Químico se torna desenvolvedor de software após filho ser diagnosticado com câncer

Por , em 12.05.2014
Noah, filho de Bryan Shaw

Noah, filho de Bryan Shaw

O químico Bryan Shaw tem um ambicioso plano para criar um sistema de detecção precoce de câncer de olho usando câmeras fotográficas compactas. Shaw, que trabalha com a interação entre metais e proteínas, acredita que as câmeras dos pais podem revelar se os filhos têm leucocoria, através de um brilho branco vindo da pupila quando você acende uma luz em seus olhos. Este “olho branco” pode ser um sinal precoce de retinoblastoma, uma forma rara de câncer de olho.

As crianças com a doença desenvolvem tumores em suas retinas, na parte de trás dos seus olhos. Shaw quer fazer um software que irá reconhecer esta leucocoria. Como já citamos, isso nada tem a ver com o campo de atuação de Shaw, que é químico na Universidade de Baylor (EUA). Porém, ele se envolveu com a detecção da leucocoria quando o seu filho recém-nascido foi diagnosticado com retinoblastoma, em 2008. Ele e sua esposa, Elizabeth, tinham visto o sinal em fotos de bebê de Noah, quando ele tinha 3 meses de idade, mas no momento em que as fotos foram tiradas, eles não perceberam o que estava acontecendo.

Naturalmente, após o diagnóstico de seu filho, o primeiro pensamento de Shaw foi fazer o que fosse necessário para salvar a vida dele. Entretanto, em algum momento, durante os meses de quimioterapia, radioterapia e, finalmente, a cirurgia para remover o olho direito de seu filho para evitar que o câncer se espalhasse para seu cérebro, Bryan percebeu que poderia abordar o problema usando suas habilidades como cientista.

Ele se perguntou o que teria acontecido se a câmera da família tivesse sido programada com um software que poderia reconhecer a leucocoria automaticamente. “Se eu tivesse tido algum software me dizendo: ‘Ei, vá ver do que isso se trata”, teria acelerado o diagnóstico do meu filho e os tumores teriam sido um pouco menores quando os descobríssemos. Poderiam ter sido menos [tumores]”, lamenta Shaw. E talvez o olho de Noah pudesse ter sido salvo. Mas não havia nenhum software.

Mãos à obra

Para a maioria de nós, este teria sido o fim de uma triste história. Mas Bryan Shaw pensou “Dane-se, eu vou me tornar um designer de software”.

Para projetar o software, Shaw precisava encontrar o mais antigo exemplo do reflexo branco nos olhos do bebê Noah. Isso seria poderia determinar o quão cedo é possível detectar um sinal da doença. Felizmente, sua esposa era uma fotógrafa amadora das boas, então havia milhares de fotos. Depois de debruçar-se sobre elas durante semanas, Shaw encontrou o que estava procurando. “Nós tínhamos fotos mostrando o olho branco de quando ele tinha 12 dias de idade”, revela.

Meses antes de os médicos diagnosticarem o câncer, estas fotos mostravam que os tumores estavam lá e crescendo – quando Noah era praticamente um recém-nascido, ao ponto de ainda não ter se livrado de todos os restos de seu cordão umbilical.

Usando a imagem, Shaw desenvolveu uma escala de quanto da leucocoria havia em uma imagem em particular. Ele reuniu alguns colegas de ciência da computação da Baylor, incluindo Greg Hamerly, Ryan Henning, Pablo Rivas Perea e Li Guo. Juntos, eles criaram um protótipo de software.

Em última análise, Shaw gostaria de ver este software disponível em qualquer lugar onde há uma foto de uma criança. “Eu gostaria que este aplicativo, este software, fosse livre e também gostaria que estivesse em qualquer lugar onde existe uma imagem de uma criança: no seu computador, na sua conta do Flickr, na sua conta do Facebook, no seu celular, na sua câmera”, diz o pesquisador.

Mas conseguir o tipo de distribuição que Shaw está esperando vai levar algum tempo, porque o caminho do aperfeiçoamento do software até provar que ele funciona ainda é longo. Uma das coisas que ele definitivamente vai precisar é da ajuda de pais de crianças com retinoblastoma. Eles terão que doar todas as suas fotos de bebê para que ele possa testar seu software e ver como ele se sai para encontrar os cânceres.

E ele vai precisar de fotos de crianças saudáveis ​​para provar que o software não irá acidentalmente dizer que eles têm câncer quando, na verdade, eles não têm. “O nosso maior problema vai ser o dos falsos positivos”, admite. Não é muito difícil adivinhar o motivo: imagine milhares de pais aterrorizados batendo nas portas dos médicos porque sua câmera lhes disseram que seu filho pode ter câncer. Não é um bom cenário. [NPR]

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