Fazer remédios contra o câncer custa bem menos do que as companhias farmacêuticas nos levam a acreditar

Por , em 12.09.2017

Pesquisar, desenvolver e testar clinicamente novas drogas para tratar condições como o câncer é um processo longo e rigoroso, sem dúvida.

No entanto, um novo estudo afirma que os custos financeiros desse processo podem ser dramaticamente menores do que as empresas farmacêuticas nos levam a pensar.

Um número frequentemente usado pela indústria farmacêutica, que até já foi referenciado pelo presidente americano Donald Trump, é de US$ 2,7 bilhões para trazer uma nova droga para o mercado.

A nova análise sugere que esse valor é muito maior do que o necessário para desenvolver um medicamento. “Os custos [finais] desses medicamentos são, em muitos casos, prejudiciais aos pacientes e não são justificados por gastos com pesquisa e desenvolvimento”, disse um dos autores da pesquisa, o oncologista Vinay Prasad, da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon (EUA).

O verdadeiro número

Os pesquisadores analisaram documentos da US Securities and Exchange Commission sobre dez medicamentos contra o câncer, e descobriram que o custo médio do desenvolvimento destes medicamentos foi de US$ 648 milhões.

Embora não seja pouco, é apenas uma fração do valor absurdo de US$ 2,7 bilhões que as empresas farmacêuticas usam para justificar os preços caros de seus remédios.

As drogas envolvidas no estudo não geraram lucros rápidos, tendo um tempo mediano de 7,3 anos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), mas o esforço foi bem-sucedido, trazendo US$ 67 bilhões em receita para as empresas, em média, após quatro anos de vendas, a partir de despesas com P&D de US$ 7,2 bilhões no total.

Os pesquisadores dizem que a discrepância “extremamente lucrativa” precisa ser reconhecida pelos pacientes, e esperam que o seu estudo sirva como um alerta para o setor de saúde em geral.

Reservas

Os cientistas reconhecem que sua pequena amostra pode não ser necessariamente considerada representativa da indústria em geral.

Para se concentrar em como os gastos com P&D contrastam com os lucros, a equipe estudou principalmente empresas relativamente pequenas que estavam trazendo uma única droga para o mercado.

Em outras partes do setor de saúde, onde corporações maciças controlam e financiam inúmeros projetos de pesquisa que visam vários candidatos a drogas, a história pode ser diferente.

De acordo com Daniel Seaton, porta-voz da Organização de Inovação de Biotecnologia dos EUA, 95% dos medicamentos contra o câncer que entram em ensaios clínicos falham – perdas que devem ser repostas pelos medicamentos rentáveis que acabam sendo comercializados.

“O pequeno punhado de drogas bem-sucedidas – aquelas analisadas por este artigo – deve ser rentável o suficiente para financiar todas as muitas falhas que esta análise não examinou”, disse Seaton.

Ainda assim…

Como a indústria farmacêutica nem sempre revela claramente quanto gasta no financiamento das drogas que cria, é difícil determinar uma estimativa mais abrangente.

O valor de US$ 2,7 bilhões veio de um estudo de 2016 realizado pela Universidade Tufts (EUA) que analisou mais de 100 medicamentos, mas os pesquisadores não estavam focados em drogas contra o câncer, e a pesquisa – que recebeu financiamento da indústria farmacêutica – não revelou quais drogas realmente estavam sendo analisadas.

Até que um meio termo possa ser alcançado e mais dados sejam divulgados pelas maiores empresas do setor de saúde, talvez não seja possível fazer uma melhor avaliação – mas o novo estudo certamente ajuda a alimentar o debate sobre os custos de medicamentos, o que não é nada ruim.

“Nós temos que mostrar que queremos que as drogas sejam acessíveis, com lucros justos e custos de P&D divulgados com sinceridade”, afirma Prasad.

A pesquisa foi relatada na revista científica JAMA Internal Medicine. [ScienceAlert]

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