A Grande Muralha da China está sendo mantida unida por ‘biocrostas’

Por , em 10.12.2023
Uma imagem em close de "biocrostas" crescendo na Grande Muralha da China. (Crédito da imagem: Bo Xiao)

Grandes trechos da Grande Muralha da China são preservados por meio de “biocrostas”, camadas orgânicas finas que têm desempenhado um papel crucial na proteção dessa estrutura histórica contra a erosão.

Em estudos recentes, pesquisadores analisaram partes da Grande Muralha da China, uma construção imensa que se estende por mais de 21.000 quilômetros. A construção dessa fortificação monumental teve início em 221 a.C., com o objetivo de proteger os impérios chineses contra invasões externas.

Para erguer essa obra icônica, os antigos construtores utilizaram frequentemente terra compactada, misturando elementos orgânicos como solo e pedras. Esses materiais, embora possam ser mais vulneráveis a desgastes em comparação com outros, como rochas sólidas, favorecem a formação de “biocrostas”.

Essas camadas orgânicas são compostas por cianobactérias (microorganismos capazes de realizar fotossíntese), musgos e líquens, que fortalecem a muralha, especialmente nas regiões áridas e semiáridas da China. Essa descoberta foi destacada em um estudo publicado na revista Science Advances, no dia 8 de dezembro.

Bo Xiao, professor de ciência do solo na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Terra da Universidade Agrícola da China, em Pequim, explicou em um e-mail para a Live Science: “Os construtores antigos reconheceram os materiais que poderiam aumentar a estabilidade da muralha”.

Xiao observou que, para aumentar a durabilidade, a terra compactada da muralha sempre foi misturada com argila, areia e agentes aglutinantes como cal, que são ideais para o crescimento de “biocrostas”.

Na pesquisa, os cientistas coletaram amostras de oito diferentes seções da muralha, construídas entre 1368 a.C. e 1644 a.C., durante a Dinastia Ming, para avaliar sua força e estrutura. Eles descobriram que 67% dessas amostras continham “biocrostas”, que Xiao se referiu como “engenheiros do ecossistema”. A equipe usou instrumentos portáteis para medir a resistência física das amostras e a estabilidade do solo, tanto no local quanto em seu laboratório, comparando essas descobertas com partes da muralha feitas exclusivamente de terra compactada.

Os resultados mostraram que as seções com “biocrostas” eram até três vezes mais fortes do que aquelas sem. As amostras contendo musgo eram particularmente robustas.

Essa força é atribuída aos organismos dentro da biocrosta, que liberam substâncias, como polímeros, que se ligam eficazmente às partículas de terra compactada, melhorando a integridade estrutural da muralha. Xiao descreveu isso como uma forma de cimento natural.

Xiao concluiu: “Essas substâncias semelhantes a cimento, filamentos biológicos e aglomerados de solo dentro da camada de biocrosta formam coletivamente uma rede durável, oferecendo significativa resistência mecânica e resistência contra a erosão externa”.

A pesquisa revelou a importância das “biocrostas” na manutenção de uma das maiores maravilhas arquitetônicas do mundo. A Grande Muralha da China, um símbolo da engenhosidade humana e da história antiga, continua a surpreender e ensinar aos modernos engenheiros e cientistas sobre técnicas de construção sustentáveis e ecológicas. Ao entender melhor a função dessas biocrostas, os pesquisadores podem desenvolver métodos mais eficientes para preservar não apenas a Grande Muralha, mas também outras estruturas históricas em todo o mundo.

Esta descoberta também abre caminho para novas abordagens na engenharia e na conservação arquitetônica, mostrando como a integração de elementos orgânicos e métodos tradicionais pode resultar em estruturas mais resilientes e duráveis. A combinação de conhecimentos ancestrais com a ciência moderna oferece um modelo valioso para o futuro da construção e conservação de monumentos. Através desses estudos, podemos aprender lições valiosas sobre a adaptação e a sobrevivência de estruturas em ambientes desafiadores, demonstrando a importância de respeitar e integrar os sistemas naturais em nossas práticas de construção.

No fim, o estudo da Grande Muralha da China e suas “biocrostas” não é apenas uma jornada no campo da arqueologia ou da engenharia, mas também uma viagem profunda no entendimento da interação entre o homem e o ambiente ao longo dos séculos. Revela como, mesmo nas antigas civilizações, havia um conhecimento profundo e respeito pela natureza, que é crucial para a nossa sobrevivência e bem-estar até hoje. [Live Science]

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