Deitada ou em movimento: qual a chave para uma gravidez saudável?

Por , em 16.02.2024

Três estudos independentes (Resumos 1101, 1079 e 944), apresentados na reunião de 2024 da Sociedade de Medicina Materno-Fetal, realizada em 14 de fevereiro, ressaltam a importância da atividade física durante a gravidez. Estas pesquisas revelam o impacto positivo do exercício em diversos aspectos da saúde, incluindo a diminuição de sintomas de depressão e ansiedade, além de reduzir a probabilidade de partos cesáreos.

Danielle Panelli, médica da Stanford Medicine Children’s Health e professora na área de Medicina Materno-Fetal na Universidade de Stanford, destacou uma mudança significativa nas diretrizes de cuidados durante a gravidez. Ela lembra que, há mais de duas décadas, a recomendação frequente era o repouso absoluto. Hoje, a orientação do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas é que as grávidas pratiquem pelo menos 150 minutos de exercícios moderados ou 75 minutos de atividades intensas por semana.

No estudo de Panelli e sua equipe, foi analisada a relação entre atividade física e ansiedade em três grupos de grávidas: 20 pacientes de clínicas obstétricas de baixo risco, 20 de clínicas de alto risco e 19 internadas. Usando acelerômetros, as participantes tiveram sua atividade física monitorada por até uma semana. Os principais aspectos avaliados foram a quantidade média de passos diários, além de tarefas de equivalência metabólica (METs), atividade física de moderada a vigorosa (MVPA) e níveis de ansiedade, medidos pelo Inventário de Ansiedade Estado-Traço.

Os resultados mostraram que as pacientes de clínicas de baixo risco davam em média 9090 passos por dia, contra 8898 das de alto risco e 6493 das internadas. Estas últimas apresentaram também METs e MVPA significativamente menores. Ao longo de uma semana, a contagem de passos diminuiu para as pacientes internadas, mas se manteve estável para os outros grupos. Observou-se ainda uma correlação entre menor número de passos e maiores índices de ansiedade.

“Esses resultados ressaltam a necessidade de intervenções de atividade física, especialmente para grávidas hospitalizadas”, sugere Panelli, propondo atividades simples como caminhadas pelos corredores do hospital.

Outra pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade do Alabama em Birmingham, examinou o efeito da atividade física sobre a depressão periparto. O estudo analisou dados do nuMoM2b, envolvendo mulheres grávidas de primeira viagem com pelo menos uma comorbidade médica, como hipertensão crônica ou asma. Foram revisados registros de atividades físicas submetidos em três diferentes fases da gravidez.

O estudo indicou que a prática regular de atividades físicas estava associada a uma redução de 15% na probabilidade de pontuação acima de 10 no Escore de Depressão Pós-Natal de Edimburgo (EPDS), sugerindo menores riscos de depressão. No grupo ativo, 9% tiveram pontuação acima de 10 no EPDS, em comparação com 12% no grupo menos ativo. Não foram observadas diferenças significativas na mudança do EPDS ou no tratamento para depressão perinatal com base no nível de atividade física. Charlotte McCarley, médica que liderou o estudo, destacou que “um dos achados interessantes é que não observamos sinais de alerta [com o exercício], então não houve aumento em restrição de crescimento fetal suspeito, baixo volume de líquido amniótico, nascimento pré-termo ou baixo peso ao nascer nos indivíduos ativos”.

Em um terceiro estudo, pesquisadores do Campus de Saúde Rambam em Haifa, Israel, investigaram o efeito da atividade física no método de parto. O estudo incluiu 401 mulheres com gestações únicas que visavam partos vaginais e utilizaram aplicativos de celular para monitorar os passos diários. A pesquisa ajustou os resultados considerando idade, índice de massa corporal, histórico médico e obstétrico.

Os pesquisadores observaram uma diminuição na atividade física conforme a gravidez avançava, com uma incidência geral de parto cesáreo de 10,5%. Contudo, mulheres mais ativas durante a gravidez apresentaram uma incidência significativamente menor de partos cesáreos. Uma análise de área sob a curva ROC indicou uma redução de 78% na taxa de cesáreas para aquelas que ultrapassaram 2093,5 passos diários.

Além disso, as pacientes mais ativas tiveram menos complicações como diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia; menor uso de analgesia epidural durante o trabalho de parto; e menos hemorragias pós-parto. O estudo não encontrou impacto significativo em nascimentos prematuros, induções de trabalho de parto, peso neonatal ou admissões em unidades de terapia intensiva neonatal.

Os pesquisadores concluíram que “manter um estilo de vida ativo durante a gravidez deve ser fortemente incentivado”. [Med Scape]

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