Segunda Guerra Mundial: veja o que motivou piloto alemão a salvar americano

Por , em 31.05.2016
Stigler (esquerda) e Brown em encontro e entrevista em 1990

Alguns dias antes do Natal de 1943, a campanha de ataque aéreo norte-americana continuava a todo vapor na Alemanha. Charlie Brown e seus colegas embarcaram em sua primeira missão com objetivo de atacar o norte da Alemanha, na região da cidade de Bremen.

Brown usava um avião B-17 Flying Fortress, também conhecido como Ye Olde Pub. O avião de quatro motores estava armado com 11 metralhadoras e conseguia carregar 3.6 mil quilos de bombas. Ele podia alcançar mais de 8 mil metros, mas não era pressurizado. Para aguentar o frio e falta de oxigênio, os pilotos contavam com roupas especiais, sapatos aquecidos e cilindros de oxigênio.

Quando se aproximava de Bremen, o avião de Brown foi atingido pela defesa antiaérea, que destruiu dois motores. Sem conseguir acompanhar o restante dos pilotos que ainda rumava para a cidade, ele ficou para trás, exposto ao fogo inimigo. Neste momento, um dos atiradores do avião foi morto e Brown foi atingido por um fragmento de bala no ombro direito.

O sistema hidráulico e de oxigênio também foram atingidos, e o avião começou a cair em espiral. O que aconteceu em seguida foi inesperado: “Eu desci em espiral ou rodei e saí desse giro bem próximo ao chão. Minha única memória foi a de que estava desviando de árvores, mas tive pesadelos por anos e anos em que estava desviando de prédios e depois árvores. Acho que os alemães pensaram que eu entrei em espiral e me choquei contra o chão”, relembra Brown.

E foi assim que os alemães partiram para outro alvo, com a certeza de que o Ye Olde Pub era passado. Depois de controlar a aeronave, ele e seu copiloto conseguiram voltar à altitude de 300 metros para tentar deixar o território alemão.

O encontro

Quando estavam voltando ao oceano, encontraram mais uma aeronave inimiga, sendo pilotada por Franz Stigler. Ele havia acabado de derrubar dois B-17s, e se preparava para perseguir o Ye Olde Pub quando notou que ele já estava estraçalhado.

Stigler contou em uma entrevista em 1990 que ficou surpreso com as condições do avião inimigo. Ele tinha perdido o nariz, tinha vários furos na fuselagem e era possível ver vários soldados feridos lá dentro. Ele também percebeu que as armas não estavam em uso.

“Vi o atirador deitado no fundo sangrando profusamente. Então eu não podia atirar. Tentei fazer com que ele pousasse na Alemanha, mas eles não reagiram. Então pensei, bom, vou direcioná-los para a Suécia, porque o avião estava acabado; nunca vi nada voando dessa forma”, contou o alemão.

Emparelhados

Stigler manteve distância, ficando fora da linha de fogo das duas armas que ainda estavam funcionando, mas conseguiu emparelhar com o surrado avião para tentar fazer gestos com as mãos. Sua mensagem era simples: “Pouse na Alemanha e se renda ou voe para a Suécia. Essa pilha de ferro nunca vai chegar à Inglaterra”.

Sem poder acreditar, Brown olhou pela janela e piscou bem forte, na esperança de que aquela visão desaparecesse. Quando voltou a abrir os olhos, o avião ainda estava ao seu lado, com um alemão fazendo gestos para ele. Ele se recusou a pousar, mas percebeu que o avião alemão estava o escoltando para fora do país.

Quando ficou claro que ele não voltaria para o espaço aéreo alemão, Sigler fez um cumprimento e retornou.

“Quando Franz tentou me fazer me render, minha mente não aceitava isso. Não era coragem, era provavelmente estupidez. Minha mente não funcionava de forma clara. Então suas opções eram nos matar ou fazer com que voássemos para a Suécia, já que nós não pousávamos”, explica o americano.

O reencontro no pós-guerra

Stigler (esquerda) e Brown em encontro e entrevista em 1990

Stigler (esquerda) e Brown em encontro e entrevista em 1990

O avião conseguiu retornar para a Inglaterra, mal podendo manter altitude superior a 76 metros. Para não incentivar americanos a baixar a guarda contra o inimigo, a história vivida pelos ocupantes do Ye Olde Pub foi mantida como segredo de guerra. Já Stigler tratou de manter a boca fechada sobre suas ações, para não acabar sendo julgado por traição.

Anos depois do fim da guerra, Brown se mudou para Miami e Stingler acabou se mudando para o Canadá em 1953. Foi apenas em 1986 que Brown começou a procurar pelo homem que salvou sua vida, e acabou o localizando.

A dupla se encontrou pela primeira vez em 1990, mas continuaram uma relação de amizade por vários anos. Eles se tornaram como irmãos, viajando para se encontrarem com frequência. [Jalopnik]

Confira entrevista com a dupla:

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