Um destino pior do que a morte para as mulheres
Um problema médico grave e pouco conhecido fora da África e da Ásia assombra pelo menos 2 milhões de mulheres nesses continentes: a fístula obstétrica, causada por trabalho de parto prolongado.
Normalmente, quando um trabalho de parto se estende ao longo de dias e a mulher não tem estrutura óssea para fazer parto natural, os médicos recorrem à cesárea, evitando complicações. Se nada for feito, contudo, a pressão contínua feita pelo bebê sobre a pélvis da mãe pode resultar em um buraco (fístula) entre o canal vaginal, o reto e/ou a bexiga, causando incontinência e colocando em risco a vida da mãe e da criança (que dificilmente sobrevive).
Não bastassem os problemas de saúde, essas mulheres muitas vezes acabam sendo isoladas do convívio social e sentem vergonha por causa do odor que exalam – e, em sociedades que colocam na mulher a obrigação de “dar filhos a seu marido”, a impossibilidade de engravidar novamente por causa da fístula se torna mais um motivo de rejeição.
Inferno particular
Alison Heller é doutoranda na Universidade de Washington em St. Louis (EUA) e lidera um estudo sobre a condição, em que acompanha 50 mulheres de 15 a 70 anos que sofrem com fístula obstétrica.
Entre os casos está o de uma jovem de 15 anos que teve de passar oito meses vendendo doces para ter dinheiro simplesmente para pagar um táxi que a levasse a um centro de tratamento.
Outro caso é o de Habsu (o nome foi alterado para protegê-la), de 32 anos, que adquiriu fístula obstétrica na nona gravidez e passou por três cirurgias, todas mal sucedidas. Habsu passou dias em trabalho de parto antes de receber cuidados médicos e, como ocorre com muitas mulheres em situação parecida no continente africano, estava mal nutrida e não tinha estrutura óssea apropriada para um parto natural.
Os médicos que a atenderam não sabiam como fazer um parto cesáreo, e usaram um bisturi para esquartejar o bebê ainda dentro do útero. Os pedaços foram saindo do corpo de Habsu nos dias seguintes.
Sofrimento que pode ser combatido
Contrariando a crença errônea de que não há cura para fístula obstétrica, o médico e professor Lewis Wall, da Universidade de Washington em St. Louis, abriu em 2012 um hospital na Nigéria especialmente para atender esses casos. Wall estima que, desde então, já atenderam cerca de 50 mulheres por mês.
É difícil, porém, encontrar profissionais capacitados para realizar as cirurgias (especialmente para casos mais complexos, que demandam mais de uma intervenção). O centro vive de doações e não pode arcar com o custo de contratar médicos estrangeiros, e mesmo eles podem não ser a melhor opção, pois muitos nunca tiveram que atender casos de fístula obstétrica (em países que fornecem boa assistência pré-natal, o problema é muito raro). O ideal é que profissionais locais recebam treinamento específico.
A residente em medicina Olivia Bowen prepara uma iniciativa similar, trabalhando para abrir uma organização que arrecade fundos para que mulheres que não têm condições financeiras possam passar por cirurgia para fístula obstétrica.
Ela criou um projeto chamado “One Week to End Fistulas” (“Uma Semana para Acabar com Fístulas”), em que os participantes pagam por aulas diárias de ioga durante uma semana, e o valor é revertido para bancar cirurgias.[CNN]
4 comentários
Cade o Avaaz nessas horas?
Mais um dos zilhões de furos do “grande projetista” do “design inteligente”…
O que quiseste dizer com esta frase?
Que coisa mais triste. Lendo esse tipo de matéria eu me sinto tão mal por não ser capaz de fazer algo por essas mulheres.