Cientistas convencem pessoas de que seus braços são feitos de pedra

Por , em 2.04.2014

Não importa quão cético você se considera em relação a truques da mente, o seu cérebro é muito ingênuo. Com alguns minutos e as distrações certas, você pode se convencer de que um dos seus membros é feito de borracha ou é invisível, ou ainda que todo o seu corpo é do tamanho de uma boneca.

Todas essas ilusões dependem da interação entre seus sentidos da visão e do tato. Porém, uma nova ilusão recém-elaborada envolve também a audição. Ao ouvir o som de um martelo se chocando contra o mármore cada vez que o objeto encostava em seus braços, as pessoas chegaram a sentir que os seus membros eram feitos de pedra.

Na ilusão original da mão de borracha, um estudo publicado pela primeira vez em 1998 pelos psicólogos Matthew Botvinick e Jonathan Cohen, os indivíduos se sentaram e apoiaram o antebraço na mesa. Uma pequena divisória bloqueava a visão da pessoa, que não conseguia enxergar o próprio braço. Enquanto isso, um braço de borracha era claramente visível para quem participava da experiência.

Um pesquisador sentado no lado oposto da mesa passava simultaneamente um pincel nas costas da mão de borracha e também na mão real. Como os indivíduos viam o pincel acariciar a mão de borracha e sentiam a ação em sua própria pele ao mesmo tempo, eles passaram a sentir uma poderosa ilusão de que a mão de borracha era a mão de verdade deles.

Nos últimos anos, a ideia do experimento da mão de borracha tem sido mais explorada usando ilusões cada vez mais estranhas. “A ilusão da mão de borracha realmente inspirou as pessoas”, diz Henrik Ehrsson, neurocientista do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia. Ele é um dos muitos pesquisadores que utilizaram os princípios da ilusão para criar um novo conjunto de ilusões corporais que confundem nosso sentido de autopercepção de maneiras estranhas e perturbadoras. “Estamos fazendo todos os tipos de coisas loucas”, adiciona ele.

“O foco desses experimentos é a encarnação”, conta Irene Senna, psicóloga da Universidade de Milano-Bicocca, em Milão, na Itália. “Será que nossos corpos podem incorporar uma parte externa do corpo?”. Os resultados destes experimentos são relevantes para pessoas que tiveram algum membro amputado ou que estão aprendendo a usar próteses.

Mas Senna e seus colegas também estão interessados em uma questão um pouco diferente: em vez de nos convencer de que uma mão inanimada é a nossa, podemos vir a acreditar que uma das nossas partes do corpo existentes é feita de um material não humano?

Sendo os pesquisadores habitantes da Itália, o material escolhido para o experimento não foi borracha comum, e sim um imponente mármore. Para criar a ilusão, 23 indivíduos se sentaram em uma cadeira e posicionaram um de seus braços sobre a mesa à frente. Semelhante à experiência da mão de borracha, uma divisória bloqueou a visão da pessoa e o impedia de observar sua mão – mas o participante era capaz de ver o pequeno martelo com o qual um dos cientistas batia leve e repetidamente na mão da pessoa.

Um pedaço da fita adesiva metálica tinha sido grudado na parte de trás da mão de cada participante e estava conectado, por um fio, com o martelo e com um computador. Sempre que o martelo tocava a fita, provocava o efeito de som desejado: o barulho de um martelo atingindo o mármore.

Isso durou cerca de cinco minutos. Um grupo de controle ouviu o mesmo som, mas fora de sincronia com a batida do martelo em suas mãos. Outro grupo controle ouviu um som puro (de vibração unidimensional composta por apenas uma frequência) após cada batida do martelo, em vez do som de mármore.

Antes e após o experimento, os participantes preencheram um questionário que avaliava as qualidades físicas de suas próprias mãos. Depois de os cientistas terem realizado a ilusão, as pessoas relataram que sentiam suas mãos mais antinaturais, mais duras, mais pesadas e menos sensíveis. Muitos dos participantes também relataram aos pesquisadores, sem terem sido induzidos ou sequer questionados sobre o assunto, que suas mãos estavam rígidas ou dormentes. Nos grupos de controle, por outro lado, a ilusão não funcionou.

Assim como outras pesquisas anteriores, também inspiradas pela ilusão da mão de borracha, o experimento da mão de mármore poderia ser útil para a ciência das próteses, neste caso, ajudando-nos a entender por que as pessoas podem facilmente adotar um membro que não é feito de pele e ossos. O caso também mostra que apenas uma simples combinação de sons e toques já é suficiente para desencadear a ilusão.

No entanto, ainda restam algumas questões a serem esclarecidas. Segundo Senna, não é muito claro, por exemplo, por que nossos cérebros são suscetíveis a esse tipo de ilusão, para começar. Obviamente, é importante que nossos cérebros prestem atenção sobre onde os nossos membros estão no espaço, a temperatura e outros detalhes que mudam sempre. Mas a carne do nosso corpo é uma constante. “Seria perfeitamente desnecessário nosso cérebro interferir no material do nosso corpo”, comenta Senna. “No entanto, nossa ilusão demonstra que, por alguma razão, o cérebro humano não funciona desta forma”. [Discover Magazine e New Scientist]

2 comentários

  • Capitu Nascimento:

    A epígrafe da matéria poderia ser :”tinha uma pedra no meio do caminho/no meio do caminho tinha uma pedra”(…) do poeta CDA…

  • Daniel Carvalho:

    Doctor Who.

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