Descendentes vivos dos cananeus bíblicos são identificados via DNA

Por , em 30.07.2017

Vários indivíduos cananeus foram enterrados em grandes jarros de argila

Segundo uma nova pesquisa, mais de 90% da ascendência genética dos libaneses modernos é derivada dos antigos cananeus.

Os cientistas conseguiram sequenciar o genoma cananeu a partir dos restos de cinco indivíduos enterrados na ancestral cidade portuária de Sidon (Saïda, no Líbano moderno), cerca de 3.700 anos atrás. Os resultados foram comparados com o DNA de 99 residentes libaneses modernos.

O estudo foi publicado na revista científica American Journal of Human Genetics.

História

De acordo com os resultados, a ascendência cananeia é uma mistura de populações indígenas que estabeleceram o Levante (uma região abrangendo grande parte da Síria moderna, do Líbano, da Jordânia, Israel e dos territórios palestinos) há cerca de 10 mil anos, com migrantes que chegaram do leste entre 6.600 e 3.550 anos atrás.

Um elemento eurasiático foi adicionado a essa combinação entre 1800 e 200 aC, um período tumultuado que viu o colapso da Idade do Bronze e o advento da Idade do Ferro, a época em que a maioria dos estudiosos acredita que a Bíblia foi escrita.

Os relatos bíblicos geralmente descrevem os cananeus como inimigos dos primeiros israelitas, que eventualmente conquistaram o seu território e exterminaram ou subjugaram seu povo.

Os arqueólogos, no entanto, identificam os cananeus como uma coleção de tribos de diversas etnias que aparecem no Levante no começo do segundo milênio aC.

Ao longo dos séculos, eles habitaram, em várias ocasiões, cidades-estados independentes ou estados sob controle egípcio, e sua presença é registrada em cartas de governantes da Idade do Bronze no Egito, Anatólia, Babilônia e outros lugares da região.

Saïda

Desaparecimento

Apesar da enorme insurreição cultural e política no Mediterrâneo oriental, no final da Idade do Bronze, no século XII, a presença cananeia persistiu na região, principalmente nas poderosas cidades portuárias ao longo da costa, onde eles eram conhecidos pelos gregos como fenícios.

Nenhuma evidência arqueológica para a destruição generalizada dos assentamentos cananeus descritos na Bíblia foi identificada, e muitos estudiosos acreditam que os israelitas, que aparecem ao redor do início da Idade do Ferro, podem ter sido originalmente cananeus.

Aprendendo mais

O novo estudo é notável por conta da dificuldade em sequenciar genoma tão antigo. A obtenção de DNA de restos humanos encontrados na região é difícil, já que o calor e a umidade são problemas para sua preservação.

Muitas das amostras testadas vieram de esqueletos enterrados em jarros perto da costa do mar em Sidon, uma grande cidade-estado cananeia/fenícia que eventualmente foi conquistada por Alexandre, o Grande em 332.

Enquanto os pesquisadores ficaram surpresos com o nível de continuidade genética entre os cananeus antigos e os libaneses modernos, mesmo depois de cerca de 4.000 anos de guerra, migração e conquista na área, eles advertem que não devemos tirar muitas conclusões sobre a história antiga com base apenas em dados genéticos.

“As pessoas podem ser culturalmente semelhantes e geneticamente diferentes, ou geneticamente similares e culturalmente diferentes”, disse Chris Tyler-Smith, um dos autores do estudo, do Wellcome Trust Sanger Institute.

O arqueólogo Assaf Yasur-Landau, codiretor do Projeto Arqueológico de Tel Kabri, que está escrevendo um livro sobre os cananeus, concorda. “Os cananeus ainda são um grande mistério para nós, então todo estudo – seja em genética, cultura, economia, religião ou política – é algo que trará fatos tremendamente importantes sobre a composição do mundo bíblico do primeiro milênio”. [NatGeo]

1 comentário

  • Creusa Ribeiro Matuda:

    Que coisa magnífica ,amo este tema da arqueologia ,QTO tempo se passaram e ainda temos as descobertas , MARAVILHOSO

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