Um filme que tem o público como diretor

Por , em 13.02.2013

Quando estamos assistindo algo muito bom, tendemos a nos entreter totalmente – saltando da cadeira quando algo inesperado acontece, ou chorando de tristeza ou alegria quando uma cena nos toca. A interação ocorre mesmo quando o filme é ruim – a lentidão de um filme nos faz dormir e perder a grande revelação do roteiro, por exemplo.

Pensando nessa troca entre filme e público, o compositor e agora cineasta Alexis Kirke resolveu adotar inovadores sensores para controlar tal interação em um cinema.

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Se você já desejou que um filme que gostou tivesse um final diferente, você vai gostar de “Many Worlds” (em português, “Muitos Mundos”). Essa história assiste os membros da audiência enquanto eles a assistem, o que permite que os espectadores influenciem na sequência de cenas conforme o enredo se desenrola.

O filme foi desenvolvido na Universidade de Plymouth, no Reino Unido. Através dele, Kirke repensa nossa forma de ver filmes, usando sua pesquisa anterior sobre a utilização de biossinais para detectar as emoções das pessoas e seus estados de espírito.

A tecnologia envolvida não será demonstrada em um laboratório ou conferência científicos, mas sim em um festival da Universidade de Plymouth.

Como funciona

A história começa com dois estudantes que chegam na casa de um amigo para comemorar seu aniversário, mas, em vez disso, encontram-se envolvidos em um bizarro experimento científico.

O enredo narra a história de uma estudante de física chamada Connie que se fecha em uma caixa do tamanho de uma tumba com uma cápsula de gás conectada e um contador Geiger. Se o contador consegue uma dada medição, a menina pode morrer – ou, na realidade, isso já poderia ter passado e a menina já estar morta. Charlie, outro estudante, se dá conta da situação e a partir daí se desenrola a trama, que dura 15 minutos.

O objetivo do filme é que o público mergulhe na história e, conforme reage a ela, mude seu final. Suas emoções serão usadas para direcionar o progresso do filme, editando-o em tempo real.

Para que a tecnologia funcione, o cineasta precisa que quatro voluntários da plateia sejam anexados a sensores. A taxa cardíaca de um espectador será monitorada, as ondas cerebrais de outro serão rastreadas, o nível de transpiração de um terceiro será observado, e o voluntário final terá um dispositivo preso ao seu braço para medir sua tensão muscular.

Estes são indicadores de excitação física que podem ser alimentados a um computador e analisados em tempo real. Ferramentas de software já existentes podem utilizar essa análise em tempo real para mudar a direção ou cenas de um filme.

No caso de Many Worlds, quatro finais são possíveis, dependendo do “gatilho” emocional disparado pelos membros monitorados da audiência. Por exemplo, quando o espectador começa a ficar muito tenso, o filme passa para uma sequência mais relaxante.

Em resumo, momentos de ação ou não são definidos pelas reações do público. Se a medição diz que os espectadores estão entediados, a parte seguinte do filme apresentará mais ação. Se uma parte do filme os deixou tristes, em seguida vem um momento alegre, e assim por diante.

Histórico interativo

Essa não é a primeira vez que tecnologia semelhante é experimentada. Em 1967, o primeiro filme interativo do mundo apareceu: Kinoautomat, durante o qual um moderador subia ao palco e parava o filme em nove pontos decisivos, pedindo ao público para votar sobre a direção (uma de duas opções) que o filme deveria seguir.

Monitorar os voluntários significa que esses pontos de ramificação serão menos prejudiciais para o fluxo do filme, mas, segundo o escritor de tecnologia Bill Thompson, quatro pessoas não constituem necessariamente uma amostra estatística da audiência.

O novo filme interativo é um primeiro passo para a ampliação da tecnologia, mas um teste mais rigoroso exigirá um filme com muitos mais pontos de decisão do que Kirke e seus colaboradores foram capazes de engenhar, acredita Thompson.

No entanto, o cineasta pensa que é inevitável que esse tipo de tecnologia seja adotada por todos os grandes estúdios, de Hollywood a Bollywood. Segundo ele, poderia colocar um fim à obsessão com sessões de teste de audiência com múltiplos finais antes de um filme ser lançado. Ele prevê um futuro no qual o diretor pode abrir mão do controle do estado emocional coletivo do público.[BBC, TecnoArteNews]

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