Veja por que desviamos o olhar quando conversamos com alguém por muito tempo

Por , em 1.12.2016

Uma nova pesquisa sugere que há uma boa razão fisiológica para muitos sentirem dificuldade em olhar outras pessoas nos olhos durante conversas. No final das contas esse comportamento não está relacionado à personalidade introvertida ou extrovertida, mas sim à dificuldade de se concentrar em duas tarefas difíceis ao mesmo tempo.

Interpretar a linguagem corporal de outras pessoas – especialmente as sutilezas das expressões faciais – é uma tarefa que consome muita atenção do nosso cérebro, e fazer isso enquanto se pensa sobre o que vai ser dito torna as atividades ainda mais difíceis. Este efeito pode ser notado com mais facilidade quando alguém tenta se lembrar de uma palavra que não é utilizada com frequência.

Pesquisadores da Universidade de Tóquio (Japão) testaram esta hipótese ao analisar o comportamento de 26 voluntários que encaravam rostos gerados por computador enquanto faziam jogos de associação de palavras.

Quando faziam contato visual, os participantes tinham mais dificuldade em associar as palavras. “Apesar de contato visual e o processamento de palavras parecerem independentes, as pessoas frequentemente desviam o olhar dos interlocutores durante uma conversa”, diz o estudo. “Isso sugere que há ligação entre os dois processos”.

Os voluntários foram testados enquanto olhavam para animações de rostos que faziam contato visual e animações de rostos que olhavam para outro ponto. Eles também tiveram que fazer associações de palavras simples e mais complexas.

Por exemplo, associar a palavra “faca” com outras é fácil, já que há poucas possibilidades para o uso desse utensílio além de cortar ou esfaquear algo ou alguém. Já encontrar uma associação para a palavra “gaveta” é um pouco mais difícil, já que é possível abri-la, fechá-la e guardar coisas nela.

Os voluntários levaram mais tempo para pensar em palavras quando estavam fazendo contato visual, mas apenas quando precisavam utilizar palavras mais difíceis. Os pesquisadores acreditam que a hesitação indica que o cérebro está lidando com muita informação ao mesmo tempo.

A amostra de participantes do estudo é pequena, mas já traz informações interessantes. Há também outros trabalhos com o mesmo tema, como o do psicólogo italiano Giovanni Caputo, que em 2015 demonstrou que fazer contato visual por apenas 10 minutos é o suficiente para induzir estados de consciência alterados. Os participantes tiveram alucinações com monstros, com parentes e com o próprio rosto.

O trabalho da universidade japonesa foi publicada na revista Cognition. [Science Alert, Science Direct]

Deixe seu comentário!