Lambaris são a prova de que os humanos não são os únicos animais malévolos

Por , em 15.07.2013

Você já deve ter visto essa estratégia de sobrevivência em filmes de zumbis: alguém fere uma outra pessoa e sai correndo para que o pobre coitado seja comido em vez dele.

Os seres humanos não são os únicos espertinhos que fazem isso. De acordo com uma nova pesquisa, alguns peixes, quando estão num cardume, também usam essa tática egoísta quando estão sendo perseguidos por predadores. E o comportamento feio acontece aqui no Brasil, com nossos queridos lambaris.

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Em todo o mundo, muitos animais vivem em grupos, principalmente porque isso os ajuda a encontrar comida e evitar predadores. Mas viver em grupo tem seus lados negativos também (que o diga o cara que divide o apartamento com você). O alimento encontrado precisa ser o suficiente para todas aquelas bocas. Além disso, a convivência constante com tantas outras pessoas (ou peixes) aumenta muito o risco de contrair doenças.

Pior de tudo, viver em grupo se torna difícil quando membros egoístas entram no rebanho.

Os cientistas costumam observar comportamentos egoístas passivos ou indiretos. Ele ocorre, por exemplo, quando um animal se enconde atrás de outro semelhante para escapar de um predador. “É algo comum”, diz Robert Young, biólogo da Universidade de Salford, em Manchester, no Reino Unido. “Eles podem estar se escondendo atrás de alguém, mas eles não estão empurrando ativamente alguém para a frente, para ser comido pelo predador”, compara.

O comportamento egoísta ativo, em que um indivíduo se beneficia ferindo ou expondo um membro do grupo a um predador, nunca havia sido relatado – até agora.

Há alguns anos, Young e seu colega Flávia de Oliveira Mesquita estavam tentando descobrir maneiras de manter lambaris fora de áreas de risco, tais como turbinas, usando diferentes meios para esse afastamento, incluindo luzes estroboscópicas e simulações de predadores. Para a surpresa dos pesquisadores, eles observaram que membros do grupo se tornaram agressivos uns com os outros na presença dos predadores (principalmente em perseguição).

Os cientistas sabem há um bom tempo que várias espécies de peixes possuem células específicas que liberam sinais de alarme químicos quando a escama é danificada. Estas substâncias provocam uma reação de medo e comportamento antipredatório em indivíduos próximos, que se tornam mais alertas, mais conscientes de seu ambiente e consequentemente passam a nadar mais rápido para poder fugir.

Por outro lado, no entanto, esse alarme químico também pode atrair predadores, que se dirigem diretamente para o peixe ferido que liberou os sinais químicos. Então, Young se perguntou: estariam os peixes estudados tentando danificar a escama um do outro para chamar a atenção predatória para longe de si mesmos?

Para descobrir, Young e o zoólogo Vinícius Goulart se concentraram no comportamento antipredatório de uma espécie de lambari, o Astyanax bimaculatus. Estes lambaris são peixes de cardume endêmicos aqui do Brasil. “Eles são, essencialmente, uma espécie muito comum para outras espécies de peixes”, explica Young. “Não havia nada na literatura científica que indicava algo de excepcional sobre eles”.

Os pesquisadores coletaram 64 lambaris de fazendas de peixes, o que garantiu que os animais não tinham tido interações anteriores com predadores. Eles dividiram os peixes em oito grupos iguais e, em seguida, observaram como eles reagiram em resposta a quatro estímulos: um predador ativo que os perseguia, um predador que apenas os observava, um predador que tentava bicá-los, como uma ave, e um tubo de plástico branco. Os grupos passaram por três baterias de experimentos, de cinco minutos de duração para cada estímulo.

Os pesquisadores descobriram que os peixes perseguiam e mordiam uns aos outros quando (e apenas quando) havia um predador ativo no tanque – isso ocorreu em cada situação de todos os grupos. No entanto, não se tratava de uma briga generalizada; em vez disso, um peixe atacava outro, ou dois peixes escolhiam um para machucar. Depois de ser mordido, o peixe saía momentaneamente do cardume e logo voltava. Na sequência, as brigas eram retomadas, talvez com outros indivíduos envolvidos. “Nós nunca tínhamos vimos um nível de agressividade tão intenso assim antes”, comenta Young.

O curioso é que os peixes exibiram este comportamento agressivo desde o primeiro experimento com predadores em perseguição – lembrando que nenhum desses indivíduos havia visto um predador antes da vida. Ou seja, esse comportamento é inato, e não aprendido com o tempo.

Por outro lado, os peixes perseguiam e mordiam mais seus companheiros nas baterias de experimento seguintes, o que sugere, em certo sentido, que eles poderiam se tornar melhores em fugir de predadores na natureza ao longo do tempo. Os testes mostraram que as presas, de fato, liberam sinais químicos de alarme após serem mordidas, que, a propósito, não tiram sangue, apenas removem as escamas.

Mas por que os peixes não se tornavam agressivos com outros tipos de predadores? “Ter esse tipo de comportamento frente ao predador que os persegue, do ponto de vista biológico, faz mais sentido”, conta Young. Segundo ele, se um predador está perseguindo seu grupo, você gostaria de fazer outra pessoa mais atraente para o caçador. Predadores que apenas observam simplesmente pegam o peixe mais próximo a eles, e por isso morder outra companheiro nessa situação não teria sentido. Predadores que bicam, como aves, não seriam capazes de perceber os sinais químicos para encontrar o elo mais fraco do grupo, também tornando a agressão inútil nesse caso.

Young está agora interessado em identificar os indivíduos envolvidos nos ataques – em seu estudo, não foi possível identificar se certos peixes foram repetidamente os agressores ou se, por outro lado, outros peixes eram os principais alvos. Ele também está curioso para saber se esses ataques entre os peixes também acontecem em grupos maiores. “À medida que o cardume se torna maior, talvez eles não sintam a necessidade de se comportar assim”, diz. “Isso pode nos dar uma luz sobre como os indivíduos percebem o risco de predação”. [Io9]

2 comentários

  • grasisuperstar:

    A coisa anda feia até debaixo d´agua…tem até peixe comendo peixe…expor um membro do grupo ao predador é de doer hem?? acho que poucos seres humanos fariam isso eu já não gostava de lambari frito agora menos ainda

  • Genioso Irreligioso:

    Obrigado Hypescience… já não preciso me sentir tão mal assim quando pensar apenas em mim! =P

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