Mulher trans dos EUA é a primeira a conseguir amamentar seu bebê

Por , em 15.02.2018

As mulheres transgênero acabaram de conquistar uma vitória histórica. Uma mulher transgênero americana, de 30 anos, tornou-se a primeira a ser capaz de amamentar um bebê. Ela passou por um tratamento experimental de três meses e meio, que incluiu hormônios, um remédio para náuseas e estimulação mamária. O resultado? Ela passou a produzir 227 gramas de leite por dia.

Paciente recebe novo tipo de cirurgia transgênero que ela mesma ajudou a inventar

Tudo começou quando sua parceira ficou grávida. A outra mulher não tinha interesse em amamentar, então, aos cinco meses e meio de gestação, a mulher decidiu procurar tratamento médico no Centro de Medicina e Cirurgia Transgênero do Hospital Monte Sinai, em Nova York. Ela recebeu tratamentos hormonais femininos por vários anos antes de iniciar o tratamento de lactação – incluindo a ingestão de progesterona, um tipo de estrogênio e espironolactona, usado para bloquear os efeitos da testosterona.

Este tratamento fez com que ela já tivesse seios completamente desenvolvidos, de acordo com uma escala médica que avalia o desenvolvimento de mama com base na aparência, sem precisar de nenhuma cirurgia de aumento mamário.

Criando leite

A produção de leite em mulheres que acabaram de dar à luz é causada por um hormônio chamado prolactina. Este produto químico, entretanto, não está disponível como uma droga feita em laboratório. Em vez disso, os médicos usaram um medicamento para náuseas chamada domperidona para desencadear o leite materno.

Apesar da US Food and Drug Administration (FDA) já tenha avisado que este medicamento não deveria ser usado para este propósito, há evidências de que ele pode aumentar a produção de leite. A paciente tomou o remédio juntamente com doses crescentes de estrogênio, progesterona e espironolactona. Ao mesmo tempo, ela começou a usar uma bomba de mama para estimular seus seios.

Crianças transexuais: 10 histórias que vão emocionar você

Dentro de um mês, a mulher conseguiu produzir gotículas de leite. Após três meses de tratamento, a produção aumentou para 227 gramas de leite materno por dia. Quando o bebê nasceu, ela foi capaz de amamentar exclusivamente a criança por seis semanas. Neste período, um pediatra os acompanhou e garantiu que o bebê estava crescendo e se desenvolvendo de forma normal e saudável.

Embora seja uma quantidade significativa de leite, ainda está abaixo da média que um bebê consome no momento em que tem 5 dias de idade, de cerca de 500 gramas. Após seis semanas, a alimentação da criança passou a ser complementada com fórmula infantil.

Pioneira

Os médicos dizem que, apesar de indícios na internet de que isso já tenha ocorrido antes, este é o primeiro caso de amamentação por uma mulher trans relatado na literatura médica.

“Isto é muito importante”, diz Joshua Safer, do Boston Medical Center, que não esteva envolvido com o tratamento, ao site New Scientist. “Muitas mulheres transgênero procuram ter tantas experiências de mulheres não transgênero quanto possível, então eu posso ver que isso será extremamente popular”, prevê.

Safer, entretanto, diz na matéria da New Scientist que não está surpreso que isso seja possível. “Quando tratamos as mulheres transgênero, vemos um bom desenvolvimento mamário. “Não há razão para que as células desses seios não produzam leite da mesma maneira que as mulheres não-transexuais”.

5 realidades chocantes que a mídia ignora sobre ser um transexual

Ele diz até mesmo que não sabe até que ponto as drogas e os hormônios ajudaram. “Por tudo o que sabemos, a estimulação mamária por si só pode ser suficiente”, aponta. Se o tratamento se provar seguro e eficaz, o especialista diz que poderá beneficiar não só os bebês de outras mulheres transgênero, mas também mulheres que adotam ou as que têm dificuldade em amamentar.

Cautela

O leite materno produzido pela mulher transgênero ainda não foi avaliado para que os médicos vejam se ele possui a mesma mistura de componentes que é encontrada no leite de novas mães gestacionais. Isso significa que a prática ainda não pode ser recomendada, diz Madeline Deutsch, na Universidade da Califórnia. Ela diz que pode ver os benefícios potenciais da amamentação, mas que o impacto a longo prazo desse leite no bebê – inclusive em medidas sutis como o QI – é desconhecido.

A própria Deutsch é uma mulher transgênero com um bebê de seis meses, que atualmente está sendo amamentado pela esposa de Deutsch, que foi a mãe gestacional. “Estou muito triste por não ser capaz de amamentá-la e, ao mesmo tempo, não pensei em fazer isso pelos motivos acima”, diz ela na reportagem.

Safer acredita que mesmo assim haverá provavelmente demanda por tratamentos como este. “Isso é muito especial”, diz ele. “Será muito importante para as muitas mulheres transgênero que querem amamentar, mas não sentem que têm a oportunidade de fazê-lo”. [New Scientist]

1 comentário

  • Patrícia Road:

    Mas homens também podem amamentar. Já houve um caso bem conhecido, inclusive, quando a esposa morreu. A natureza é sábia.

Deixe seu comentário!