesquisadores têm algumas ideias. Segundo Crowther, os “projetos mais eficazes de restauração custam 30 centavos de dólar por árvore. Isso significa que podemos restaurar um trilhão de árvores por US$ 300 bilhões. Essa é, de longe, a solução mais barata já proposta”.

O cientista acrescentou que o valor – cerca de R$ 1,1 trilhão no câmbio atual – estaria ao alcance de uma coalizão de filantropos bilionários e do público.

Ressalvas

De acordo com Joseph Poore, pesquisador ambiental da Universidade de Oxford, no Reino Unido, a pesquisa é excelente, mas “apresenta uma visão ambiciosa”. Muitas das áreas de reflorestamento identificadas são atualmente pastoreadas por animais, incluindo, por exemplo, grandes partes da Irlanda.

Crowther rebateu que o seu trabalho previu apenas duas a três árvores por campo para a maioria das pastagens: “A restauração de árvores em densidade [baixa] não é mutuamente exclusiva ao pastoreio. De fato, muitos estudos sugerem que ovelhas e gado se saem melhor se houver algumas árvores no campo”.

Outros especialistas, como Simon Lewis da Universidade College London, também no Reino Uido, disseram que a quantidade estimada de carbono que a plantação de árvores em massa poderia sugar do ar está muito alta.

De qualquer forma, plantar árvores certamente tem poder na redução da crise climática, conforme diversos estudos vêm apontando há algum tempo.

Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Science. [TheGuardian]

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