Descoberta revolucionária: Como os folículos capilares detectam o toque

Por , em 3.11.2023
Sebastian Kaulitzki/Science Photo Library/Getty Images

Um estudo recente revelou um mecanismo inédito pelo qual nossa pele percebe toques leves, trazendo novos insights sobre nossas capacidades sensoriais. Anteriormente, acreditava-se que as sensações eram transmitidas exclusivamente por terminações nervosas na pele e nas proximidades dos folículos capilares.

Pesquisadores do Imperial College London, no Reino Unido, lideraram essa investigação. Eles empregaram uma técnica de sequenciamento de RNA e fizeram uma descoberta significativa em relação às células em uma parte dos folículos capilares chamada bainha radicular externa (ORS, na sigla em inglês). Essas células ORS foram encontradas com uma proporção maior de receptores sensíveis ao toque em comparação com células equivalentes na pele.

Células dos folículos capilares antes (esquerda) e após (direita) a estimulação. (Agramunt et al., Science Advances, 2023)

Em seus experimentos, a equipe de pesquisa cultivou células humanas de folículos capilares junto com nervos sensoriais. Quando essas células de folículos capilares foram submetidas à estimulação mecânica, os nervos sensoriais próximos foram ativados, indicando o registro da sensação de toque.

Além disso, o estudo revelou que as células ORS liberavam neurotransmissores, como serotonina e histamina, por meio de pequenas vesículas, que serviam como um mecanismo de sinalização para células próximas. Parastoo Hashemi, uma engenheira neural do Imperial College London, expressou entusiasmo com essas descobertas, que levantam questões intrigantes sobre o papel dessas células e sua contribuição para a capacidade da nossa pele de sentir o toque.

Os mecanorreceptores são células nervosas especializadas responsáveis pela nossa sensação de toque, abrangendo sensações que vão desde brisas suaves até pressão firme. Neste caso específico, as células dos folículos capilares exibiram uma interação única com mecanorreceptores de baixo limiar (LTMRs), que são sensíveis a toques delicados.

Um folículo capilar humano (rosa) cercado por uma terminação nervosa sensorial (verde). (Julia Agramunt)

Embora a importância dos pelos corporais na percepção do toque já fosse reconhecida, este estudo descobriu uma interação biológica mais complexa entre as células ORS e LTMRs, que vai além de uma simples resposta mecânica. No entanto, a pergunta fundamental do “por quê” permanece sem resposta.

Claire Higgins, uma bioengenheira do Imperial College London, considera essa descoberta surpreendente e pretende investigar por que as células dos folículos capilares desempenham um papel no processamento do toque leve. Dado o grande número de terminações nervosas sensoriais nos folículos, os pesquisadores agora pretendem determinar se os folículos capilares ativam tipos específicos de nervos sensoriais para um mecanismo ainda desconhecido, mas distintivo.

Além disso, é digno de nota que experimentos semelhantes realizados com células da pele, em vez de células dos folículos capilares, mostraram liberação de histamina, mas pouca serotonina. Isso sugere uma função distinta das células ORS.

Considerando o papel significativo da histamina em várias condições inflamatórias da pele, incluindo a eczema, uma exploração adicional de como os folículos capilares detectam o toque poderia potencialmente levar a tratamentos aprimorados e estratégias preventivas. Claire Higgins enfatizou as possíveis implicações para a pesquisa em eczema, destacando o novo papel das células da pele na liberação de histamina.

Este estudo oferece uma visão fascinante do funcionamento interno dos folículos capilares e sua influência na nossa capacidade de sentir o toque. A descoberta de que as células ORS desempenham um papel crucial na ativação de mecanorreceptores de baixo limiar abre um campo de pesquisa empolgante para desvendar os segredos dessa sensação tão fundamental para nossa interação com o mundo.

Embora os pesquisadores tenham feito progressos significativos, a pergunta sobre por que essas células têm esse papel específico na detecção de toque ainda permanece sem resposta. Entender a função exata das células ORS nesse processo pode potencialmente levar a avanços no tratamento de doenças de pele, como o eczema, e até mesmo em áreas como a neurociência e a medicina regenerativa.

A pesquisa também destaca a complexidade surpreendente do nosso sistema sensorial e como ele continua a revelar segredos fascinantes sobre o funcionamento interno do nosso corpo. À medida que a ciência avança, podemos esperar que mais descobertas emocionantes sobre nossa percepção sensorial surjam, lançando luz sobre os mistérios do nosso mundo sensorial. [Science Alert]

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