Porque os inteligentes também são estúpidos

Por , em 19.06.2012

Esta é mais uma história sobre como a gente se conhece pouco. E começa com uma pergunta aritmética simples: se um taco e uma bola custam um real e dez centavos, quanto custa a bola, sabendo que o taco custa um real a mais que a bola? Se você deu dez centavos como o preço da bola, você deu a resposta óbvia e errada.

Propondo este tipo de pergunta para centenas de pessoas, durante cinquenta anos, o professor e ganhador do Prêmio Nobel Daniel Kahneman demonstrou que o homem só acha que é racional, mas quando confrontado com uma situação de incerteza, ele não avalia cuidadosamente as alternativas, e sim apenas toma um atalho, que na maioria das vezes resulta em um erro.

O problema é que as pessoas tem viés de decisões, ou seja, elas tendem a pensar e agir de certa forma. E saber que tem este viés não ajuda a evitar o mesmo, disse Kahneman. Após tantos anos estudando os viés do pensamento, ele não conseguiu se livrar dos próprios.

Um dos viés pode ser demonstrado de forma simples: em um lago existe uma “ilha” de aguapés, e a cada dia esta ilha dobra. Em 48 dias, o lago é coberto completamente pelo aguapé. Quando é que o lago estava coberto pela metade? A tendência das pessoas é dividir 48 dias por dois, e dar a resposta errada, 24 dias, quando o certo é 47 dias.

O curioso é que pessoas mais inteligentes (segundo a avaliação do SAT, exame padronizado dos EUA) são mais vulneráveis a estes erros. Mais de metade dos estudantes de Harvard, Princeton e do MIT (universidades conceituadas americanas) deram respostas erradas para o teste da bola e do taco. E mais, os estudos do professor Kahneman mostram que geralmente somos mais capazes de perceber estes erros e viéses nos outros, em vez de em nós mesmos. Identificamos prontamente excesso de autoconfiança, predições extremas e a falácia do planejamento – a tendência de subestimar a duração de um projeto -, nos outros, mas somos cegos a estes mesmos problemas em relação a nós mesmos.

E fazer uma introspecção não ajuda nada. Você entra em uma ego-trip, tentando se conhecer, mas o problema é que um exame consciente não vai encontrar a raiz do problema, que é inconsciente. Você parte para uma busca do autoconhecimento, e acaba não se conhecendo.

A propósito, a bola custa cinco centavos. Mas isto você já sabia, não sabia?[NewYorker]

22 comentários

  • Luis Carlos Santana:

    Não entendi bem isso ainda. Por exemplo: se a bola custar R$ 0,10, o taco custará R$ 1,00. Não!? Expliquem um poquinho melhor por favor. Obrigado!

    • fenris23:

      A bola custa R$ 0,05 centavos e o taco R$ 1,05 centavos pois o preço do taco tem que ser 1 real “a mais” do que o preço da bola se a bola custasse R$ 0,10 centavos e o taco 1 real a mais ele custaria R$ 1,10 e o total daria R$ 1,20.

  • D. R.:

    É por isso que a ideia do geocentrismo durou tanto tempo; pois era a ideia mais óbvia; ao ver o sol, a lua e as estrelas atravessarem o céu e que a Terra parecia ficar imóvel, o raciocínio mais óbvio mesmo era de que os astros giravam em torno da Terra. E, realmente, pelo conhecimento da época, era um absurdo considerar que a Terra girava sem nada cair e sem ter um forte vento. Mas, a realidade sempre nos surpreende e a história da ciência no mostra que nunca devemos julgar pelas aparências. Haja vista, a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica que vão contra todo o senso comum e contra toda intuição humana!

  • aguiarubra:

    Este artigo é um excelente alerta para com nossas próprias alegações de erros e certezas: não podemos deixar de usar o “desconfiômetro”. Quem acusa com um dedo indicador, tem 3 dedos apontados para si próprio.

  • alexo:

    a resposta e r$ 1,o5
    a bola custa 0,05

  • Marte:

    Ótima pegadinha. Santa matemática (eu a odeio, mas amo-a).

  • Marcos Eilert:

    “O curioso é que pessoas mais inteligentes são mais vulneráveis a estes erros. Mais de metade dos estudantes de Harvard, Princeton e do MIT deram respostas erradas para o teste da bola e do taco.”

    Esse trecho do texto é falacioso. Esqueceram de citar que mais de 80% dos estudantes de universidades “menos badaladas” erraram o mesmo teste da bola¹….

    Logo os mais inteligentes não são os mais vulneráveis… o fato de pouco mais de metade terem errado atesta apenas que eles TAMBÉM são vulneráveis, mas são menos do que as outras pessoas.

    ¹ Revista Superinteressante de Junho/12.

    • Maya Samanta:

      Isso tem nada haver com inteligência tem haver com atenção a essas armadilhas de lógica, é normal as pessoas mais inteligentes serem mais desatentas com isso visto que durante a maior parte da vida delas elas souberam lidar com os problemas intelectuais muito mais facilmente que os demais, só damos atenção a algo quando isso se mostra difícil, pensar lógicamente para pessoas muito inteligentes é mais fácil que para as outras pessoas com inteligencia menor, a atenção é ativada quando presumimos uma ameaça, e é lógico pensar que os problemas de lógicas são vistos como pouca ameaça a eles por isso foram desatentos e apenas prestaram atenção as palavras consideradas chaves do problema ao invés de perceberem que a armadilha não estava na lógica e sim na atenção que eles tinham que prestar atenção em todas as palavras e não somente em algumas, pois a maioria das pessoas ao ouvir ou ler sempre separam as palavras chaves e tiram um contexto, foi por isso que a maioria das pessoas inteligentes erraram o teste, no primeiro eu percebi a pegadinha rápido pois havia um erro na soma que intuitivamente se propunha mas na segunda eu não percebi que o problema era de progressão geométrica pois por ter lido “lago com uma ilha”, pensei se tratar de um problema situacional e não matemático e eu sei que cometerei esse erro novamente porque eu mesma sou uma pessoa que gosta de estudar os viéses de raciocínio das pessoas e me aventuro a estudar os meus também sempre errando e não tendo certeza de qual é ele e eu gostei de ler o texto pois pelo menos mostra que eu não fui a única pessoa a perceber isso sozinha pois sempre quando discuto isso com alguém as pessoas me vem com coisas como as pessoas mudam kkkk.

  • Sergio Rocha:

    A matéria é bem interessante, mas seu autor me parece também ter caído na própria ‘armadilha’ comentada por ela, deixando de lado os aspectos ‘ortográficos’ do texto e não flexionando por três vezes a palavra ‘viés’, cujo plural é ‘vieses’ (conforme os principais dicionários da língua portuguesa), nas quatro vezes em que ela é repetida, em sua escrita…

    • Maya Samanta:

      E foi isso que vc deu mais importância? Esse erro não atrapalhou a compreenssão do texto de qualquer maneira e nem das idéias transmitidas, esse erro é bem normal, visto que o cérebro automáticamente a comparou a palavra lápis, se você verificar a flexão da palavra lápis no português, confundir a flexão da palavra lápis com a da palavra viés é fácil, essa não é uma palavra muito utilizada e é normal generalizarem qualquer palavra terminada em uma vogal acompanhada de ‘s’ que seja singular de que ela não se flexione no plural, como é o caso da palavra viés que é pouco utilizada no cotidiano, então esse erro é automático e bem comum, nosso cérebro generalizar as coisas é normal como acabou de falar no texto, pois ele gosta de buscar padrões, agora eu vejo que vc pelo fato de julgar isso se preocupa mais com a gramática do que com as idéias transmitidas em um texto, o que no meu ponto de vista é muito fútil, pois línguas vivas mudam o tempo todo, me preocupar com coisas como essas que um dia serão mudadas como a flexão da palavra viés que pode vir a se tornar como a palavra lápis que não é flexionada pode ser concretizada e ai essa sua certeza de que escrever corretamente está acima da compreenssão e transmissão de idéias e conhecimento e da comunicação em si( o qual é o verdadeiro objetivo da linguagem e que constantemente é feita de forma irregular e informal e ainda sim não interfere no objetivo da mesma) cai por terra ridículamente.

      Eu vou lhe mostrar o meu viés de raciocínio nessas situações, é ver gente como vc que dá importância demais a detalhes superfíciais como esse e meramente convencionais como uma pessoa pouco inteligente que gosta de depreciar a intelingência das outras com argumentos fúteis visando fugir do objetivo da idéia proposta por ter se sentido particularmente ofendido por ter concluído que não é tão inteligente quanto gostaria de ser, ai faz um comentário ridículo desses que só mostra a sua tendência a se agarrar a convenções e ao senso comum quando não encontra uma forma melhor de refutar as idéias dos outros para não se ver como um estúpido.

  • Jonatas:

    Tanto tempo de Xadrez e desafios de QI me fizeram ser mais atencioso antes de uma decisão, isso me ajuda a não cair em “armadilhas” como essa, apenas por não optar subitamente pelo que parece óbvio, evitando a resposta errada. Não sou invulnerável, é claro, mas essa atenção felizmente consegui desenvolver. As pessoas mais inteligentes são mais vulneráveis pelo excesso de confiança, por subestimar a questão, não lhe dar a devida análise.

    A quem quiser, tenho outra, mais simples, assim:
    Se você está numa corrida, e ultrapassa o segundo colocado, em que posição tu fica?
    * acho que todos vão acertar, porque a reportagem já chama atenção a analisar antes de responder o obvio, mas já ouvi muitas vezes a resposta errada. 🙂

    • luysylva:

      eu marquei uma joinha pra ti, eu gosto de lê teus comentários!

    • Marte:

      Sobre xadrez e armadilhas tenho uma história. Certa vez fui jogar com um garotinho que insistia muito numa partida – o irmão mais velho desse era meu parceiro (digo, oponente invencível) no tabuleiro –.

      Pensei: vai ser mole, esse garoto não vai dar nem para a saída. Mas para espanto meu, o menino repetiu com grande rapidez o feito do “xeque do pastor”, de modo diferente mas com o mesmo conceito. Foi uma grande lição essa brincadeira, que pensei estar imune para todo o sempre (mas acabo de cair na pegadinha do taco!). Xeque mate.

  • Guilherme Carbonetti:

    É, na verdade, cinco centavos é o único valor possível. É só fazer um sisteminha, onde T+B=1,1 e T=B+1 .: 2B=0,1 .: B=0,05

  • Julio Barone Neto:

    Existe um cálculo matemático por suposições que resolveria isso, mas eu não me lembro mais qual é o nome do cálculo.

  • Luanna Lyma:

    No começo eu fiquei confusa sobre essa do taco, mas logo eu entendi.
    Se a bola e o taco juntos custam um real e dez centavos, e o taco é um real a mais que a bola, deduzimos que o taco custou um real e a bola custou dez centavos. E não pensamos na possibilidade de o taco custar um real e cinco centavos, e a bola só cinco centavos…

    • Godofredo:

      Luanna Lyma, na verdade não é que haja uma “possibilidade”, há apenas uma resposta certa.
      Vamos utilizar equações matemáticas,
      denominaremos VB o valor da bola, VT o valor do taco e T o total, LOGO:

      T=1,10
      VT= VB + 1
      VB= ?

      VT + VB = T
      (VB + 1) + VB = 1,10
      VB + VB = 1,10 – 1,00
      2VB = 0,10
      VB= 0,5

      Não há outro valor possível. Não há “possibilidades” é uma conta simples, mas como diz a pesquisa logo acima, nosso cérebro faz atalhos que parecem mais “econômicos” no transporte de impulsos nervosos. É tão bobo, mas tão bobo que não queremos ter o trabalho de pensar.

    • Izabela:

      Godofredo, você pode me explicar por que não se faz
      VT + VB = T
      1 + VB = 1,10
      VB = 0,1
      Eu vi que VB ficou entre parênteses e foi repetido do lado fora.

    • Marcos Eilert:

      Izabela,

      O seu erro está em dizer que:

      1 + VB = 1,10

      não é isso… da forma como você escreveu acima, le-se: “O VALOR TOTAL É IGUAL AO VALOR DA BOLA MAIS 1 REAL”

      Mas o teste diz outra coisa…. diz que “O VALOR DO TACO CUSTA 1 REAL A MAIS QUE A BOLA”

      Logo a forma matemática correta é:

      1 + VB = VT

      Como sabemos que

      VT + VB = 1,10

      Então ou vou substituir o VT desta segunda fórmula pelo que eu sei que vale o VT na primeira. fica assim:

      (1+VB) + VB = 1,10
      VB+VB = 1,10 – 1
      2VB = 0,10
      VB = 0,10/2
      VB = 0,05

      Agora substituo o valor de VB na primeira fórmula. Fica assim:

      1 + 0,05 = VT
      VT = 1,05

    • Izabela:

      Entendi, obrigada pela explicação Marcos Eilert.

    • Cesar Grossmann:

      Foi o que eu entendi também. A gente não faz a conta, vai por dedução.

    • Nayara Cabral:

      Se a bola custasse 0,10 e o taco 1,00, este seria apenas 0,90 mais caro que a bola, Luanna.

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