Aldeia indonésia ainda caça baleias com barcos a remo e arpões

Por , em 3.05.2015

A caça comercial de baleias foi proibida em 1986, mas ainda há poucos lugares no mundo onde esses animais são visados, como na aldeia remota da Indonésia, Lamalera.

Com 2.000 habitantes, os lamaleranos usam métodos tradicionais, como arpões e cordas, para capturar baleias cachalotes. Caso você já tenha lido Moby Dick, saiba que sua impressão é verdadeira – essa caça é algo realmente perigoso.

O escritor e explorador Will Millard passou um mês em Lamalera e assistiu a uma dessas caças. Segundo ele, é “horrível” de ver como um ocidental com ideais de conservação, mas, ao contrário da caça em escala industrial, onde os animais são facilmente capturados a um nível insustentável, Millard sente que a caça indonésia é, pelo menos, uma luta justa.

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Lama fa

Após uma baleia ser avistada, há uma corrida louca até ela. O primeiro barco a arpoá-la fica com a melhor porção do animal. Na frente de cada navio fica um “lama fa”, o principal arpoador.

Essa é uma profissão respeitada que exige muitos cuidados. Um lama fa deve ser focado e não pode se distrair. Millard relata que um decidiu não participar da caçada, por exemplo, porque havia discutido com sua esposa na noite anterior.

“Se você tem qualquer tipo de problema em casa, qualquer tipo de negatividade ou pensamento negativo, não está autorizado a ir para o mar”, diz ele. “Há muita superstição envolvida”.

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Os perigos da tradição

Enquanto os métodos de caça são semelhantes à atividade baleeira ocidental no século 19, a relação dos lamaleranos com o mar é bastante diferente. Um barco a motor os leva até as baleias, mas, uma vez que elas são avistadas, a tradição exige que eles usem seus próprios meios – ou seja, remem – em direção a sua caça.

No momento certo, o lama fa pula na água, usando a força de seu próprio peso corporal e a ponta do ferro do arpão para perfurar a pele grossa da cachalote. Se for bem sucedido, o barco será conectado à baleia por uma corda ao final do arpão. Ela pode tentar mergulhar fundo para escapar, colocando o barco e toda sua tripulação em perigo.

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As baleias podem levar horas para se cansar, mesmo depois de ser atingidas com vários arpões. “É basicamente um jogo de espera, um muito perigoso”, conta Millard. “As pessoas são arrastadas no mar por noites inteiras. Houve exemplos de caras que quase chegaram em Timor [cerca de 120 km de distância] e comeram suas próprias roupas para sobreviver”. O animal também pode destruir totalmente o barco. Uma vez, uma equipe de lamaleranos precisou nadar 12 horas para voltar a segurança.

Quando a caça finalmente está cansada demais para continuar lutando, alguém pula na água e corta sua medula espinhal.

Consumo e legalidade

A baleia é levada de volta para a praia, e homens e mulheres tiram sua gordura e a dissecam – todas as partes do animal são aproveitadas, das costelas ao coração.

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Uma baleia pode produzir carne suficiente para alimentar toda a comunidade. Durante a temporada de caça, que dura vários meses, podem se passar semanas entre as capturas. Ou, no caso da viagem de Millard, muitas podem ser mortas em uma única caça.

Lamaleranos são autorizados a caçar baleias porque são considerados aborígenes que caçam para subsistência pela Comissão Baleeira Internacional. Isso significa que eles só matam os animais para seu próprio consumo e para a permuta com outras aldeias. Além disso, cachalotes não são tão ameaçadas quanto outras espécies de baleia.

Mas o futuro da prática na aldeia não é claro – muitos dos lama fa mais talentosos estão envelhecendo, e a sobrepesca na região poderia limitar a oferta de alimentos que traz as baleias a Lamalera tão regularmente.

Além de baleias

Lamaleranos também caçam raias e outros peixes grandes além dos níveis de subsistência, ou seja, para vender.

Por mais que a aldeia tenha aguentado firme em suas tradições até hoje, o mundo exterior está chamando – o local foi ligado por uma estrada uma década atrás, e as pessoas se tornaram conscientes do fato de que há uma existência mais fácil em uma economia de dinheiro. “É óbvio que é uma maneira muito mais segura de ganhar a vida”, explica Millard. [BBC]

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