Corrente Gigante da Coma: Um Rio Estelar Inédito no Espaço Intergaláctico

Por , em 3.12.2023
A tênue Corrente Gigante de Coma (faixa preta no centro), fluindo entre galáxias. (Telescópio William Herschel/Román e outros)

Uma descoberta astronômica extraordinária foi feita recentemente: um imenso rio de estrelas, agora conhecido como Corrente Gigante da Coma, foi observado fluindo através do espaço intergaláctico em um aglomerado de galáxias situado a cerca de 300 milhões de anos-luz de distância da Terra. Este fenômeno estelar estende-se por aproximadamente 1,7 milhões de anos-luz, tornando-se a maior estrutura do tipo já registrada. Além disso, é a primeira vez que uma corrente estelar é vista fora de uma galáxia, o que aumenta seu caráter excepcional.

A presença de uma corrente estelar em um aglomerado de galáxias, um ambiente caracterizado por intensas forças gravitacionais e dinâmicas complexas, é uma surpresa para os astrônomos. Esses fluxos de estrelas são considerados frágeis e não se esperava que sobrevivessem por muito tempo nesse contexto. No entanto, essa descoberta oferece uma oportunidade única para estudar mais profundamente os aglomerados de galáxias e a misteriosa matéria escura que neles reside.

Javier Román, um astrofísico observacional vinculado à Universidade de Groningen, na Holanda, e à Universidade de La Laguna, na Espanha, expressou seu entusiasmo com a descoberta. Ele mencionou que a detecção da Corrente Gigante da Coma foi um acontecimento fortuito, ocorrido enquanto sua equipe estudava as halos estelares ao redor de grandes galáxias.

Correntes estelares, como a Corrente Gigante da Coma, são comuns na Via Láctea. Acredita-se que sejam remanescentes de aglomerados globulares densos de estrelas, desintegrados pelas forças de maré da nossa galáxia. O desafio de identificá-las reside na dificuldade de medir as distâncias das estrelas, somado ao fato de que essas correntes são bastante tênues.

No espaço intergaláctico, essa tenuidade torna ainda mais difícil a detecção de associações fracas de objetos, especialmente quando comparadas à luminosidade de outros corpos celestes. Entretanto, avanços recentes em tecnologia de telescópios e técnicas analíticas têm permitido a identificação de mais objetos pouco luminosos, como é o caso da Corrente Gigante da Coma.

A descoberta foi feita enquanto Román e sua equipe utilizavam o Telescópio Jeanne Rich de 0,7 metros e o Telescópio William Herschel de 4,2 metros para investigar estruturas tênues dentro do Aglomerado de Coma, um conjunto que contém milhares de galáxias conhecidas. O foco inicial do estudo estava nas halos galácticas – regiões esféricas difusas compostas por estrelas dispersas e matéria escura que circundam os planos povoados das galáxias.

De forma inesperada, os dados revelaram uma extensa faixa de estrelas, que não estava contida dentro de uma única galáxia, mas sim estendendo-se entre várias galáxias do aglomerado. Esta faixa é notavelmente diferente dos filamentos frágeis da teia cósmica que conectam as galáxias dentro dos aglomerados. Ela se assemelha mais às correntes estelares encontradas na Via Láctea, porém em uma escala muito mais grandiosa.

Apesar de sua aparência tranquila e imensa, os aglomerados de galáxias são ambientes gravitacionalmente caóticos, com os objetos massivos interagindo intensamente uns com os outros. A sobrevivência de uma corrente estelar nesse tipo de ambiente é algo inusitado, mas essa peculiaridade oferece pistas sobre a origem da corrente. Simulações realizadas pelos pesquisadores sugerem que tais correntes podem se formar em um aglomerado de galáxias a partir de uma galáxia anã desmembrada pela gravidade das galáxias maiores.

Em termos cósmicos, uma estrutura como essa não é esperada que dure muito tempo. Contudo, estamos em um momento privilegiado na história do universo, onde a tecnologia atual nos permite testemunhar essa estrutura enquanto ela continua a se desintegrar.

Esse achado é vital para estudos futuros, especialmente para entender a matéria escura em aglomerados de galáxias. A Corrente Gigante da Coma também indica a possibilidade de encontrar estruturas semelhantes em outros aglomerados. Os pesquisadores, incluindo o astrônomo Reynier Peletier, também da Universidade de Groningen, esperam usar telescópios maiores para investigar mais de perto essas enormes congregações de galáxias e descobrir outros segredos que ainda podem estar ocultos.

Eles também almejam analisar mais detalhadamente a própria Corrente Gigante da Coma. “Gostaríamos de observar estrelas individuais na corrente e nas proximidades para aprender mais sobre a matéria escura”, afirma Peletier, ressaltando o desejo de desvendar mais mistérios cósmicos com a ajuda de tecnologias de observação avançadas. [Science Alert]

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