Árvore prestes a morrer pode mandar alimento para espécies vizinhas diferentes

Por , em 28.06.2016

Nenhuma árvore é uma ilha – ela evoluiu nos últimos milhares de anos como parte de uma floresta. Escondido abaixo do solo fica um labirinto de fungos chamado de rede micorriza. Essa estrutura também é chamada de Wood-Wide Web, ou “internet natural”.

Através da rede de fungos, as árvores mais velhas podem ajudar as mais novas e plantas de folhagem perene podem ajudar as caducifólias. Além disso, espécies que estão morrendo na região por conta de pragas ou mudança climática podem enviar nutrientes para espécies mais resistentes antes de morrer.

Essas conexões são compostas de filamentos de fungos que crescem ao redor e nas raízes das plantas, e geram florestas de cogumelos. Esses fungos estão tão conectados às árvores que quanto mais você pensa nisso, mais difícil fica de enxergar a árvore como um indivíduo.

Pinheiros e fungos

pinheiros e fungo
Essa história começa com duas árvores: a Pseudotsuga menziesii, também conhecida como pinheiro natalino, e com a Pinus ponderosa, que é basicamente um pinheiro mais desengonçado. As duas espécies são nativas da costa oeste do Canadá e Estados Unidos, crescendo na província de Colômbia Britânica e nos estados de Washington, Oregon e Califórnia.

Nesta região também podemos encontrar o fungo Rhizopogon rubescens, que tem uma trufa que lembra uma batata. Esse fungo se une às raízes das plantas em uma relação simbiótica, em que as duas espécies se beneficiam. A planta entrega nutrientes para o fungo que, em troca, melhora a absorção de água e minerais da planta. Juntos, os dois conseguem cobrir uma área maior do solo, absorvendo mais minerais.

A grande novidade é que essa rede também conecta árvores de espécies diferentes.

Mapa da rede

mapa internet fungos arvores

Uma pesquisa conduzida pela professora Suzanne Simard, da Universidade da Colômbia Britânica (Canadá), mostra a conexão das árvores através da floresta de fungos. Os círculos verdes pontudos representam as Pseudotsuga menziesii. As linhas retas mostram até onde suas raízes crescem e a quais redes de fungos elas se conectam.

Os pontos pretos representam fungos Rhizopogon nas raízes dessas árvores e as linhas vermelhas, azuis e verde que circulam os pontos pretos mostram a área de crescimento desses fungos.

A árvore com a flecha preta é a que tem mais conexões na região: ela se conecta a 47 outras árvores com a ajuda do fungo. Já o fungo mais bem conectado se liga a 19 árvores diferentes, com diversas idades. Assim, você consegue imaginar como esta rede é complexa.

Água e açúcar

Já foi observado que árvores mais velhas conseguem passar água e glicose para a rede de fungos, que por sua vez os passam adiante para árvores mais jovens, que ainda não produzem tantos nutrientes quanto as maiores.

Assim, o corte das árvores maiores para extração da madeira influencia todo o ecossistema.

Verão x inverno

pinheiro e arvore caduca
Outro comportamento muito interessante é o que acontece entre as árvores Pseudotsuga menziesii e a Betula papyrifera. Enquanto a primeira se mantém verde o ano todo, a segunda perde todas as folhas durante o inverno.

No verão, quando a folhagem densa da B. papyrifera deixa a P. menziesii na sombra, a primeira envia nutrientes para a segunda. Já no inverno, quando a B. papyrifera está sem folhas e não pode realizar a fotossíntese, a P. menziesii retribui o favor.

Herança

Olha eles de novo! Pseudotsuga menziesii e Pinus ponderosa

Olha eles de novo! Pseudotsuga menziesii e Pinus ponderosa

A mudança climática tem contribuído para que pragas e calor em excesso matem a Pseudotsuga menziesii da região mais ao sul, abrindo espaço para a Pinus ponderosa, que é mais resistente. Os pesquisadores perceberam então que a P. menziesii que está morrendo consegue passar seus nutrientes para a nova árvore através da rede de fungos. Essa pesquisa foi publicada no último mês de fevereiro na revista Scientific Reports.

O experimento aconteceu da seguinte forma: um exemplar de cada espécie foi plantado próximo um do outro, mas sem permitir que suas raízes entrassem em contato. Elas só poderiam se ligar através do fungo. Quando todas as folhas do pinheiro P. menziesii foram arrancadas, ele passou a enviar nutrientes para sua vizinha, através dos fungos. Além do alimento, ele também enviou sinais de estresse, que estimulam a síntese de enzimas defensivas na P. ponderosa. Isso ajudou o segundo pinheiro a se preparar para um ataque semelhante.

Isso não significa que o primeiro pinheiro agiu altruisticamente. É possível que o fungo tenha papel mais importante nessa troca de nutrientes. Ele pode favorecer essa passagem de nutrientes para manter sua floresta crescendo com saúde, para que ele continue recebendo água e glicose.

Afinal de contas, o mesmo não acontece quando as duas espécies de pinheiros são colocadas lado a lado, com as raízes se tocando e sem a presença do fungo. Nesse cenário, elas acabam somente competindo pelos nutrientes, sem a troca. [Scientific American, Scientific Reports]

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