Risco de Alzheimer é duplicado em pessoas com o vírus do herpes

Por , em 17.02.2024

Um estudo recente sugere que a infecção pelo vírus responsável pelas aftas pode aumentar significativamente a probabilidade de uma pessoa desenvolver demência. Esse achado é um importante acréscimo às evidências crescentes que associam as duas condições, salientando a necessidade de mais investigações. Estas poderiam determinar se o tratamento contra o herpes ajuda a reduzir o risco de demência e contribuir para o desenvolvimento de novas vacinas.

O vírus Herpes simplex (HSV) é uma infecção comum e persistente que pode ser controlada, mas não completamente eliminada. Estima-se que, em uma escala global, cerca de 67% das pessoas com menos de 50 anos estejam infectadas com o tipo 1 do vírus Herpes simplex (HSV-1), principal causador do herpes labial. Já o tipo 2 do Herpes simplex (HSV-2), que é mais associado ao herpes genital, infecta aproximadamente 13% da população.

A demência, outro problema de saúde amplamente disseminado, vem aumentando em incidência, com previsões apontando para 78 milhões de casos em todo o mundo até 2030. A principal causa da demência, a doença de Alzheimer (DA), ainda é um mistério em grande parte. Contudo, estudos em larga escala têm indicado cada vez mais que a infecção pelo HSV pode estar relacionada ao desenvolvimento da DA ou demência. Pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, recentemente exploraram essa conexão entre a infecção pelo HSV e o risco de demência.

Erika Vestin, a pesquisadora principal deste estudo, destacou sua singularidade devido à semelhança de idade dos participantes. Essa uniformidade etária ajuda a garantir a confiabilidade dos resultados, já que fatores relacionados à idade, comumente associados ao desenvolvimento da demência, são eliminados.

O estudo acompanhou 1.002 indivíduos de 70 anos, livres de demência, durante um período de 15 anos. Foram realizados exames de sangue para medir anticorpos contra o HSV e o HSV-1 (IgG), o citomegalovírus (CMV) IgG, além dos níveis de anticorpos IgM contra o HSV e CMV.

O Immunoglobulin M (IgM) é o primeiro anticorpo produzido em resposta à exposição inicial a substâncias estranhas. O Immunoglobulin G (IgG) é o anticorpo mais comum no sangue, que se liga a patógenos como vírus e bactérias para proteger contra infecções. A presença de IgG no sangue indica infecção pelo HSV ou portador do vírus, com a detecção de IgM e níveis elevados de IgG sugerindo reativações frequentes. O CMV, outro tipo de herpesvírus, também tem sido estudado por sua possível ligação com a DA ou demência.

Durante o estudo, 7% dos participantes desenvolveram demência por diversas causas e 4% foram diagnosticados com DA. Revelou-se que 82% dos participantes possuíam anticorpos contra o HSV (anti-HSV IgG), e 6% deles foram submetidos a tratamento contra o herpesvírus.

Os resultados mostraram que a presença de anticorpos anti-HSV IgG estava associada a um risco mais do que dobrado de demência. No entanto, não foi encontrada uma correlação significativa com a DA, embora o risco fosse similar ao da demência.

O estudo não encontrou associação entre DA ou demência com a prevalência de anti-HSV IgM, anti-CMV IgG, tratamento contra o herpesvírus, ou níveis de anti-HSV e anti-CMV IgG. Isso também se aplicou às interações entre a prevalência de anti-HSV IgG e a presença da apolipoproteína e4 (APOE e4), uma proteína associada à doença de Alzheimer, ou anti-CMV IgG.

Os pesquisadores concluíram que a presença, e não o nível, de IgG indica um risco de demência. Vestin expressou entusiasmo com essas descobertas, que estão alinhadas com pesquisas anteriores, implicando cada vez mais o vírus herpes simplex como um fator de risco para demência.

Os autores do estudo observaram que a baixa incidência de DA pode ter limitado a capacidade de detectar associações. Eles sugeriram a necessidade de estudos mais abrangentes para investigar interações potenciais e enfatizaram a importância de ensaios clínicos randomizados para determinar se os tratamentos existentes para o HSV podem reduzir o risco de demência ou auxiliar no desenvolvimento de novas vacinas.

Vestin sugeriu que esses resultados poderiam direcionar a pesquisa sobre demência para o tratamento precoce usando medicamentos comuns contra o herpes ou medidas preventivas contra a doença. [New Atlas]

Deixe seu comentário!