90.000 anos de idade, pegadas humanas encontradas em uma praia marroquina são algumas das mais antigas e bem preservadas do mundo

Por , em 31.01.2024
Pesquisadores descobriram 85 pegadas feitas por humanos há milhares de anos em uma praia no Marrocos. (Crédito da imagem: M. Sedrati, et al)

Em Marrocos, dois conjuntos de pegadas humanas antigas, impressas numa praia, constituem um dos exemplos mais extensos e bem conservados de tais trajetos no mundo. Essa descoberta ocorreu em 2022, quando pesquisadores estavam analisando rochas em uma pequena praia no extremo norte da África. Os detalhes deste achado foram publicados em um artigo no dia 23 de janeiro na revista científica Scientific Reports.

Mouncef Sedrati, professor associado especializado em dinâmica costeira e geomorfologia na Universidade do Sul da Bretanha na França e autor principal do estudo, relatou em entrevista à Live Science uma curiosa circunstância que levou à descoberta: “Em um período de maré baixa, sugeri à minha equipe que explorássemos uma praia ao norte. Ficamos surpresos ao encontrar a primeira pegada. A princípio, hesitamos em acreditar que era realmente uma pegada, mas logo encontramos mais pegadas formando um caminho.”

O local estudado é único na região do Norte da África e no Mediterrâneo Sul, caracterizando-se por conter trajetos de pegadas humanas. Foram identificados dois caminhos compostos por um total de 85 pegadas humanas, atribuídas a um grupo de pelo menos cinco humanos modernos primitivos.

Para determinar a idade do local, os pesquisadores utilizaram a datação por luminescência opticamente estimulada. Esse método avalia quando minerais específicos próximos a um objeto foram expostos pela última vez ao calor ou à luz. Através dessa técnica e analisando os grãos finos de quartzo presentes na areia da praia, concluiu-se que um grupo de Homo sapiens caminhou por essa praia há aproximadamente 90.000 anos, durante o Pleistoceno Superior, também conhecido como a última era glacial, que terminou cerca de 11.700 anos atrás, conforme indicado no estudo.

Sedrati comentou: “Registramos as dimensões e profundidades das pegadas no local. Com base na pressão e no tamanho das pegadas, pudemos inferir as idades aproximadas dos indivíduos, incluindo crianças, adolescentes e adultos.”

Vários fatores contribuíram para a preservação notável dessas pegadas antigas, como a configuração da praia e o extenso alcance das marés, conforme explicado no estudo.

Sedrati destacou um aspecto singular: “O que é excepcional é a posição da praia sobre uma base rochosa coberta por sedimentos argilosos. Esses depósitos preservaram eficazmente os rastros na barra de areia, enquanto as rápidas ações das marés ajudaram a enterrar a praia, resultando na preservação excepcional das pegadas.”

No entanto, o propósito da presença dos habitantes da era glacial na praia ainda é um mistério. Pesquisas futuras no local podem fornecer respostas. Contudo, há urgência, pois “a erosão contínua da base rochosa costeira… pode eventualmente levar à perda dessas pegadas preservadas”, como indicado pelos pesquisadores no estudo.

Sedrati expressou a esperança dos cientistas: “Nosso objetivo é desvendar a história completa deste grupo de humanos e suas atividades naquela região.” Este estudo representa não apenas uma janela para o passado distante da humanidade, mas também um lembrete da fragilidade dos sítios arqueológicos diante das mudanças ambientais e da erosão natural. A pesquisa em Marrocos se destaca no campo da arqueologia e paleoantropologia, oferecendo uma oportunidade única para entender melhor os comportamentos e movimentos dos primeiros humanos modernos em seu ambiente natural. [Live Science]

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