Cobras são construídas para evoluir a velocidades incríveis, e cientistas não têm certeza do porquê

Por , em 23.02.2024
Cobras, como esta víbora-de-cílios, parecem evoluir muito rapidamente, permitindo que elas se adaptem, diversifiquem e se espalhem pelo mundo. (Crédito da imagem: Alejandro Arteaga, Fundação Khamai)

Cientistas descobriram que as serpentes possuem uma taxa de evolução extraordinariamente acelerada, superando significativamente outros répteis. Esse processo evolutivo rápido auxiliou na disseminação global das serpentes, tornando-as extremamente bem-sucedidas em termos evolutivos.

Pascal Title, um especialista em padrões evolutivos em larga escala da Universidade Stony Brook, em Nova York, faz uma analogia entre a jornada evolutiva das serpentes e um ponto crucial na cosmologia, a ‘singularidade’ do Big Bang. Ele observa uma expansão significativa na diversidade de espécies de serpentes e seus nichos ecológicos, potencialmente ligada a um evento precoce na história evolutiva das serpentes.

Um estudo recente, publicado na quinta-feira (22 de fevereiro) no periódico Science, explora as características que definem grupos de animais bem-sucedidos evolutivamente. Daniel Rabosky, biólogo evolutivo da Universidade de Michigan, especializado em padrões evolutivos abrangentes, comunicou à Live Science por e-mail que este estudo se concentra particularmente em por que alguns grupos se diversificam em numerosas espécies e são mais resilientes a eventos como extinções em massa.

Uma cobra-diadema-ocidental (Diadophis punctatus), nativa do oeste dos EUA. Existem cerca de 4.000 espécies conhecidas de cobras na Terra. (Crédito da imagem: Alison Davis Rabosky, Universidade de Michigan)

O estudo examina os squamatas, uma ordem de répteis que inclui serpentes e lagartos, com mais de 11.000 espécies. As serpentes, que compõem cerca de 4.000 espécies, exibem uma diversidade notável. Isso inclui desde serpentes marinhas venenosas, grandes constritoras, cobras com capuz até pequenas serpentes que escavam para consumir formigas e cupins.

Para entender por que as serpentes são um caso tão notável de sucesso evolutivo, o estudo envolveu uma análise genética extensa de quase 1.000 serpentes e lagartos. Além disso, os pesquisadores avaliaram hábitos alimentares examinando conteúdos estomacais de mais de 60.000 espécimes de museus e observações de campo. Esses dados ajudaram a construir uma árvore evolutiva detalhada, mostrando mudanças físicas e dietéticas ao longo do tempo, analisadas através de modelos matemáticos e estatísticos.

Os resultados indicam vários períodos de desenvolvimento evolutivo rápido nas serpentes, evoluindo três vezes mais rápido do que os lagartos em termos de diversidade. As serpentes provavelmente apareceram pela primeira vez cerca de 128 milhões de anos atrás, com surtos evolutivos significativos ocorrendo entre esse tempo e 70 milhões de anos atrás, no período Cretáceo, e outro surto após a extinção dos dinossauros.

Esse ritmo evolutivo rápido ainda está em andamento, de acordo com os modelos da equipe de pesquisa.

Rabosky observa que as serpentes evoluíram relativamente rápido em comparação com os lagartos e continuam a fazê-lo. Ele atribui essa ‘explosão evolutiva’ contínua ao ritmo evolutivo acelerado das serpentes, que lhes permite se adaptar rapidamente a novas oportunidades.

Uma cobra-verde (Oxybelis fulgidus) no Brasil — uma espécie que se adaptou para se alimentar de sapos, lagartos e pássaros. (Crédito da imagem: Ivan Prates, Universidade de Michigan)

As serpentes demonstraram uma adaptabilidade notável ao mudar sua forma corporal e dieta rapidamente. O salto inicial no sucesso evolutivo delas acredita-se ter começado com o desenvolvimento de corpos sem membros, crânios flexíveis e capacidades avançadas de detecção química.

Essas adaptações permitiram que elas se alimentassem de uma ampla variedade de animais, estabelecendo a base para uma maior especialização. Pesquisas anteriores de 2021 indicam que, após a extinção dos dinossauros, as serpentes evoluíram rapidamente novas adaptações para prosperar em um mundo cada vez mais dominado por mamíferos.

Contudo, a razão por trás do relógio evolutivo acelerado das serpentes permanece um mistério. Rabosky admite que isso ainda é um enigma não resolvido em sua pesquisa, afirmando que encontrar respostas muitas vezes leva a novas perguntas na ciência.

Ele especula que as serpentes provavelmente continuam se adaptando e evoluindo rapidamente, sem sinais de desaceleração desse ritmo evolutivo. Rabosky espera que as serpentes continuem desenvolvendo novos estilos de vida, projetando essa tendência para o futuro. [Live Science]

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