Tipo de neurônios envolvidos na gagueira são identificados

Por , em 20.08.2019

Pesquisadores dos Institutos Nacionais da Saúde dos EUA, em colaboração com cientistas da Universidade de Washington, descobriram que uma perda de neurônios chamados astrócitos pode estar associada com a gagueira.

Essa condição pode ser debilitante para muitas pessoas, e os cientistas já vem tentando destilar os possíveis déficits neurológicos envolvidos nela há um tempo. O novo estudo abre possibilidades para novas intervenções terapêuticas.

Modelos roedores

A gagueira é uma condição caracterizada por pausas e repetições ou sons prolongados, de sílabas ou palavras, que interrompem o fluxo regular do discurso. É mais comum em crianças, que normalmente superam a condição quando crescem. No entanto, 1 a cada 4 pessoas sofrem com gagueira pelo resto da vida.

O novo estudo foi feito com ratos, modificados para ter uma versão do gene GNPTAB, previamente ligado à condição. Os ratos com a mutação apresentaram longas pausas em seu fluxo de vocalizações, e nenhum outro sintoma, confirmando a teoria de que o gene está envolvido na gagueira.

Pesquisas anteriores haviam identificado diferenças nos cérebros de pessoas com e sem gagueira. Algumas destas pesquisas também revelaram problemas estruturais e funcionais semelhantes na mesma região do órgão que foi abordada no novo estudo com ratos.

Enquanto as imagens cerebrais são importantes, é complicado definir se os efeitos vistos são a causa ou a consequência da gagueira nas pessoas. “Ao adotar uma abordagem genética, pudemos começar a decifrar a neuropatologia da gagueira, primeiro no nível molecular, identificando mutações genéticas e, agora, no nível celular”, disse um dos pesquisadores do estudo, Dennis Drayna.

Resultados

O que os cientistas notaram foi uma perda de astrócitos, mas não de outros tipos de neurônios, nos cérebros dos ratos com a mutação. Astrócitos desempenham papéis críticos de suporte a células nervosas, realizando diversas funções como supri-las com oxigênio e nutrientes.

A perda foi mais acentuada no corpo caloso, uma parte do cérebro que liga os dois hemisférios – com 200 milhões de fibras, ele permite a comunicação entre a parte direita e esquerda do órgão, ajudando a integrar sinais em processos que envolvem ambos os hemisférios, como coordenação física e uso da linguagem.

Os pesquisadores também detectaram um volume reduzido do corpo caloso nos ratos com a mutação.

Por fim, eles confirmaram que o problema era nos astrócitos ao inserir a mutação em outras células cerebrais e não verem nenhuma consequência nas vocalizações.

Próximos passos

O problema parece estar no que os cientistas chamam de “tráfico intracelular”, o caminho que as células tomam para mover proteínas e outros componentes para seus locais corretos.

Defeitos no tráfico celular, como este dos astrócitos, têm sido ligados a outros distúrbios neurológicos como esclerose lateral amiotrófica, Parkinson e Alzheimer.

Por enquanto, novas pesquisas precisam confirmar que a gagueira em pessoas com mutações no gene GNPTAB de fato deriva de uma perda de astrócitos no cérebro. Sendo este o caso, os cientistas podem desenvolver um tratamento para gagueira persistente visando as vias moleculares e celulares associadas à condição.

“A identificação de alterações genéticas, moleculares e celulares subjacentes à gagueira levou-nos a compreender a gagueira persistente como um distúrbio cerebral. Talvez ainda mais importante, identificar a região do cérebro e as células envolvidas abre oportunidades para novas intervenções para a gagueira – e possivelmente outros distúrbios da fala”, resumiu Andrew Griffith, outro autor do estudo.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. [ScienceDaily]

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