O que causa mais câncer: azar ou estilo de vida não saudável?

Por , em 26.01.2015

Quando uma pessoa descobre que tem câncer, ou que alguém que ela conhece tem a condição, o primeiro pensamento muitas vezes é: por quê? Por que justo eu?

Resposta: azar. Provavelmente.

Uma nova pesquisa descobriu que, apesar de haver componentes genéticos e ambientais para o câncer, a doença é causada principalmente por mutações aleatórias que ocorrem quando as células-tronco se dividem.

De acordo com os cientistas da Universidade Johns Hopkins (EUA), dois terços da incidência do câncer em adultos podem ser explicados principalmente pela “má sorte”, quando mutações aleatórias ocorrem em genes que podem levar ao crescimento do câncer, enquanto o terço restante é devido a fatores como fumar, por exemplo.

“Mudar o estilo de vida e hábitos vai ser uma grande ajuda na prevenção de certos tipos de câncer, mas pode não ser tão eficaz para uma variedade de outros – a maioria”, sugere Cristian Tomasetti, professor de oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins. “Devemos concentrar mais recursos na busca de formas de detectar esses tipos de câncer no início, em fases curáveis”, acrescenta.

Bert Vogelstein, também professor de oncologia da Universidade, explica que todos os cânceres são causados por uma combinação de má sorte, meio ambiente e hereditariedade, e que a chave é saber o quanto cada um desses três fatores influencia na incidência de cada câncer, para saber como preveni-lo e/ou tratá-lo.

O estudo

O par analisou as divisões de células-tronco em 31 tipos de tecidos durante a vida de um indivíduo médio. Essas divisões são “renovações” de células-tronco em um órgão específico.

Já sabemos que o câncer surge quando essas células cometem erros aleatórios, ou mutações, durante o processo de replicação na divisão celular. Quanto mais destas mutações se acumulam, maior é o risco de que as células irão crescer sem controle, uma marca do câncer.

A contribuição real destes erros aleatórios na incidência de câncer, em comparação com a contribuição de fatores hereditários ou ambientais, não era conhecida até agora.

Para classificar o papel dessas mutações aleatórias, os cientistas compararam o número de divisões de células com os riscos de câncer nos mesmos tecidos ao longo da vida das pessoas.

“Em geral, descobrimos que uma alteração no número de divisões de células num tipo de tecido é altamente correlacionada com a incidência de câncer no mesmo tecido (65%)”, diz Vogelstein.

Um exemplo é o tecido do cólon, que sofre quatro vezes mais divisões celulares do que o tecido do intestino delgado em seres humanos. Da mesma forma, o câncer de cólon é muito mais prevalente do que o câncer de intestino delgado.

22 tipos de câncer podem ser em grande parte explicados pelo fator “má sorte” – mutações no DNA durante a divisão celular. Outros nove tipos de câncer tinham incidência maior do que a prevista pela “má sorte”, então são presumivelmente devidos a uma combinação de má sorte e fatores ambientais ou hereditários.

“Os tipos de câncer com maior risco do que o previsto pelo número de divisões celulares foram precisamente os que você esperaria, incluindo câncer de pulmão, ligado ao tabagismo, câncer de pele, ligado à exposição ao sol e cânceres associados com síndromes hereditárias”, diz Vogelstein.

Alguns tipos de câncer, como de mama e de próstata, não foram incluídos no relatório por causa da falta de dados sobre as taxas de divisão de células-tronco nesses tecidos na literatura científica.

Mais para frente, os pesquisadores esperam que outros estudos ajudem a refinar esse modelo estatístico, encontrando taxas de divisão celular mais precisas de diversos tecidos. [Science20]

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