Por que os humanos amam trotes de iniciação?

Por , em 30.10.2013

Quem passou por uma universidade conhece a situação com toda a certeza. Além desse ambiente, trotes também ocorrem em unidades militares, gangues de rua e até mesmo entre atletas de equipes esportivas. Em algumas culturas, rituais de iniciação marcam a transição da adolescência para a idade adulta.

Apesar de sua longa história de aceitação universal, a prática do trote ainda é um enigma antropológico. Por que os seres humanos o incorporaram em seu comportamento de grupo?

Aldo Cimino, professor do Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (EUA), procura responder a essa pergunta. “O trote existe em culturas radicalmente diferentes ao redor do mundo, e o registro etnográfico é repleto de exemplos de ritos de iniciação que incluem trote”, afirma. “É uma prática que as culturas continuamente redescobrem e se investem. O principal objetivo da minha pesquisa é entender por quê”.

Uma hipótese que Cimino está explorando envolve psicologia evolutiva. “A mente humana pode ser concebida para responder a novos membros de um grupo em uma variedade de maneiras, e uma dessas maneiras pode não ser muito receptiva. Eu não estou dizendo que o trote é inevitável na vida humana, que todos vão praticá-lo, e que nada vai reduzir sua frequência. Mas estou sugerindo que a persistência do trote em ambientes sociais, demográficos e ecológicos diferentes indica que a psicologia pode estar desempenhando um papel”, explica.

Trote e bullying têm muito em comum – indivíduos que possuem algum tipo de poder abusam daqueles que não o possuem -, mas o que torna o trote estranho, de acordo com Cimino, é que ele é dirigido a futuros aliados. “É muito raro para os praticantes de bullying dizer: ‘Eu vou te humilhar por três meses, mas depois disso nós vamos ser amigos’, mas esse é o tipo de coisa que acontece com o trote”, diz.

Sendo assim, o pesquisador sugeriu que, em alguns ambientes ancestrais humanos, aspectos do trote podem ter servido para proteger os membros veteranos de ameaças representadas pelos recém-chegados. “Esse pode ter sido um tempo durante o qual coligações eram exploradas pelos recém-chegados. Nossas intuições sobre como tratá-los podem refletir essa regularidade do passado. Abusar dos recém-chegados – o trote – pode ter servido para alterar temporariamente o seu comportamento, bem como descartar os descompromissados quando a associação ainda não era obrigatória”, argumenta Cimino.

O estudo

Cimino realizou um estudo com uma amostra representativa dos Estados Unidos, em que os participantes tinham que imaginar que eram membros de organizações hipotéticas. A pesquisa foi publicada no periódico Evolution and Human Behavior.

As organizações fictícias que os participantes acreditavam ter inúmeros benefícios para os recém-chegados (por exemplo, status e proteção) também foram as que mais inspiraram trotes. “Na minha pesquisa, descobri que os benefícios do grupo, que poderiam beneficiar rapidamente os novatos (benefícios automáticos), previam o desejo das pessoas de dar trote”, disse.

No entanto, o cientista adverte que ainda está longe de compreender a prática completamente. “O trote é um fenômeno complexo que tem mais de uma causa, por isso seria um erro acreditar que eu resolvi o enigma. Entretanto, os estudos nos trazem um pouco mais perto de compreender esse elemento que parece cada vez mais visível e importante”, conclui. [ScienceDaily]

3 comentários

  • SALES CANTANHEDE:

    trote. não e legal, acaba sempre machucando algem

    • Cesar Grossmann:

      Depende do trote.

    • Ivan Defaveri:

      Não tem nada disso não amigo, tudo depende da educação das pessoas que estão aplicado o trote. Quando eu entrei na universidade aplicaram um trote em mim, e os anos posteriores eu mesmo participei da aplicação de trotes nos novos calouros, e nunca ninguém sofreu um arranhão sequer.

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