Qual é a Emoção Dominante em 400 Anos de Diários Femininos?
Em 1940, na cidade inglesa de Barrow-in-Furness, conhecida pela construção naval, Nella Last expressou em seu diário a sua insatisfação com as mudanças trazidas pela Segunda Guerra Mundial. Ela relatou como começou a confrontar o comportamento de seu marido, dizendo-lhe para agir como um adulto, em vez de se comportar como uma criança, e ameaçando sair de casa se ele persistisse em sua atitude difícil.
Essa mudança de atitude de Last refletia uma fase inicial do feminismo. Ela questionou as normas que seguia há décadas, anotando suas experiências em um diário para o projeto Mass Observation. Publicado posteriormente como “Nella Last’s War” em 1981, o diário se tornou popular, mostrando que muitas mulheres compartilhavam seus sentimentos de determinação e raiva. A história de Last foi adaptada para a televisão em 2005, no filme “Housewife, 49”.
Como autora e pesquisadora da história das mulheres, mergulhei em diários femininos para uma antologia. A alegria era um tema recorrente, como o prazer de Fanny Longfellow ao ter seu primeiro filho, a gratidão de May Sarton pelas flores da primavera, o entusiasmo de Virginia Woolf por seu primeiro carro e o apreço de Alice Walker pela pele de seu amante. Contudo, sentimentos dominantes eram frustração e uma resolução silenciosa.
Lady Anne Clifford, em 1617, prometeu nunca ceder suas terras, mesmo sob pressão do marido. Dois séculos depois, em 1818, Ellen Weeton foi expulsa de casa e impedida de ver seu filho. Em 1923, Ada Blackjack relatou a ameaça de perder a guarda do filho e as dificuldades de sobreviver sozinha no Ártico.
Muitas vezes, a raiva e frustração nas narrativas eram indiretas, mascaradas por resignação ou humor irônico. Beatrix Potter, por exemplo, manteve um diário secreto em código durante sua juventude, descrevendo sua não conformidade com os padrões vitorianos e as dificuldades em ter sua pesquisa micológica reconhecida.
Mulheres do passado enfrentaram inúmeras dificuldades, mas houve avanços. O abuso doméstico ainda existe, mas as mulheres de hoje têm mais recursos para se proteger. Em 1825, Weeton lamentou a falta de apoio legal para mulheres abusadas.
Os temores e aspirações das mulheres mudaram ao longo do tempo. Nelly Ptashkina, em 1918, temia ficar solteira, uma preocupação que seria vista de maneira diferente hoje. Florence Nightingale, que enfrentou oposição da família para se tornar enfermeira, provavelmente não teria tais obstáculos atualmente.
Os diários também destacam a luta contra o racismo e a escravidão. Em 1855, Charlotte Forten Grimké expressou sua dor e desconfiança em relação aos que maltratavam pessoas de cor.
Os desafios das mulheres não se limitavam às normas sociais. O luto pela morte de um bebê era tão profundo no passado quanto é agora. Avanços médicos aliviaram alguns fardos, como a mastectomia sem anestesia, descrita dolorosamente por Fanny Burney em 1812.
As batalhas pessoais e internas são um tema comum nesses diários. Sophia Tolstoy ponderou sobre permanecer em um casamento abusivo, e Beatrice Webb (nascida Beatrice Potter) refletiu sobre suas opções de casamento, eventualmente se casando com Sidney Webb.
Esses diários refletem os desafios contínuos das mulheres em equilibrar carreira e família, lidar com lutas pessoais e enfrentar expectativas sociais. Eles servem como lembrete das experiências coletivas das mulheres ao longo da história, apoiando e inspirando aquelas que continuam enfrentando desafios semelhantes hoje. [Smithsonian]