Asteroides, meteoros e miseráveis

Por , em 18.02.2013

Mais uma vez a atenção do mundo está voltada para o céu. A sensação é de déjà vu. Pelo menos ao que se refere à cobertura da mídia, referindo-se à mesma sensação de insegurança e às mesmas reflexões sobre a precariedade dos sistemas de defesa contra impactos espaciais já vivenciadas em 2009 quando do impacto de um meteorito na Indonésia.

Em primeiro lugar o público leigo já se embaralha com a terminologia: asteroide, meteoroide, meteoro e meteorito é tudo a mesma coisa?

Mais do que simples denominações esses termos são, na verdade, conceitos científicos, cujo significado vem evoluindo como ocorre com toda a ciência.

De acordo com os últimos boletins do IMO (International Meteor Organization) temos o seguinte:

São denominados asteroides os corpos menores do sistema solar, rochosos e metálicos, que não apresentam uma forma com equilíbrio hidrostático (aproximadamente esférica) e que não possuem uma órbita desimpedida. Seu diâmetro varia desde alguns milhares de quilômetros até às dimensões de pedregulhos.

São denominados de meteoroides os asteroides que estão numa rota de colisão com a Terra. Quando este atinge a nossa atmosfera em alta velocidade, a fricção provoca sua incineração, ocasionando fenômenos luminosos e/ou explosões e/ou esteiras nebulosas.

O fenômeno atmosférico assim descrito é denominado meteoro.

Se um meteoroide não arde completamente, e o que resta de seu corpo atinge a superfície da Terra é então chamado de meteorito.

De todos os meteoritos examinados, 92,8 % são compostos de silicato (rochosos), e 5,7 % são compostos por ferro e níquel (metálicos); o restante é uma mistura dos três materiais. Meteoritos rochosos são os mais difíceis de identificar devido à grande semelhança na composição com as rochas terrestres.

Os efeitos atmosféricos da passagem de um meteoroide dependem notadamente de sua velocidade (ângulo e módulo), sua massa, composição, tamanho e forma.

Geralmente sua entrada ocorre em elevadas velocidades (na maioria das vezes supersônicas) e pelo atrito com ar, ocorrem frenagens abruptas que podem provocar as famosas ondas de choque (estrondo sônico).

Se o meteoroide for pequeno ele é consumido muito antes de atingir as camadas mais baixas da atmosfera (não promovendo estrondo sônico), marcando sua passagem apenas pela emissão de luz, caracterizando o famoso efeito “estrela cadente”.

Se, no entanto, sua massa for suficiente grande para sobreviver ao atrito com a atmosfera, ele pode inclusive se esfacelar e também promover estrondo sônico.

Foi exatamente o que ocorreu na Rússia no último dia 15.

Segundo as autoridades locais, o meteoroide que penetrou na atmosfera da região oeste da Sibéria próximo a Tcheliabinsk tinha cerca de 12 metros em seu maior diâmetro e pesava cerca de dez toneladas a uma velocidade supersônica de 54 mil quilômetros por hora.

Os cientistas acreditam que foi entre 30 e 50 quilômetros da superfície que ele se esfacelou em várias partes, sendo que as maiores atingiram o solo.

O estrondo sônico originado foi responsável pelo estilhaçamento de vidraças de casas, escolas, hospitais, etc. E foi exatamente esses estilhaços de vidro que provocaram os ferimentos em mais de mil pessoas além dos próprios prejuízos materiais.

Sabe-se que a energia da onda de choque é proporcional à energia mecânica relacionada ao movimento do corpo em queda. Quanto maior a massa do meteoroide e maior for sua velocidade, maior será sua quantidade de movimento e, consequentemente, maior será a energia mecânica envolvida.

Ao impactar-se contra o solo, pode ainda promover incêndios, dependendo do estado do material combustível em sua composição e também da natureza dos materiais com os quais colidiu.

Tomando como referência essa queda, temos que 12 metros de diâmetro é considerado, em termos astronômicos, um grão de areia. Porém, para as dimensões humanas esse grão de areia pôde ferir seriamente milhares de pessoas.

Acho que é nesse ponto que nossa paranoia começa a ganhar suas raízes.

Quando identificamos a fragilidade e a pequenez humana frente a gigantesca escala cósmica.

Posso dizer que, felizmente, a queda desse meteorito foi considerada uma coincidência ao fenômeno da passagem do Asteroide 2012 – DA14 pelo nosso quintal.

Coisa que noticiamos semana passada.

Sabemos que o impacto de um corpo desses com a Terra teria efeitos apocalípticos e nossos teóricos da conspiração dariam o seu sorriso de “eu não disse” antes de assistir a derrocada humana seja pelo fogo que caiu do céu, seja pela noite secular que o material particulado lançado na atmosfera iria promover.

Em qualquer das hipóteses, ou em ambas, cheque-mate no tabuleiro cósmico.

Porém, não querendo ser desmancha-prazer – posso listar dezenas de formas menos espetaculares de ameaças à vida humana. Começando pela mais óbvia: – a miséria. Um subproduto da maior invenção humana: – a injustiça social.

Morrem mais pessoas no mundo pela falta de água, pela fome e pela diarreia do que pela soma dos efeitos das duas grandes guerras.

Porém os miseráveis só ganham a mídia na obra de Vitor Hugo (ou em peças da Broadway e filmes nela inspirados) ou quando se tornam violentos e passam então a ocupar as páginas policiais. Ou não?

Estatisticamente a chance de morrermos pelo brilho espetacular de um meteoro é ínfima.

É muito maior a possibilidade de morrermos esfaqueados ou atingidos por um bala perdida.

Em tempo:

Ninguém se perguntou de que forma os russos conseguiram tantos videos sensacionais de “seu meteoro”.

A violência urbana lá é grande, que praticamente todos os motoristas russos costumam instalar câmaras de para-brisa em seus veículos.

Só por segurança. Simples assim!

-o-

[Leia os outros artigos de Mustafá Ali Kanso]

 

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Foi premiado com o primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos da Scarium Megazine (Rio de Janeiro, 2004) pelo conto Propriedade Intelectual e com o sexto lugar pelo conto Singularis Verita.

16 comentários

  • otavio junior:

    é mais fácil uma pessoa ser atropelada por um hipopótamo na Av paulista do que ser atropelada por um corpo rochoso do espaço.

    • Saprugo:

      Se todos os hipopótamos da África saírem pelas ruas do mundo, e chagarem a SP atropelando as pessoas, isso não causará a extinção da humanidade… mas quando a Terra sofrer (e podem apostar que vai, pois é unanimidade no meio cientifico que a questão não é “SE” vamos ser atingidos por um gigantesco asteroide ou cometa novamente, a questão é “QUANDO”!) outro impacto de um asteroide ou cometa do tamanho (ou maior) do que já nos atingiu 65 milhões de anos atrás, por mais que esse evento tenha uma baixa probabilidade de ocorrer no presente, é bem provável que nossos fósseis sejam montados nos museus da próxima raça inteligente que irá evoluir para dominar o planeta, milhões de anos após essa colisão.

  • Rone Firmino:

    Até agora a analise do tamanho ( provável) do objeto que explodiu na Russia era de 15 metros. Ou de acordo com o site apolo 11. Tinha um terço do Meteoro de 1908 que tambem explodiu na Russia. Então a média de objetos deste tamanho que chegar á atmosferá é de + oi – 100 anos. Segundo os cientistas. Estão enganados os que afirmam isso! Este objeto chegou” escondido” pelo Sol.. Quantos outros chegam da MESMA maneira e caem no mar ou em lugares isolados por ano? É claro que a preocupação primaria do ser humano deveria ser ” ajudar o seu próximo”.. Porem não é assim a natureza humana. Pelo menos por enquanto.. Então, é bom torcer para não sermos atingidos de surpresa, ( mas é provavel que a primeira vez será assim.) Pois mesmo que todos os paises detentores de tecnolgia aeroespacial se unissem para um programa global de proteção, não estaríamos 100% seguros…

  • magoado:

    Eu sempre falo neste site quando o assunto e esse….A terra nunca está livre de quedas de meteoros ou cometas, esses objetos espaciais sempre existiram e nunca deixarão de existir e algumas vezes e outras algum vai colidir com a terra e isso é normal….Quanto a miséria que muitos da humanidade se encontram isso sim não deveria de ser normal

  • Tina Middly:

    Em uma simulação pelo site killerasteroids. org, se um asteroide pequeno como o 2012 DA 14 caísse sobre a praça dos Três Poderes em Brasília, uma cratera de mais ou menos 1 quilômetro seria criada. Uma área de 3 km de diâmetro seria afetada. Já pelos cálculos da Purdue University, com informações mais precisas sobre o asteroide, mesmo que ele viesse em direção à Terra ele seria quebrado em pedaços ao entrar na atmosfera, a 27. 500 metros. http://www.sociedadeativa.net

  • Saprugo:

    Estão confundindo alhos com bugalhos: quer dizer que se a humanidade acabar com a miséria, isso criará automaticamente um escudo protetor contra asteroides e cometas para o nosso planeta? A miséria não ameaça a existência da humanidade, apenas ameaça a existência dos miseráveis, agora eventos da magnitude de um impacto de um asteroide ou cometa de grandes dimensões, como o que colidiu com a Terra 65 milhões de anos atrás (entre 10 e 15 km de diâmetro), isso sim pode acabar tanto com os bilionários quanto com os miseráveis! Mesmo toda uma escala de tamanhos abaixo disso até 500 metros causaria estragos globais nunca antes enfrentados pelo homem. O evento da Rússia é algo interessante, pouquíssimas vezes presenciado pelo homem, e é natural a repercussão do fato, a curiosidade sobre “pedras” espaciais que podem nos acertar, e de certa forma até ajuda a reforçar a necessidade do aperfeiçoamento no monitoramento dos NEO’s que possam representar alguma ameaça à Terra. Foi o impacto do Shoemaker Levy 9 com Jupiter em 1994 que reforçou nossa fragilidade perante eventos desse tipo, corriqueiros no universo. Então que cada um fique com sua tarefa: as agências espacias com os estudos sobre potenciais perigos de colisão de NEO’s com a Terra e as ONG’s, grupos humanitários e filantropos com a questão da diminuição da miséria, pois o dia em que a NASA for cuidar da miséria na Africa e os Médicos sem fronteiras começarem a estudar ameaças de impactos espaciais, aí sim eu vou ficar com medo.

    • Mustafá Ali Kanso:

      Caro leitor, releia o artigo. Veja se realmente sua crítica aos argumentos nele apresentados procede.

      Em tempo:

      A miséria é um subproduto da injustiça social. E se você ficar antenado nas discussões atuais sobre macroeconomia verá que como diz a mestre em direito econômico Viviann Rodriguez “a globalização definitivamente consolidada com o avanço tecnológico, diminuiu a importância da matéria-prima e da mão-de-obra direta, ampliando as desigualdades sociais, trazendo como resultados o desemprego, o “dumping social”, a pobreza e a escravidão. Isto porque o Estado passou a ser pressionado para agir como garantidor dos interesses econômicos a fim de superar a desigualdade produtiva, mesmo que isso significasse recuar nas conquistas sociais alcançadas pelas sociedades ao longo de muitas décadas”.

      Penso que essa simples constatação é suficiente para entendermos que, sim a injustiça social ameaça a sobrevivência de toda a humanidade.

      Leia mais sobre o tema.

      Grato pela audiência.

    • Saprugo:

      Boa tarde Sr. Mustafá, o que eu quis dizer, com um pouco de ironia, reconheço, é que algumas pessoas agem com uma espécie de “ciúmes” sobre a repercussão de um fato em detrimento de outros, que elas consideram mais importantes. Com certeza não devo estar tão “antenado” quanto o sr. sobre macroeconomia, mesmo porque esse assunto não é foco de meu interesse, mas acredito que não preciso desse conhecimento todo para constatar que toda a diferença social que gera a miséria não parece tão ameaçadora para a existência da raça humana quanto o impacto de um grande asteroide ou cometa. Concordo que ela pode gerar guerras, fome, doenças, mas extinguir a humanidade acho improvável. Os dois, dependendo de sua intensidade (e é lógico que atualmente a miséria causa infinitamente mais vítimas do que impactos com corpos celestes), são fontes de mazela para a humanidade, mas com diferenças de ordem cronológica: a miséria acontece agora e é crescente, faz com que milhares morram ou tenham uma condição de vida abaixo do aceitável, todos os dias, em favor de poucos abastados, mas não ameaça o homo sapiens de extinção, pode causar guerra, fome e doenças, mas talvez apenas uma guerra nuclear de nível global o possa, o que é pouco provável justamente por saberem que não haveria vencedor e seria apenas um homicídio em massa seguido de suicídio; o impacto de um grande corpo celeste com a Terra é um evento raro, que acontece em um intervalo de tempo muitas vezes enorme para os padrões humanos, mas ele é um evento real e mensurável (basta olhar as crateras em todos os planetas e satélites do nosso sistema solar), não é apenas uma das opções do “arsenal” dos “apocalipticos de plantão”, e ele pode, dependendo do tamanho do corpo, sua composição, velocidade e ângulo de entrada, extinguir não só o homem, mas várias espécies de porte médio a grande na Terra. Não lembro ao certo o tamanho, mas se não me engano, a energia liberada no impacto de um asteroide entre 50 e 100 km de diâmetro pode ferver e evaporar toda a água dos oceanos. Penso que me assiste o direito de discordar de vossas opiniões, afinal vivemos em uma democracia e os comentários tem justamente este propósito, ademais, big brother e novelas da globo estão infinitamente mais presentes na mídia e dão muito mais ibope do que os miseráveis e impactos de corpos celestes. Grande abraço.

  • Francisco da Silveira:

    Morrem mais pessoas no mundo pela falta de água, pela fome e pela diarréia do que pela soma dos efeitos das guerras.

  • Rose Marx:

    Parabéns Professor Mustafá, muito esclarecedor seu artigo.

  • Ripp Cozzella:

    Ótimo texto, mas queria saber mais sobre as “Três Grandes Guerras”. Eu só conheço duas, a primeira (1914-1918) e a segunda (1937-1945).

    Perdi uma e nem me contaram, hehe !!!

    • Ripp Cozzella:

      Agora que você corrigiu, meu comentário ficou sem sentido.
      Deveria agradecer, pelo menos.

  • Gecy Marty Guarani Kaiowà:

    Sim, fazemos mais estragos aqui na terra, nòs seres “civilizados” do que esses meteoroides que aparecem vez ou outra.

  • Jonatas:

    Boa chamada, Mustafá, e essa catástrofe, a miséria, continua latente o tempo todo, e a culpa é de todos nós, da nossa incapacidade de viver, administrar e progredir juntos, como Humanidade.

  • Alberto Campos:

    O céu nos mata. Não só pelos asteroides mas também pelos raios gama. Estes raios destruidores queimam pessoas, instantaneamente. Veja na internet: “Combustão Espontânea”. Ainda temos os raios atmosféricos, dos quais podemos nos proteger, matam várias pessoas por ano.

  • Val:

    É mais fácil uma pessoa ser atropelada por um carro de que ser atingida por um meteoro.

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