As 10 doenças mais estigmatizadas do mundo

Por , em 23.08.2012

O termo “estigma” era usado na Grécia Antiga para designar sinais corporais que desqualificavam o cidadão marcado. Escravos, criminosos e traidores traziam essas marcas nos corpos, como forma de serem discriminados em locais públicos.

Hoje em dia, apesar de não haver uma marca clara nas pessoas, usamos estigmas para categorizá-las segundo normas dentro de conceitos como “normalidade” e “aceitação social”. Ou seja, nós julgamos as pessoas conforme o que considerados “normal” ou “aceito socialmente”.

Já deu pra perceber o erro inerente a tal julgamento. Ainda assim, muitos doentes, não bastasse o sofrimento com sua doença em si, tem que sofrer com esses estigmas também. Confira:

1 – Câncer de cólon

Câncer colorretal é bastante curável se detectado nos estágios iniciais. Porém, como não tem sintomas, ou mesmo que os sintomas apareçam, os pacientes podem ficar constrangidos em falar sobre diarreia e movimentos intestinais anormais com seus médicos, esses tumores acabam crescendo e se tornando mais complicados.

A melhor forma de diagnosticar o câncer de cólon é a detecção precoce, com testes como a colonoscopia. Mas as pessoas não fazem esses tipos de exame; ninguém quer se submeter a tal desconforto, ou constrangimento.

Nesses casos, falar sobre “doenças escondidas” pode ajudar as pessoas a procurar assistência médica. De acordo com um estudo americano de 2003, mais pessoas fizeram colonoscopia depois de um especial que passou na TV que conscientizava de sua importância.

2 – Disfunção erétil

Nem precisamos falar do estigma que envolve a disfunção erétil. Apesar de ter diminuído nos últimos anos, ainda é muito difícil para os homens admitir a disfunção sexual. De acordo com um estudo de 2010, só metade dos homens com disfunção erétil procura tratamento.

Mas todos deveriam procurar, porque a condição tem tratamento e pode ser curada ou remediada.
A impotência atinge até 25 milhões de brasileiros acima dos 18 anos pelo menos uma vez na vida. O número é maior em homens na faixa etária dos 40 anos. Todo ano, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, um milhão de casos são registrados no país.

Só que o Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão da Secretaria de Estado da Saúde em São Paulo, por exemplo, só recebe cerca de 300 pacientes com o problema por mês. Mais: eles descobriram que 90% deles são sedentários – a ponto de não fazerem exercício nem de fim de semana – e 40% deles também são fumantes. Se você não quiser procurar tratamento, pelo menos converse com seu médico, porque algumas mudanças no estilo de vida já podem lhe ajudar.

3 – Problemas “masculinos”

Alguns transtornos femininos vêm com sintomas que desafiam nossas definições culturais da feminilidade. A Síndrome dos Ovários Policísticos, um distúrbio hormonal que pode causar infertilidade e diabetes, é muitas vezes marcada por pelos faciais excessivos. Distúrbios como hiperidrose, ou transpiração excessiva, podem ser estigmatizantes para ambos os sexos.
Mas a desordem vem com bagagem extra para as mulheres. “É uma espécie de ‘característica mais masculina’ do que feminina, por isso é bastante constrangedora”, diz Sophia Wastler, que tem hiperidrose. Porém, a maioria desses problemas tem tratamento e as pessoas perdem mais sofrendo em silêncio do que buscando um médico.

4 – Psoríase

A psoríase é uma doença imune crônica que provoca pele escamosa, manchada e/ou rachada. Essas marcas podem ser difíceis de esconder, e muitas vezes constrangedoras para os doentes. Seu embaraço é multiplicado por pessoas que veem a psoríase e se afastam do doente, acreditando equivocadamente que a doença é contagiosa.

Como uma das condições mais estigmatizadas do mundo, afeta bastante a vida dos pacientes. De acordo com uma pesquisa realizada em 2008 pela Fundação Nacional de Psoríase nos EUA, 58% das pessoas com a condição disseram que se sentiam envergonhados, e um terço disse que limitava suas interações sociais e encontros por causa da psoríase.

5 – Intestino irritável e inflamado

Qualquer doença relacionada com excreção corporal vem amarrada em algum tipo de estigma. A Síndrome do Intestino Irritável (SII) e a Doença Inflamatória Intestinal (DII) não são exceções. Esse último é um conjunto de síndromes, todas marcadas pela inflamação dos intestinos. O primeiro é marcado por dor intestinal, cólicas e prisão de ventre ou diarreia, mas sem a inflamação.

Em geral, os pacientes com SII se sentem mais estigmatizados. A diferença pode ser porque, sem uma causa clara física, eles podem sentir que a sua doença não é levada tão a sério.

6 – Obesidade

O estigma de gordura tornou-se global. De acordo com um estudo de 2011, publicado na revista Current Anthropology, quase não há culturas que não associem a obesidade com preguiça e gula, apesar do fato de que muitas dessas mesmas culturas também veem gordura como um sinal de riqueza.

Muitos do que tem vergonha do excesso de peso dizem que são preocupados com a saúde. Mesmo que seja esse o caso, a vergonha saiu pela culatra, pois pesquisas descobriram que a vergonha e o estigma apressam o declínio físico em pessoas obesas.

7 – Lepra

Lepra, ou hanseníase, é uma das doenças mais “fantasiadas” na imaginação do público. Alguns dos mitos mais comuns são de que a doença é extremamente contagiosa e de que partes do corpo do doente simplesmente caem.

Aqui cabe um famoso “nada a ver”. Mais de 90% das pessoas que entram em contato com as bactérias que causam a lepra combatem a doença sem sintomas e sem se tornarem contagiosas (embora seres humanos possam pegar a doença por contato próximo com tatus). A doença também é curável com antibióticos. Se o doente não procurar tratamento, pode ser que tenha lesões na pele, mas, não, suas mãos, pés e nariz não vão simplesmente cair. Pesquisadores sugerem que tal lenda nasceu porque a condição pode causar dormência, colocando as pessoas em maior risco de lesões acidentais ou amputação.

Enfim, está na hora de tais crenças absurdas como essa saírem de cena. Muitas vezes apelidada de “doença do estigma” (mesmo “leproso” virou termo proibido, pelo preconceito a ele associado), a lepra foi tratada como sinal de impureza ou pecado por muitos anos, e quem já leu histórias antigas, principalmente bíblicas, sabe que a regra durante séculos foi discriminar os doentes e privá-los do convívio social. Se, por um lado, podemos perdoar nossos antepassados por eles não terem informação, ignorância hoje não é mais desculpa.

8 – Câncer de Pulmão

Como a obesidade, esse câncer é uma condição que as pessoas tendem a culpar a vítima por ter a doença. A ligação entre fumar cigarros e câncer de pulmão leva as pessoas a acreditar que os que sofrem do câncer “provocaram isso” em si mesmos. Mas, na verdade, milhares de pessoas que nunca fumaram têm câncer de pulmão a cada ano. Além disso, pessoas que fumaram não são menos dignas de tratamento do que as que nunca fumaram: não cabe a nós julgar quem vive e quem morre, não é mesmo? O direito a tratamento médico é previsto em lei para todos os cidadãos.

9 – HPV

O papilomavírus humano (HPV) infecta a pele ou mucosas, muitas vezes de forma assintomática. Ele pode causar verrugas vaginais, e algumas cepas do vírus podem causar câncer cervical em mulheres, o que o torna uma perigosa doença sexualmente transmissível (DST).

Existe até vacina para o vírus, mas é difícil para os governos fazerem campanhas ou a tornarem obrigatória, porque a transmissão da doença é através do contato sexual. Especialistas argumentam que a vacina é mais eficaz antes da pessoa tornar-se sexualmente ativa, mas há quem diga que torná-la obrigatória ou incentivá-la pode estimular os adolescentes a se engajarem em atividade sexual precoce. Ao mesmo tempo, “melhor prevenir do que remediar”, não é mesmo?Tirar um pouco do estigma da doença poderia ajudar na conscientização com responsabilidade.

10 – HIV/AIDS

Dá para enumerar diversos estigmas dessa doença: “doença de gay”, de comportamento promíscuo, de “drogado”, etc. Aparecendo no início dos anos 80 como uma síndrome misteriosa que atingia em sua maioria homens gays, o “comportamento imoral” virou o símbolo da propagação da Aids, que se tornou mais uma daquelas doenças em que “culpamos a vítima”.

De acordo com um estudo de 1999, 52% dos norte-americanos ainda associava HIV com homossexualidade, apesar do fato de que, já naquela época, apenas cerca de um terço dos novos casos de HIV eram de homens gays. Em 2006, um relatório da Kaiser Family Foundation descobriu que o americano fazia uma confusão significativa sobre o HIV: 37% deles acreditavam erroneamente que o HIV podia ser transmitido pelo beijo, enquanto 32% pensavam que poderia se espalhar através de copos compartilhados. Se a população pensa isso, já dá para imaginar como os doentes são vistos/tratados na sociedade.

Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2011, o Brasil teve 608.230 casos registrados de HIV (condição em que a doença já se manifestou), de acordo com o último Boletim Epidemiológico. A morte pela doença tem diminuído, e os casos são apenas ligeiramente mais comuns em homens do que mulheres. Veja outras estáticas e saiba como se prevenir aqui.

O item 9 e 10 dessa lista se referem a doenças sexualmente transmissíveis, mas essas não são as únicas estigmatizadas. No geral, pessoas com esse tipo de doença podem ser vistas como “promíscuas” ou “desleixadas”, percepção em muitos casos errônea, e sempre preconceituosa.

Bônus: Depressão

Hoje, a depressão não é tão estigmatizada, já que foi bastante estudada e agora é mais bem compreendida.

Só que ainda falta compreensão: muitos casos da doença não são levados a sério, mas precisariam. Existe depressão de todos os níveis, de leve a grave, e nem todos são tratados de acordo.

Um estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revolveu que, em 2011, o Brasil foi o país com a maior prevalência da doença, com 10,8% da população apresentando o distúrbio mental.

Em 2008, o Suplemento de Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios mostrou que a depressão é a quinta doença de maior ocorrência no Brasil.

No mundo todo, estima-se que a depressão afete 121 milhões de pessoas. A OMS acredita que em pouco mais de 10 anos, a doença será a segunda mais comum no mundo, chegando ao primeiro lugar em 2030. Ela também será a maior responsável por mortes prematuras e anos produtivos perdidos dado seu potencial incapacitante. Mais: pesquisas indicam que depressão na meia idade leva a um maior risco de desenvolver demência mais tarde (como Alzheimer), além da condição estar ligada a diversas outras doenças e problemas.

É preciso que as pessoas fiquem atentas aos sintomas da condição, para tratá-la de acordo. Remédios e assistência psicológica estão entre os tratamentos mais procurados.[LiveScience, Globo, Estadao, Abril, InfoEscola]

14 comentários

  • Elvis Sá:

    A Tuberculose também é um estigma na sociedade, se está tuberculoso o taxam logo de alcoolatra e passador de fome.

  • Tay Gonçalves:

    Outra doença estigmatizada, assim como a obesidade e a depressão, é a anorexia e transtornos de personalidade.
    E assim como o Jose de Melo citou, a epilepsia.

  • Dinho01:

    No que diz respeito ao HPV é importanten comentar que ele tem sido apontado também como causador de casos de câncer de boca.Esse tipo de câncer era mais comum em pessoas mais velhas com histórico de fumo ou álcool em excesso mas devido a mundança no comportamento sexual,o sexo oral tornou-se uma prática mais comum.O problema é que neste tipo de relação geralmente deixa-se de usar o preservativo causando assim o contato com o vírus.

  • Clara Telis:

    É muito difícil você saber que tem uma doença grave e ficar na eterna dúvida se se abre ou não ,se conta ou não .

  • Jose De Melo:

    Há mais uma que não foi considerada: epilepsia.

  • Ronny Oliveira Couto Mello:

    Bom dia,acho que o texto falando do HIV/AIDS começou com um comportamento meio preconceituoso e homofóbico,primeiro texto que leio e fico chocado com tal propagação de informação mal pesquisada,só lhe digo uma coisa meu caro editor,vc esta equivocada o maior indice de aids é entre os heteros porque os homossexuais e as prostitutas se previnem mais
    reveja seu conceito e assista e leia os jornais…e informo mais meu caríssimo redator,nãos e limite dentro desse país que vc chama de país…porque na Africa,na Índia e China meu caro,o índice lá é assustador,muito limitado o senhor meu caro redator.
    Sabe que penso que vc chegou digitou no Google e pegou o primeiro texto e colocou,chocado com isso meu caro,um site que confie para questão de novidade de informações interessantes quando chego encontro um texto nojento….

    Olha que texto muito mais interessante e provocativo e informativo,posso meu caro escrever errado no entanto não fico escrevendo baboseira ae para aumentar ainda o preconceito existe.

    http://drauziovarella.com.br/sexualidade/boas-e-mas-notivias-sobre-o-combate-ao-hiv/

    • Tay Gonçalves:

      Não acho que tenha sido preconceituoso, acho que o editor deste texto quis explicar as formas como a doença é tratada, como as pessoas rotulam quem é portador do HIV.

    • Daniel Loureiro:

      “boy, that escalated quickly”, rsrsrs

      discordo fortemente de sua interpretação Ronny. O editor, de forma extremamente correta, colocou como *erroneamente* as pessoas vêem estas doenças e não como as doenças são de fato. Talvez ele pudesse ter aproveitado para dar um discurso moral, sobre como as pessoas que pensam assim estão erradas, mas não creio que os leitores deste site sejam o foco de um discurso assim. Creio que você se equivocou em sua análise.

  • Afer Ventus:

    Antes de me crucifiquem: é “assento” com “SS” e não “acento”… é que eu ainda estava sob efeito dos remédios tarja preta que tomo pra dormir…

    🙂

  • Afer Ventus:

    No item 10 as 2 últimas palavras são “sempre preconceituosas”. Vamos falar de preconceito: pré conceito, ou conceito prévio.

    Esse e mais alguns termos são utilizados frequentemente (parece que virou moda) com o intuito de “mudar comportamento” e “forma de pensar”. Entretanto, tais termos são mais ainda utilizados quando convém a certas pessoas/grupos.

    Por exemplo: se uma pessoa não quer se relacionar com alguém que tenha AIDS, é preconceito. Entretanto, pessoas são incentivadas a passar álcool gel nas mãos sempre depois de tocar algo público (como telefones públicos, corrimão, maçanetas, etc.), partindo do pressuposto (pré conceito, conceito prévio) de que alguma pessoa que anteriormente tocou o mesmo objeto era possível portadora do vírus H1N1.

    Ok. O método de transmissão da AIDS e H1N1 são completamente distintos, mas na verdade, o que se julga é o direito de alguém não querer se relacionar com pessoas doentes. Nesse caso, uma pessoa é chamada de preconceituosa por querer se manter afastada de quem quer que esteja doente… não importa a doença.

    Por mais que se force, é nato nas pessoas o direito e vontade de querer se socializar (direito de escolha).

    Como diz a matéria: há pessoas que julgam quem tem AIDS como pessoas de comportamento inadequado. Porém, há pessoas que simplesmente se reservam o direito de não se relacionarem com quem tem a doença, não importa a razão (mesmo sabendo das formas de transmissão, ainda assim preferem manter distância).

    Isso não ocorre somente na relação pessoas “saudáveis” e doentes.

    Saiu uma matéria no broadcast do yahoo sobre uma pesquisa de o porque as pessoas preferem se sentar sozinhas nos bancos dos ônibus.

    Foi observado que alguns ocupavam o acento do corredor para dificultar outras pessoas de se sentarem no mesmo banco. Outros, colocavam objetos pessoais no acento vazio com o mesmo objetivo.

    É fácil observar isso: quando alguém entra no ônibus (pra quem já andou de ônibus) sempre procura um banco vazio. Se houver, prefere sentar-se nesse banco vazio do que junto com outra pessoa. Se não houver, procura bancos cujo acento do lado do corredor esteja vazio. Se não, muitos preferem ficar de pé.

    Isso pra dizer que é inerente às pessoas não quererem chegar perto uns dos outros, ficar perto uns dos outros. Nos relacionamos e socializamos muitas vezes por obrigação (no trabalho, na escola, etc.). Se pudéssemos escolher, sempre escolheríamos com quem queremos nos relacionar, pois todos querem o bem pra si (muitos pais hoje não colocam os filhos na escola e aderem à educação domiciliar para que o filho não corra o risco de maus relacionamentos).

    Muitos tem colegas de trabalho que são mais “excluídos” do que outros. É assim que gira o mundo… é assim que é a sociedade.

    Toda escolha que uma pessoa faz é partindo de dados concretos ou pressupostos.

    Ora, você matricula seu filho em uma escola porque julga essa escola a melhor pra ele. Ou seja, teve um preconceito em relação à escola. O hospital que você vai quando precisa… o médico de sua preferência… você tem um pré conceito de que os outros médicos e hospitais não suprirão suas necessidades.

    Suas escolhas favorecem uns e automaticamente exclui outros. Sempre foi assim e sempre será.

    Então, preconceito todos temos. Todos somos preconceituosos. De uma forma ou de outra estamos sempre favorecendo alguém em detrimento de outrem.

    O problema é quando a palavra (no caso: preconceito) perde seu significado original e passa a ser uma “arma” para coibir o direito de escolha das pessoas.

    • jodeja:

      Tudo bem. Isso é problema de pessoas ricas, porque pobres não podem escolher escolas ou hospitais. Devem pegar o que achar e muitas vezes não acha.

    • Victor B. Iturriet:

      ok, pobre não tem direito de escolha, mas não negue que corre pela cabeça o pensamento de que a escola X ou Y seria melhor para seu filho

    • jodeja:

      Sim. Claro. Os pobres também têm sonhos altos, principalmente aqueles que seguem e acreditam em tudo que a mídia informa, pois pensam que um dia também serão ricos. Santa ignorância, a maior riqueza é interior. É compreender que a doença não é nossa inimiga, ela apenas vem nos avisar que algo está errado em nós. Se temos uma doença é porque naturalmente erramos por pensamentos, palavras ou ações.

  • Tiago Vieira Gomes:

    Infelizmente o preconceito ainda prevalece em nossa sociedade, principalmente no caso da AIDS/SIDA ou da hanseníase.

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